JONAS PULIDO VALENTE
A luz espelhava uma cidade escura. Com eléctricos nas vias principais e segundos andares de autocarros apertando-se onde podiam. Se passa um andar, porque não pôr um segundo? A mesma lógica foi usada para as camas nas pousadas. Pousadas à frente de pubs com nomes de terras do norte, ilhas vulcânicas separadas do continente, e de animais. Por esses lugares encontram-se pessoas que se aquecem, que falam com o banco do lado, provavelmente ocupada pela outra metade da população, os que agem da seguinte forma: Estou neste mundo, involuntariamente ou não vou ter que participar nele, então porque não ficar no canto designado?
Por cá e por lá se vê Edimburgo, na sua ausência de bancos nas ruas, no entanto se se descer o vale há por muitos espalhados nos jardins. Quero candidatar-me a Presidente dos bancos de jardim de Edimburgo. Quando há Sol, há pessoas, e quando há pessoas, há festivais. Procura-se uma figura rara, a da ruiva sardenta, ou loira pálida, ou de olhos de avelã, ou alguém de emprego de meio dia para a curadoria da capital. Alguém que, pela sua presença, prenda o movimento à sua volta, uma celta das Hébridas, cuja beleza torne imortal a sua cidade de Edimburgo, um sítio melhor para se estar. Sem falar de todos os que vieram completar o puzzle, os que em tempos se distinguiam pelas suas vestes, e agora pelo seu tipo de sapato. Os escoceses também se distinguiam pelas suas vestes, matavam-se pelas suas vestes, hoje partilhando o seu destino com vários vizinhos, bebendo nos cantos das suas cidades basálticas, braço a braço com o seu gerente bancário e com um homem que grita para quem lhe grita, outra sombra nas suas vielas.
Nota Sobre a Poluição Acrílica
Deslizando num sentido, a paisagem urbana oferece-se a si mesma. Perfis e poses feitas para o consumidor invadem as vitrines. Aqui e ali vê-se um sinal de néon, uma loja de fritos, um bar fundo.
Então celebremos, compremos bilhetes, encontremos o prazer em casas de banho assinaladas por algo. Comer fish’n chips com molho de vinagre num bloco de betão atrás da estrada, entrar em todo o lado. Ver corpos e promessas, igrejas fechadas, museus com marcação.
Aí somos muito, somos transaccionáveis, interagimos por ressalto.
Que fará o diletante de óculos escuros num bar de luses acesas, falando por encomenda com o segurança de sotaque serrado e a rapariga amável que o percebeu e o tentou ajudar? Ficará em pânico quando perceber que existe uma sala escura para quem pise a risca?
Ser barrado numa arcada de jogos pelas calças informais é mau, causar uma cena hiperbólica num restaurante pode ser considerado pior. Deslizar pelas promenades é melhor do que fugir de alguém.
Ao tentar dormir por cima de cânticos futebolísticos é que se percebe a diferença entre solidão e solitude. De manhã estamos em solitude, à tarde ao tentamos agarrar-nos a algo no meio da maré estamos ocupados, à noite cai a mais descomprimida solidão.