Os editores de Mário Domingues

 

MANUEL RODRIGUES VAZ
Os editores de Mário Domingues: Amizades e Cumplicidades


  • Palestra lida no Restaurante O Pote, em Lisboa, no dia 15 de Fevereiro de 2023, no âmbito do ciclo de Palestras da Tertúlia À Margem

Numa época como a que atravessamos, em que a Internet parece querer dominar e monopolizar tudo e especialmente o livro, o papel do editor à maneira antiga, como agente cultural, colaborando estreitamente com o autor, nos vários aspectos da criação do livro, e apoiando-o de variadas formas, está praticamente a chegar ao fim.

A questão que vamos focar, que se poderia chamar, desde já, o “Caso Mário Domingues”, pelo volume da sua produção e pela sua diversidade e importância, é bem o exemplo da vantagem da existência de editores que souberam sê-lo integralmente, contribuindo, com o seu esforço e vontade de servir a cultura, para que talentos tivessem desabrochado mais visivelmente, embora depois tenham caído no esquecimento. Pode dizer-se que, no caso deste escritor de origem africana, os seus editores funcionaram sempre ao nível a amizade e da cumplicidade, o que lhe abriu portas que, de outra maneira, ficariam sempre fechadas.

Como bem assinalou recentemente o sociólogo José Luís Garcia, «De ideias ousadas, Mário Domingues já defendia a independência das colónias em 1920», lembrando depois que «O mérito de Mário Domingues deve-se ao seu humanismo e ao facto de ter tido a coragem de assumir posições políticas antecipatórias, ainda durante a primeira República, em prol da defesa dos trabalhadores negros, não só nas antigas colónias portuguesas em África, como na então chamada Metrópole».