O Parque de Nova Sintra e a lembrança do «Avatar»

 

MARIA ESTELA GUEDES
Dir. Triplov


O Parque de Nova Sintra é um dos mais aprazíveis e deslumbrantes jardins do Porto. Segundo a Wikipédia, que lhe dá o nome de Parque das Águas, «ocupa cerca de um terço das actuais instalações da sede da Águas do Porto, E.M., correspondendo ao antigo bosque e mata da Quinta de Vilar das Oliveiras, propriedade, até 1922, da família de Robert Reid».

Podemos pegar num lanchinho e ir comê-lo ali, olhando para o Douro, podemos debruçar-nos dos varandins para ver passar os comboios que entram na estação de Campanhã, podemos namorar, admirar tudo, fazer compras no mercadinho, podemos inscrever-nos nas atividades de pintura, apenas passear, levar as crianças a brincar com o que diz respeito às árvores.

Num bosque, natural é haver árvores velhas e novas, intactas e cortadas, folhas, cascas, toros. Mas não da maneira como foram dispostos no jardim de Nova Sintra, a recordar Alberto Carneiro, artista recentemente falecido, bem conhecido pela land art. No caso, ele fundava as suas obras, ou pelo menos as mais notáveis, em troncos de árvore. Aliás a arte ecológica não lembra só Alberto Carneiro, também me trouxe à mente o filme «Avatar», de James Cameron, que é um hino à floresta, com os seus seres humanóides arborícolas e Mãe Árvore, deusa de que pendem colares, e a quem os crentes rezam entrando em interação com estes “rosários”. Deixo-vos um poema meu integrado num livro ainda inédito, Conversas com Federico García Lorca, sobre a árvore sagrada:

Avatar 3D (DLP)

Do bilhete resta o canhoto

Tão preciso e científico – 7:00 pm

Fri 1/29/2010 Seat B2.

A memória do monumento.

Mais do que recordação, Federico,

É referência

Ao objetivo lugar de convivência com o sagrado:

AMC – W Broadway Av.

Aqui passaste duas horas de encantamento.

Tal como na caverna existem cérebros

Virtuais, que aspiram à realidade das ideias,

Assim dentro de cápsulas sonha gente

Com a floresta e seus seres arborícolas.

Não fazes ideia, Federico! É mais alta

Que o Empire State Building

A Árvore Sagrada,

Causa vertigens olhar para baixo.

Todos lhe prestam louvor

E rezam, agarrados a cordões cor-de-rosa,

Elevadores de preces

Dos amantes de Gaia.

No Parque das Águas nota-se um cuidado artístico na disposição e objetivo dos materiais arbóreos. Land art ou arte ecológica pode chamar-se. Suponho que os responsáveis pela instalação tenham sido os arquitetos paisagistas que deram nova alma ao jardim, a saber: Teresa Marques, Cristina Marques e Gonçalo Andrade, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, e também Mário Mesquita, professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto.

Rescendente a eucalipto, entre outras árvores majestáticas, eucalipto de barbas brancas, cuja nobreza não se confunde com a dos eucaliptais plantados nas últimas décadas, o jardim é um regalo para as narinas, um refrigério para o espírito e um encantamento para as crianças. É o que espero mostrar nesta breve reportagem fotográfica.

 

As crianças aprendem a ser arquitetas, construindo casas com a casca dos eucaliptos.
Quem se senta nos bancos diante da árvore fica com a árvore na frente, para a adorar, como os seres arborícolas de «Avatar».

O encantamento das crianças lembra o nosso hipotético passado arborícola.

 

 


Porto, 13/11/2021