EDNER MORELLI
Edner Morelli (Brasil). Mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP e atua como professor de Teoria da Literatura e Literatura em Língua Portuguesa. Líquido, seu quarto livro de poemas, foi lançado neste ano pela editora Penalux.
A AUTORA
Rachel Ventura Rabello nasceu no Rio de Janeiro em 1990. Autora do livro Em mãos (In media Res, RJ), é poeta, mestra em Teoria da Literatura e Literatura Comparada (UERJ) e professora. Triz é seu segundo livro de poemas.
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De início, não temos como passar desapercebido pelo título da obra Triz, de Rachel Ventura Rabello (Penalux, 2020), percebendo uma reunião de poemas que trazem um diálogo com nossa tradição lírica, bem ao gosto de um Bandeira ou Cecília. Triz nos remonta uma espectro de limite. Da autora? Do livro? A seguir esses versos são elucidativos: “vivo esperando o dia / enquanto / espero noite / não é agora / nunca gora / só depois”. A poetademonstra-se, destarte, essa marca da ideia de uma situação à beira, sempre em estrutura, de síntese, do vir-e-não vir, tão caro aos modernistas de 22. Será que o “triz” não se confunde com a voz poética? A autora dialoga explicitamente com a marca modernista da síntese, a saber: o verso preciso, a economia verbal e a imagem fragmentada; além do mais, a musicalidade peculiar, em algumas passagens, me lembrou de Eunice Arruda. A poeta tem como espectro a ideia do vocabulário que ora dialoga com a tradição, mas com outros contornos de subjetividades. É numa obra que engloba elementos de uma tradição da lírica bem os moldes de uma Ana Cristina Cesar (por que não?). Estamos diante de uma poeta antenada com a contemporaneidade e com a tradição. A saber, a verdade poética do enigma do tempo é uma verdade que dialoga com a primeira camada poética que salta aos olhos: a passagem do tempo e nossa pequenez diante desse fato, mas, depois de inúmeras leituras, percebemos estarmos diante de uma busca incessante entre o paradoxo temporal de estar presente com a sombra do quase não existir. Explicito: parece-me que a busca em toda a obra traz um certo ajustamento, ou não, com o tempo transcorrido, tempo esse que já faz parte de um atmosfera memorialista da própria autora. Vale ressaltar a condição de angústia, termo tão caro aos Filósofos. O triz, o quase existir, dialoga com o espaço temporal do eu poético, ou seja, o ambiente do triz aqui constitui pano arquitetônico da obra. Dito de outro modo: há nesses versos uma incessante busca de se encaixar no tempo e de entremear desilusões amorosas, metalinguísticas e um gostinho de desajuste. Quem nunca? Em alguns momentos o objeto de desejo do eu poético é um caminho sem volta do amor que se escapou, bem aos moldes da lírica medieval. A leitura dessa obra vale muito a pena por amalgamar a tradição lírica portuguesa aos ditames da pós-modernidade. E por que não um diálogo pós-moderno com a tradição? Aventuremos…
Triz, Rachel Ventura Rabello – poesia (76 p.), R$ 38 (Penalux, 2020).
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