O lirismo em cena e expansão

 

EDNER MORELLI


Edner Morelli é mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP e atua como professor de Teoria da Literatura e Literatura em Língua Portuguesa. Líquido, seu quarto livro de poemas, foi lançado neste ano pela editora Penalux.


Alesandra Lorena é jornalista pós-graduada em Marketing e Docência do Ensino Superior, trabalha desde 1992 como diretora de produção executiva de programas de TV educativos, esporte, entretenimento, institucionais, publicidade, cinema, teatro, shows e eventos de grande porte. É escritora e roteirista.

Logo no início, em Telhado de Palha, (Penalux, 2020), Alesandra Lorena deixa transparecer que os poemas que seguem são um reunião de data marcada, desde de 2006. Indo mais além, essas escritas se confundem com a biografia da autora, bem aos moldes dos românticos do século XIX. Já no poema Gardênias, que abre o livro, temos uma poeta em profunda entrega ao objeto amado: “Trouxe-lhe piadas / gargalhadas histéricas / o choro compulsivo / uma fome de beijos” e “muitas dores, desespero”. O poema segue finalizando bem ao gosto lírico do XIX: “Vou embora sozinha, sem as gardênias, de mãos atadas”. Ainda nesse poema de abertura encontramos uma busca frenética de entrega da voz poética, quem lerá vai perceber… O tom da obra é de um uma poeta com grande sensibilidade, em franca ascensão em definir seu estilo. Encontramos, no geral, um lirismo que a todo momento quer explodir. Em termos estéticos, ora encontramos um misto de versos longos, mas sem deixar de lado a concisão da lírica moderna, como em Vinhos: “Carmas / cores / vinhos. Tudo se completa / os tons da vida explicam-se. Todos se refletem”. Imagens semanticamente entrecortadas… Com mais de 130 poemas na obra, isso torna, ao meu ver, um peculiaridade. Creio que essa quantidade de poemas para um livro de estreia seja algo demasiado; no entanto, o caminho se fez assim, como todo estreante no fazer poético. Mesmo quando a voz poética se dedica ao tempo referindo-se ao objeto desejado, como no poema Tempo, o lirismo extravasa: “O tempo que te dedico é só teu / os beijos, carinhos e afagos / são teus por direito / e por dever doou-me a ti”. Com uma escapada temática aqui ou ali, o bojo desses poemas é uma tensão entre o eu poético e o objeto desejado, ora se esparramando nas imagens poéticas ora na síntese e no verso justo, muito bem arquitetado. Uma poeta em franca maturidade do verbo exato! Vale muito a atenta leitura do conjunto todo.

Telhado de palha, Alesandra Lorena – poesia
(156 p.), R$ 40 (Penalux, 2020).
Link para compra: 
https://www.editorapenalux.com.br/loja/telhado-de-palha