AIRES GAMEIRO
Em 1917, Nossa Senhora em Fátima apelou à penitência e à conversão a Jesus Cristo, o Filho de Deus e seu filho. O Anjo de Portugal em 1916 ensinou as três crianças a orar, a adorar Jesus na Eucaristia e a reparar. Nos seis meses das aparições, Maria insistiu na oração do rosário, nas crenças do Céu, Purgatório, Julgamento Final e Inferno, crenças que rezamos no “Pai Nosso” ensinado por Jesus no Evangelho. Em 13 de maio de 1917 a Virgem Maria perguntou aos pastorinhos: vocês querem oferecer a vossa vida a Deus (…) em reparação pelas ofensas a Ele e pela conversão dos pecadores? Disseram sim; oferecer a vida por Cristo é ganhá-la.
Hoje vivemos num ambiente espinhoso de pandemia do coronavírus e crises mundiais, alguns dos erros comunistas, e crises de fé. O nosso tempo desafia cristãos e católicos. Acho que os católicos estão no centro de uma turbulência de fé, mas também numa bela e luminosa esperança baseada em Jesus Cristo. Os tempos de São Tiago Menor, no século I, eram de alguma forma semelhantes aos nossos, hoje. Dois problemas fundamentais de fé tiveram que ser enfrentados: como se filiar à Igreja, o que acreditar primeiro e a que preço? Alguns eram judeus e cristãos, de cultura judaica (hebraica) que aderiram à fé cristã e mantiveram algumas práticas de sua cultura, como a circuncisão. Outros eram gentios. Esses gentios e pagãos vindos da cultura grega, romana e de outras culturas tinham que aceitar a religião judaica antes de ingressarem na fé cristã? Não, disseram Paulo e Barnabé; sim, disseram outros de cultura mosaica, até Pedro antes de batizar Cornélio (cf. Atos, 10). Era difícil decidir antes de assentar nas crenças cristãs essenciais. Na assembleia de Jerusalém, auxiliados pela sabedoria de Pedro, de São Tiago e outros, ficou claro que o cerne da fé cristã era acreditar que Jesus era o Filho de Deus, (Filho do Homem), receber o Espírito Santo e renunciar à idolatria e seus malefícios; e a seguir receber o batismo (cf. Atos, 14 e 15).
Hoje, surgem muitos problemas e crises de fé e moral cristã e alguns são semelhantes aos de outros tempos. Referem-se à fé e aos pecados opostos aos mandamentos do A. e N. T., pecados opostos às palavras de Cristo no Evangelho. Eles foram alistados por São Gregório, o Grande, como os sete pecados capitais. Infelizmente, hoje, alguns problemas da Igreja estão a aumentar em relação à Divindade de Jesus e ao valor das Suas palavras. Não se limitam ao chamado jargão de católicos não praticantes, alguns são práticas de vida idolátrica. Como podemos chamar de católicos aqueles que promovem o aborto e vão à comunhão, defendem o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e o divórcio do casamento católico, rendem-se à sodomia, ao abuso e ao tráfico de crianças e adultos?
No Concílio de Jerusalém, Pedro, Tiago, o menor, e outros apóstolos e presbíteros, de comum acordo, decidiram escrever aos gentios convertidos a Cristo, que já haviam recebido o Espírito Santo e acreditavam em Jesus Cristo ressuscitado, que evitassem a adoração de ídolos, os casamentos ilegítimos e outras práticas religiosas e rituais mosaicos secundários. Há uma certa idolatria no primeiro pecado capital, o orgulho, considerado a raiz de todos os outros seis por S. Gregório e São Tomás de Aquino. Atualmente, essa visão recebe força de alguns neurocientistas com base em estudos do cérebro. Rejeitar a idolatria é quase equivalente a rejeitar o orgulho, o narcisismo (egoísmo) e a autossuficiência como pretensão de ser deus ídolo de si mesmo. Acreditar em Jesus como o Filho de Deus é a principal condição para se tornar cristão. São Tiago, o sábio e justo, foi eleito há 500 anos e festejado como Padroeiro da Madeira contra as pestes. No ano 62, primeiro século, o mesmo santo teve que declarar perante o sumo-sacerdote Ananias se acreditava em Jesus Cristo (uma blasfémia para os judeus). Professou que Jesus era Filho de Deus, foi morto, e deu sua vida por Ele. Foi talvez apedrejado e espancado com um pedaço de pau. (cf Nuno Brás da Silva Martins, O Justo Bispo de Jerusalém. Quem foi S. Tiago Menor? 2021, pp.73-95). Portanto, a resposta essencial da fé cristã é dar a própria vida por Jesus (Deus); e não O negar para salvá-la. Assim fizeram os pastorinhos, os cristãos nos tempos difíceis do martírio e São Tiago menor. Como Jesus pediu aos seus seguidores e Ele fez por nós. Quase diariamente, outros cristãos dão a vida, hoje, no martírio, em diversos países, pela sua fé cristã.
Funchal, 9 de maio de 2021
Aires Gameiro