REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


NS | número 59 | julho-agosto | 2016

 






Nicolau Saião (Portugal). Poeta, publicista, actor-declamador e artista plástico. Efectuou palestras e participou em mostras de Mail Art e exposições em diversos países. Livros: “Os objectos inquietantes”, “Flauta de Pan”, “Os olhares perdidos”, “Passagem de nível”, “O armário de Midas”, “Escrita e o seu contrário”.       
 
NICOLAU SAIÃO

“Aire, fuego e deseo”
 
«Atrévete»
(Poesía de Juan Carlos García Hoyuelos interpretada por Santxo)

https://www.youtube.com/watch?v=gDWDYbH3z_g
 
 
Confrades amigos/as  

   Juan Carlos Garcia Hoyuelos, poeta espanhol nascido em Basauri (Vizcaya) em 1968 e residindo em Burgos, tempo atrás meteu ombros a um projecto chegado há dias a bom porto: dar a lume uma antologia, acompanhada de um CD protagonizado por trinta e três cantores destacados - de qualidade, seria melhor dizer, de Gonçalo Salgueiro a Liliana Benveniste, de Filipe Gonçalves a Gabriel Moreno... - dando corpo ao seu poemário "Aire, fuego y deseo" com traduções em todas as línguas faladas na Ibéria.
   Fui um dos tradutores para a língua lusa. A par de confrades como Maria Estela Guedes, João Rasteiro, Sónia Bettencourt, Carlos Nogueira Fino, Gabriela Rocha Martins, Luís Reis, Zilda Joaquim, Xavier Zarco, Inês Ramos e José Viale Moutinho.  
   Tanto quanto é de minha informação, a obra tem sido extremamente bem recebida nas diversas Feiras do Livro havidas em Espanha, estando previsto o seu futuro lançamento em diversas cidades portuguesas.
    Para dois minutos de eventual leitura, aqui vos deixo os 3 poemas que tive o gosto de verter para a nossa língua.
   Vai, com a estima de sempre, o abraço estival com desejos de magnificente Verão do 

   ns


APROXIMA-TE, SEJA COM A VERDADE OU COM A MENTIRA

Diz-me, ainda que seja uma mentira
de amor com sons de certeza.
Hoje, como nunca, necessito
das tuas palavras, tenho de rodear-me
dos teus montes de nevoeiro.
 
Deixa uma verdade de amor na minha respiração,
um placebo nas minhas dúvidas,
aquelas que, tolo de mim, num dia são ferida
sem cura possível,
e num dia diferente, não muito distante
da ruína evidente, levianas intrigas.
 
Aproxima-te, ainda que a hena das tuas carícias
leve embebida uma morte súbita,
ama-me como eu te sinto agora,
deixemos feridos os nossos lábios
de tanto provocarem vendavais de lume.
 
E quando o leito não consiga
distinguir-nos, desfolhemos nós
essa mentira até dar
com o seu oculto pensamento.
 
 
O  CULPADO

Será pelos arquejos do ar que respiro
ou pelo bailado do piano que desde o antigo
hangar da memória continuo a escutar,
será a tua ausência ou o precário esquecimento
que me atraiçoa ante a menor adejo
que a brisa provoca na minha roupa, morada das tuas caricias
farrapos das nossas loucuras,
será por tudo isso,
ou porque não sei viver sem o teu mistério…
os meus olhos deitam-se num desconsolo, vagueando por sonhos
que nunca lhes pertenceram,
ou ainda pior, tenho a sensação
de ter desapossado
quem agora acompanha os teus.
 
Pergunta-lhe que sonhos tem, pergunta-lhe,
e se em nenhum deles eras cúmplice
eu dois delitos confesso:
arrombamento de moradia
e ter-lhe dado a morte de cada vez que dorme.
 
Sim, culpado por procurar-te
na intimidade da tua cama,
culpado porque os meus despertares
são tão alegres como tristes são as noites
que se prendem ao calor da almofada.
 
 
PODE SER QUE …
 
Pode ser que por serem tão iguais,
o fogo se haja extinto em nossos olhos,
pode ser…que as palavras exactas,
as mais necessárias,
antes tão usuais e espontâneas
se hajam quebrado em mil pedaços
por lhes faltar o ar
 
Nós nos esforcemos por encontrar
uma razão nos plurais
ou em esperar quem no fim
se apropriará da última palavra;
era um facto mais que evidente
que ambos fômos uns náufragos
aprisionados na mesma ilha
 
 
Nem sequer seria justo
dizer que vivíamos num equívoco;
lembra-te dos beijos que derrubaram
o pulso meticuloso da noite
e dos olhares cúmplices
que não precisavam de outro vocabulário
  
Embora assegures que o amor
não dura toda uma vida
(começo a pensar que tens razão),
pode ser que ao dividir-se o dia
na lonjura
a escassos metros do seu ponto final
ainda fiquem contudo beijos rebeldes
esperando na retaguarda

Pode ser…
 
 
Juan Carlos Garcia Hoyuelos
Tradução de Nicolau Saião para a antologia “Aire, fuego e deseo”
(Em todas as línguas usadas na Ibéria, do ladino ao português)

EDITOR | TRIPLOV

 
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