ISSN 2182-147X  . EDITOR | TRIPLOV . Contacto: revista@triplov.com . Dir. Maria Estela Guedes . PORTUGAL .
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Revista TriploV de Artes, RELIGIÕES & Ciências . Ns . Nº 58. maio-junho 2016 . Índice
   
 
Maria Manuel Rocha nasceu em 1960. Licenciou-se na área das Letras pela Universidade de Aveiro. É professora aposentada. Durante anos, foi colaborando esporadicamente em publicações conjuntas, nomeadamente na revista literária "Sol XXI" e no jornal regional "O Aveiro".  Publicou o livro “As Horas Possíveis” (poesia) em 2014 e “A Porta e Outras Prosas” (contos) em 2015. 
MARIA MANUEL ROCHA

Cinco poemas 
 

Lemos as vossas palavras nas horas de vasto silêncio.

Nosso silêncio vasto, vosso oceano das noites brancas.

Escutamos a vossa voz, despertamos a nossa voz.

Renascemos como ave a cada voo nesses vossos cristais.

 

As cumplicidades são as linhas de um horizonte

que inscrevemos na memória: contra o tempo,                                                                   

nas águas que desaguam novos os caminhos. 

 

 

As palavras nomeiam o mundo

cintilam no cerne das realidades

do universo e seus mares profundos,

são fractais em espirais perfeitas

vitrais como espelhos do mar

cirandas do dizível e do indizível.

 

Céus como mares dos poemas

indagam a vida e a morte

arranham os limites do visível

nas metamorfoses da lua

nas profecias do silêncio

perseguindo o real e o onírico.

 

Na convulsão vertiginosa dos dias

nas encruzilhadas da escrita,

as palavras guardam muitos segredos

com elas meditamos as horas

desvendamos e devolvemos ao mundo

as suas armas as suas asas.

 

O poeta é voz de liberdade

de rios que correm na humanidade,

 

porque um homem agrilhoado

é cinza ansiando ser fogo de vida

entontece e curva-se em busca

do próprio corpo,

 

e o poeta é nau que empunha

nas velas todas as estrelas de lume.

a Herberto Helder

 

Poder a poesia ser uma paisagem de Herberto Helder.

Uma casa no caminho da palavra. Uma palavra

no caminho da casa. Palavra exacta

que atravessa muitas as portas

de inesperado oceano

que flutua a terra inteira.

Palavra como chave a descerrar

fechaduras umas após outras

percepções reflexos teias

melodias de sombras e luz

como desfiando uma história

um assombroso desassossego

de frutos, todas as madrugadas. 

 

Escuto: a maçã a cair

no interior do solo relvado.

Ervas acolhem o fruto da macieira madura

como leito entreaberto, incendiado

na brisa agreste da memória.

Mordo a maçã devagar. Em silêncio.

Na paisagem.

a Al Berto

 

O vento trouxera-lhe vagas de horas várias.

Por isso, o passeio à maresia da infância

cansou-o: Itinerância de cigarros lentos

na vertigem da memória.

 

Nunca conseguiu ser feliz como as aves viajantes,

aves que desertaram o mar

no dia em que Al Berto

se devolveu ao silêncio da casa antiga.

 

Na humidade do espelho, a ausência.

Com o dedo intenta um perfil um esboço,

reinventar os ossos o corpo, reinventar Al Berto.

Ensaia as paredes de luz ténue inscritas no sangue.

 

Deserto suicidário onde nega

a utilidade da palavra escrita,

mas o medo mascara-se de escrita:

essa viagem.

 

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(inéditos)