Ao cumprirem as funções
essenciais à sobrevivência, em particular, a
procura de recursos alimentares e de defesa, os
nossos mais longínquos antepassados interagiram
de muito perto com o meio físico e, ainda que de
forma muito embrionária, podemos aceitar que se
iniciaram nos conhecimentos que, milénios mais
tarde, integraram as diversas disciplinas
científicas. Entre os objectos e os mecanismos
que lhes foi dado observar no mundo físico que
foi o seu, experimentaram o que puderam
experimentar, estabeleceram relações de
causa-efeito, deduziram o que souberam deduzir,
inferiram o que conseguiram inferir e
transmitiram aos descendentes o saber que foram
acumulando, servindo-se para tal das linguagens
de que dispunham, nomeadamente o gesto e, mais
tarde e progressivamente, a palavra falada e só
muito depois a escrita.
À semelhança da
transmissão destes saberes rudimentares também a
ciência é inseparável da comunicação. Entendida
como um conjunto de conhecimentos acerca de
parcelas maiores ou menores do todo universal,
obtidos através da observação, da experimentação
e/ou da elaboração mental, a ciência é um
edifício do colectivo, cujos alicerces se perdem
nos confins do tempo da humanidade. Edificada
pedra sobre pedra, o seu fio condutor sempre foi
e será a comunicação. Sem comunicação, o
conhecimento científico não avança. Morre com
quem o cria. Comunicar ou comungar, do latim,
communicare,
significa partilhar com outrem. Comunica-se
através da linguagem escrita, falada ou gestual.
Comunicam entre si, e até connosco, muitos dos
animais que conhecemos. A comunicação entre os
humanos utiliza sobretudo a palavra falada e
escrita. Quando falada, apoia-se quase sempre no
gesto e na expressão fisionómica e corporal.
Comunicam entre pares, ao mais alto patamar de
erudição, os sábios nas academias e os
investigadores nos congressos e outras reuniões
científicas. Comunicam entre si professores e
alunos. Comunicam, através dos livros ou dos
media,
e aos mais diversos níveis, os poucos
divulgadores que se dispõem a fazê-lo.
Quase tudo o que nos
rodeia e de que constantemente nos servimos, ou
com o qual nos articulamos diariamente, resultou
das conquistas da ciência e da tecnologia. Os
alimentos, os medicamentos, os transportes e
comunicações, os equipamentos mais variados da
indústria, da saúde, da cultura ou do lazer,
radicam, em grande parte, nestas conquistas do
génio humano. O conhecimento científico e as
tecnologias com ele relacionados são alguns dos
pilares sobre os quais assentam as sociedades
humanas, o progresso social e o bem-estar da
humanidade.
O paralelismo entre a
produção científica e o avanço das técnicas de
comunicação é, sobretudo nos dias que correm,
uma evidência espectacular. Do texto manuscrito
enviado por mar e à vela, ou por terra, na bolsa
de um estafeta a cavalo, ao Morse e ao correio
expresso, ou dos já antiquados
telexes
e faxes,
ao actualíssimo
e-mail
e à inesgotável
internet, a
generalização e o aperfeiçoamento constante e
progressivo dos meios de comunicação de pessoas
e ideias fez crescer exponencialmente o hoje
imenso e inabarcável edifício da ciência.
Esperemos que o instantâneo da comunicação, que
caracteriza os nossos dias, possa acautelar
muitos dos riscos que os avanços da ciência e da
tecnologia também acarretam. Lembremo-nos da
pólvora, da dinamite, da energia nuclear, da
química e da biologia ao dispor de arsenais
bélicos, e não esqueçamos a clonagem, os
transgénicos, a nanotecnologia e tudo o mais que
já está aí e, ainda, o que se adivinha, com
inevitáveis reflexos, bons ou maus, na vida dos
cidadãos.
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