ISSN 2182-147X  . EDITOR | TRIPLOV . Contacto: revista@triplov.com . Dir. Maria Estela Guedes . PORTUGAL .
Página Principal . Índice por Autores . Série Anterior .
Revista TriploV de Artes, RELIGIÕES & Ciências . Ns . Nº 58. maio-junho 2016 . Índice
   
Encontro com a Bíblia | Casa das Monjas Dominicanas do Lumiar | 21.05.2016
Website no TriploV: http://triplov.com/poesia/encontro-com-a-biblia/index.htm
 

MARIA ESTELA GUEDES

Encontro com o Livro

 

Começo por agradecer às Irmãs a hospitalidade, e forma solidária como partilham connosco a sua Casa das Monjas Dominicanas, este aprazível recanto de Lisboa onde, além dos ritos religiosos, também se pratica a devoção à Cultura. E agradeço a todos, participantes ou não, a sua boa companhia nesta tarde que espero deixe boas recordações.

Pertence a Eugénia Vasques a sugestão deste encontro, cuja motivação foi saber como se lê a Bíblia. Se pensarmos no princípio da livre interpretação, facilmente concluímos que há tantas maneiras de ler quantos os leitores. O nosso Encontro com a Bíblia vai ser uma dessas maneiras.

«Bíblia» é um plural, por conseguinte podemos selecionar dela este livro ou aquele para leitura ou começar pelas páginas iniciais, bom hábito com qualquer livro, pois é em geral na ficha técnica que encontramos os elementos que o identificam.

Na missa, os padres leem de acordo com um calendário litúrgico, significando isto que todos os católicos ouviram hoje, dia 21 de maio, o mesmo trecho do Evangelho, se foram à igreja. Salvo melhor informação que a da Internet, hoje o dia foi dedicado às crianças, para gáudio da Maria José Camecelha, espero, pois foi ela quem escolheu, no Evangelho segundo S. Lucas, os nascimentos de João e de Jesus para leitura coletiva. Eis algumas das palavras que hoje se têm dito na missa:

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.

 13 Naquele tempo, apresentaram-lhe então crianças para que as tocasse; mas os discípulos repreendiam os que as apresentavam.

 14 Vendo-o, Jesus indignou-se e disse-lhes: "Deixai vir a mim os pequeninos e não os impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se lhes assemelham.

15 Em verdade vos digo:  o que não receber o Reino de Deus com o espírito de uma criança, não entrará nele."

 16 Em seguida, abraçou-as e abençoou-as, impondo-lhes as mãos.»

Entretanto, direi que acima de tudo, no que toca a avaliar a força e difusão da cultura cristã no mundo, interessa outro modo de ler, que é o de integrar a Bíblia noutros textos, religiosos ou não. E por textos entenda-se qualquer suporte de comunicação e arte, pois a Bíblia está presente em múltiplos aspetos da vida, desde o cinema à música, desde o folclore aos locais de trabalho. Neste tempo de terrorismo imputado com ligeireza aos muçulmanos, tempo muito perigoso, é fundamental saber que o Alcorão aceita Jesus como um dos seus profetas e que nele encontramos muita matéria bíblica, como leremos na colagem dos nascimentos de Jesus e João. Ouviremos dizer, por exemplo, que João menciona Maria no Livro. Esse Livro é a Bíblia, e Povo do Livro é o nome que no Alcorão se atribui a judeus e cristãos, povos que, como o Islamismo, se regem por uma religião que valoriza a escrita – Santas Escrituras, eis outro nome da Bíblia. Muhammad (Abençoado seja o seu nome), quando recebeu do anjo Gabriel os primeiros mandamentos de Allah, escritos num pano, era analfabeto. Por isso lamentou-se por não saber ler. Porém o anjo insistiu para que lesse e ele leu.

Não é possível compreender a nossa cultura e civilização na ignorância de que os seus alicerces repousam no Livro. Ele está em toda a parte: noutros livros, incluídos os nossos, e vale a pena lembrar José Saramago, que o demonstrou na perfeição; lê-se nas imagens pintadas e esculpidas nas capelas, túmulos e catedrais; lê-se nos rituais de inúmeras religiões e ordens maçónicas. Risoleta Pinto Pedro dir-nos-á algo sobre a questão, eu apenas registo um caso mais discreto: a Maçonaria Florestal Carbonária, em vários momentos do ritual, tal como nas fórmulas de saudação que abrem e rematam os documentos oficiais, invoca a proteção do seu patrono S. Teobaldo e do seu Bom Primo Jesus Cristo.

 

Termino com o gospel (God spell), palavra que significa «Evangelho», «fala de Deus». A música popular urbana, aquela com a qual crescemos, nasce quase toda aí, nos cantos de igreja dos Estados Unidos da América, de forma direta ou indireta. Desde Elvis Presley até ao recentemente falecido Prince, numerosos músicos acusam a influência dos espirituais negros.

Há uns seis ou sete anos, estava eu em Nova Iorque com a Ana Luísa Janeira. Certo domingo, resolvemos ir à missa na Igreja Batista Abissínia, uma das mais famosas pelos coros de gospel. É hábito perguntarem o nome aos estranhos para, no momento oportuno, o pastor informar a audiência sobre quais as celebridades presentes. Nesse domingo, a maior celebridade que assistia à cerimónia era o Prince, e de certeza que não estava ali por imperativos dominicais da sua Fé. Tal como nós, prestava culto à música, pois bem sabemos que o autor e executante de «Purple rain» era Testemunha de Jeová. A presença de Prince impressionou-me o bastante para a registar por escrito em «Harlem», num grupo de textos sobre Nova Iorque, que dediquei a Federico García Lorca, e com quem converso, por causa do seu poemário «Poeta en Nueva York».

Lorca e Prince, dois grandes artistas com os quais tenho a satisfação de abrir  o nosso «Encontro com a Bíblia», esperando que sejam tão inspiradores para vós como têm sido para mim.

 
sítios aliados
Apenas Livros Editora
Revista InComunidade
Canal TriploV no YouTube
www.triplov.com
Triplov Blog
António Telmo-Vida e Obra
A viagem dos argonautas
Agulha
 
 
 
 
Encontro com a Bíblia
Website
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
«Harlem»