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Revista TriploV de Artes, RELIGIÕES & Ciências . Ns . Nº 58. maio-junho 2016 . Índice
   
Encontro com a Bíblia | Casa das Monjas Dominicanas do Lumiar | 21.05.2016
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MARIA AZENHA

Rosa

 

A ROSA DE EL SARON | Maria Azenha

 

 

E eu que aprendi quase tudo e nenhuma coisa

sobre a vida e sobre a morte

sobre os rostos que me rodeiam

e alguns deles me atiraram pedras ao coração

quando à luz da noite me deito

extasiada pelas chamas do fogo

que me consumiram as mãos

já não sinto dor:

estou dentro dos teus olhos.

faço parte dessas longas chamas

como de uma confidência

esperando que apareça o outro Sol

e não pergunto ao mendigo como se sente

nem ao cego como vê nem ao que não anda

porque ficou na estrada

eu própria me converto no mendigo e no cego

e no que ficou preso aos seus próprios pés.

por isso sonho descobrir todas as estrelas

que me caíram do firmamento

e faço parte como vós dos raios da aurora

das cores imensas do arco-íris e do vento

das montanhas das serras

dos ecos e das visões

dos misteriosos rios que passam pelas aves e pelos homens

do desfile admirável das formigas

que me arrancaram as lágrimas e agora correm

como tesouros guardados na terra em areia húmida

 

desejo ver-me reflectida nos olhos das crianças

contemplar a minha irmã palmeira que voou da minha infância

para ficar aqui junto a vós no meio da página

onde vamos explodindo todos juntos na poeira

 

tudo isto sinto quase ninguém vê

e não pergunto nada

de cada encontro guardo um tesouro

e devolvo-o porque se mudou para o nosso comum destino

ao vaguearmos pelas praias com seus antigos náufragos

e o que encontrei é como um pássaro antes do amanhecer

a rosa de El Saron que não conhece Ocaso

 

inclinando-se a teus pés na palavra mais doce.

 

 

Rosa de Saron é uma referência simbólica a Jesus Cristo. A expressão encontra-se no Antigo Testamento da Bíblia Sagrada, no verso "Eu sou a rosa de Saron, o lírio dos vales". (Cântico dos Cânticos, 2:1).

 

A ROSA | Jorge Luís Borges

 

 

 

A rosa,

a imarcescível rosa que não canto,

a que é peso e fragrância,

a do negro jardim e qualquer tarde,

a rosa que ressurge da tênue

cinza pela arte da alquimia,

a rosa dos persas e de Ariosto,

a que sempre está só,

a que sempre é a rosa das rosas,

a jovem flor platônica,

a ardente e cega rosa que não canto,

a rosa inalcançável.

 

A ÚNICA ROSA | Juan Ramón Jiménez

 

 

 

Todas as rosas são a mesma rosa,

Amor,
a única rosa.

 

E tudo está contido nela,

Breve imagem do mundo,

 Amar!

A única rosa.

 

MOTIVOS DA ROSA | Cecília Meireles

 

Vejo-te em seda e nácar,

e tão de orvalho trêmula,

que penso ver, efêmera,

toda a Beleza em lágrimas por
ser bela e ser frágil.

 

Meus olhos te ofereço:

espelho para a face

que terás, no meu verso,

quando, depois que passes,

jamais ninguém te
esqueça.

 

 Então, de seda e nácar,

toda de orvalho trémula,

serás eterna.
E efêmero

o rosto meu, nas lágrimas

do seu orvalho... E frágil.

 

Por mais
que te celebre, não me escutas,

embora em forma e nácar te assemelhes

à concha soante, à musical orelha

que grava o mar nas íntimas volutas.

 


Deponho-te em cristal, defronte a espelhos,

 sem eco de cisternas ou de grutas...

Ausências e cegueiras absolutas

ofereces às vespas e às abelhas,

 

e a quem te adora, ó surda e silenciosa,

e cega e bela e interminável rosa,

que em tempo e aroma e verso te transmutas!

 

Sem terra nem estrelas brilhas, presa

a meu sonho, insensível à beleza

que és e não
sabes, porque não me escutas...

 

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

 

Rosas verás, só de cinza franzida,
mortas intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos,

 ao longe, o vento vai falando em mim.

E por perder-me é que me vão lembrando,

por desfolhar-me é que não tenho fim.

 Antes do teu olhar, não
era, nem será depois - primavera.

 Pois vivemos do que perdura,

 

não do que fomos. Desse acaso

do que foi visto e amado: - o prazo

do Criador na criatura...

 

Não sou eu, mas sim o perfume

que em ti me conserva e resume
o resto, que as horas consomem.

 

Mas não chores, que no meu dia

há mais sonho e sabedoria

que nos vagos séculos do homem.

 
 
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