Eu já não ando por
aqui há algum tempo.
E, confesso-o, cada
vez menos me apetece fazê-lo, tão sufocante é a
pobreza intelectual e de espírito que vem
assassinando o país, tanto no que respeita aos
temas "fracturantes" como às medidas e decisões
que são tomadas em quase todas as vertentes da
vida pública.
É que intervir em
tal chiqueiro é pôr-se ao mesmo nível dos que o
alimentam.
Digo-o com o mesmo
desgosto com que Vergílio Ferreira dizia que
"Portugal é um país de analfabetos, alguns dos
quais sabem ler".
Mas o que me chega
aos ouvidos desde ontem é de tal modo abjecto
pelo primarismo do ridículo, que não consegui
suster o impulso de vir dizer apenas isto:
Qualquer, repito,
QUALQUER, pessoa, repito, PESSOA, que saiba ler
ou, pelo menos, sem deficiências auditivas
graves desde criança sabe que Cristo não teve
dois pais, mas sim, segundo o relato bíblico, um
pai, um padrasto e uma mãe.
E isto porque,
segundo o que esse relato dá a entender, Cristo
seria o resultado de um caso de uma noite mais
especial de Maria, liberalmente aceite por José.
Admitindo, porém,
que a coisa fosse mais longe e a situação
tivesse continuidade, estaríamos perante um ménage
à trois, a inserir no capítulo da família
poliparental à la tibetana.
Mas apenas isso.
Porque nem da boca dos próprios nem do cochichar
dos vizinhos se concluiu da existência de
relação monogenérica entre Deus e José, mesmo
que por uma noite apenas, nem Maria abandonou o
lar, deixando-os sós.
Ou seja, de modo
nenhum se pode incluir o acontecimento descrito
no Evangelho como exemplo de adopção de crianças
por casais do género dos formados por pessoas do
mesmo género. Como também não se insere no
daqueles em que a criança é biologicamente
descendente de uma dessas pessoas.
Mais a sério,
agora:
Que este cartaz
seja produto do fracturamento da verdade em prol
da iluminação dos povos pelo BE, não me espanta,
tendo em atenção a desonestidade intelectual que
é seu apanágio. Que esse fracturamento seja
feito ao nível do primarismo e imaturidade
intelectuais que caracteriza os seus
representantes, também não.
O que neste caso me
assombra e, até certo ponto, me aterroriza é o
carácter simplório e fascizante da artimanha,
porque distorce com o mais descarado e
fascizante à-vontade dados elementares da
informação cultural e religiosa dos cidadãos,
não apenas os deste país como os de toda uma
civilização com cerca de dois milénios.
De outra maneira: o
Bloco de Esquerda mente com toda a tranquilidade sobre o que
até uma criança seria capaz de refutar. Como se
estivesse seguro da completa apatia mental dos
cidadãos que pretende endoutrinar – porque de
endoutrinar se trata.
E isto só pode ser
sinónimo, para além de perversidade política, de
uma enorme pequenez mental, aquela de que o BE
necessita para alcançar o poder sem parecer que
o visa. O que é o melhor exemplo da metáfora
cristã dos cegos que guiam (no caso, que aspiram
a guiar) outros cegos.
Porém, não menos
assustadora é a reacção dos responsáveis da
Igreja Católica por não menos mentalmente
insuficiente. De facto, a única resposta
possível a este cartaz, post ou lá o que é,
seria a da enorme gargalhada perante o disparate
dito por um qualquer puto arrogante a armar ao
chico-esperto, relembrando-o da história contada
na Bíblia.
Isto bastaria para
repor a criançada do BE no seu lugar e expor-lhe
a distorção de carácter perante Portugal
inteiro.
Mas não. A Igreja
católica fala de sentimentos ofendidos, falam de
sentimentos ofendidos os parlamentares cristãos…
Ora só se poderia eventualmente falar de
sentimentos ofendidos quando o que foi dito
correspondesse a algo que fizesse parte
integrante da crença e não quando nada do que
foi dito a atinge porque nada existe nela que
tenha sido atingido por um conto do vigário
intelectual.
Com a sua atitude,
a Igreja valida afinal a fraude perpetrada pelo
BE, na medida em que não contesta a falsificação
do texto bíblico!
A estupidez e a
má-fé ardilosas do BE têm assim o seu
equivalente na estupidez solene e empertigada da
Igreja.
Os fascismos são
como os camaleões: mudam de cor à medida do
meio. O BE constitui-se no orgulho do filho do
caseiro “Manholas”, António de Oliveira Salazar,
que também ele inverteu o dito de Cristo aos
discípulos “quem não é contra nós, é por nós”,
num “quem não é por nós é contra nós”.
E a Igreja Católica
esquece o que o seu Mestre disse: que aqueles
que não o reconheceram não serão reconhecidos
por Ele no fim dos tempos.
O que posso dizer
mais?
Perceberam porque
ando calado?
(texto não revisto)
Joaquim Simões, 26 de Fevereiro de 2016
|