Duas classes de
fenômenos, divididos didaticamente em dois
grupos, são estudados pela parapsicologia:
1. fenômenos
subjetivos;
2. fenômenos
objetivos[1].
Os primeiros são
fenômenos de conhecimento, puramente
intelectuais. Neste grupo, os mais estudados são
a telepatia, transmissão extrassensorial
de "pensamentos" e emoções e a
precognição,
conhecimento antecipado de fatos futuros.
Os segundos,
fenômenos em que há uma ação direta sobre a
matéria, aparentemente sem contato físico, ou
com contato físico insuficiente, além de uma
variada gama de realidades tangíveis, com livre
acesso pelos nossos sentidos. Neste grupo
podemos citar os variadíssimos fenômenos de
telecinesia.
Cabe observar,
contudo, que tal divisão supre apenas uma
necessidade didática, uma vez que os limites
entre as duas ordens de fenômenos são por vezes
incertos. Mas, tal divisão faz-se útil, uma vez
que grandes dotados parece terem se
especializado numa ou noutra classe e, também,
porque os meios de investigação de um e outro
grupo exigem comportamentos metodológicos
diferentes. Neste artigo nos ocuparemos do
elemento que, sob o ponto de vista da
parapsicologia, sempre está presente nos
fenômenos de efeitos físicos: a telergia.
Estamos nos referindo
ao "fluido" ou "força" ou, ainda, "energia
sutil", que parece emanar de determinados
dotados e exerce, independentemente de algum
princípio físico conhecido, uma influência sobre
os objetos materiais e possibilita uma gama
variada de fenômenos observáveis.
Podemos associar essa
força a uma miríade de nomes ao longo dos anos.
Tomemos por referência Oscar González-Quevedo.[2]
Franz Anton Mesmer
propôs no século XVIII o nome de fluido
magnético em sua teoria do magnetismo animal.
Bailly, em 1868, admitia a existência de uma
força nêurica radiante. William Crookes, na
segunda metade do século XIX infere sobre uma
força psíquica. No começo do século XX
(1930/1) Osty, tentando fotografar os fenômenos
de telecinesia, referiu-se ao
fator X,
ou
metergia. Ferdinando Cazzamalli
apresentava em 1927 os resultados de sua
pesquisa em que admitia os efeitos curativos do
que chamou de Antropoflux
ou
fluido
humano radiante, que designou com a sigla
"R". Blondot falou de
Raios N. Ainda
outros nomes podem ser encontrados ao longo da
história.
Em parapsicologia
chamamos essa força de telergia (tele = longe;
ergon = ação, trabalho), uma exteriorização e
transformação de energia somática para a
realização de um determinado trabalho.
Essa energia, emanada
do corpo de alguns poucos e raros dotados,
parece ser material, física. O russo Younevitch comprovou
que a telergia (ou raios Y) emanada de certos
dotados atravessava chapas metálicas com um
poder de penetração superior ao dos raios X e ao
dos raios gamma do rádio. A telergia atravessava
até chapas de chumbo de três centímetros de
espessura, colocadas a um metro de distância do
dotado em transe. Chapas espessas a uma
distância notavelmente maior, não eram
atravessadas. [...]
Isto nos mostra que a
telergia possui uma grande penetração e nos
mostra também que é material, dado que se lhe
pode opor obstáculos materiais.[3]
(GONZÁLEZ-QUEVEDO, 2000)
Os efeitos produzidos
pela telergia vão desde ações mecânicas, que
agem sobre os objetos produzindo ruídos ou
deslocamentos, classificados dentro do grupo das
telecinesias, até a dissociação da matéria,
passando pelas ações de ordem física ou química,
tais como fenômenos luminosos, térmicos, etc.
Tal força, contudo,
como observado por William Crookes (1832-1919),
não é uma força cega, ou seja, sempre há uma
vontade, uma intenção por trás dela, uma vez que
parece agir sempre no desejo de atender a um
determinado fim. Nesse sentido, portanto,
psicofísica.
Crookes, inclusive,
em Recherches sur le spiritualisme,
citado por Sudre[4]
(1996), já destacava o caráter de inteligência e
de finalidade nos fenômenos de efeitos físicos.
Desde o começo de
minhas pesquisas, constatei que o poder que
produzia esses fenômenos não era simplesmente
uma força cega, mas que uma inteligência o
dirigia, ou pelo menos lhe estava associada.
(SUDRE, 1966, p. 276)
Contudo, essa
"força", essa "energia sutil", emanada do corpo
do dotado, nem de longe foi consensual entre os
pesquisadores, ao longo da história. Pouco mudou
a esse respeito. Muitos a negaram simplesmente.
Outros atribuíram a constatação de tal energia a
incorreções metodológicas, falhas na observação
e outros, ainda, a puro charlatanismo, fora as
incansáveis discussões sobre a natureza
espiritual ou material de tal energia.
Estudos recentes[5],
embora pouco divulgados, começam a surgir e
apontam para aspectos que sugerem a presença de
"energias sutis"[6],
capazes de influenciar a matéria. Apontam, nesse
sentido, vale dizer, às conclusões dos pioneiros
das pesquisas psíquicas.
Essa energia,
observada, inclusive fotografada pelos primeiros
metapsiquistas[7],
associada ao complexo psiquismo humano, é o
elemento presente e necessário para a realização
dos fenômenos telecinéticos, estudados pela
parapsicologia. Numa palavra: a telergia.
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