Revista TriploV de Artes, Religiões & Ciências .
ns . nº 55 . dezembro 2015 . índice






Maria Estela Guedes
(Portugal, 1947).
Poeta, dramaturga, historiadora da História Natural e da Maçonaria Florestal Carbonária, além de exegeta da obra de Herberto Helder. Faz parte do Conselho Editorial da revista Incomunidade, em www.incomunidade.com. Dirige coleções na editora Apenas Livros, entre elas Cadernos Surrealistas Sempre. Tem umas dezenas de títulos publicados.   
Foto de José Emílio-Nelson
 
 
MARIA ESTELA GUEDES

Cadernos Surrealistas Sempre
 
Parece que temos em Portugal, pela primeira vez, uma coleção inteiramente dedicada ao Surrealismo. Revistas tem havido várias: Pirâmide, Grifo e publicações coletivas, como antologias. Aliás, "Triplov" é o nome de uma revista surrealista fundada em Nova Iorque por André Breton, a VVV - triplo V. Como se sabe, atualmente o TriploV é um dos mais importantes repositórios digitais de materiais e autores surrealistas, que tentaremos publicar na Apenas Livros, com preferência para os portugueses.

O Surrealismo tem quase 100 anos, devia por isso estar já bem estudado e difundido, bem arrumado nas prateleiras das bibliotecas académicas. Tal não tem acontecido; de um lado, apesar dos 100 anos, é-nos ainda demasiado próximo; de outra parte, o Surrealismo permanece movimento fluido e ativo; finalmente, a sua vertente libertária e rebelde, contestatária, manifesta muitas vezes em atos e discursos que a moral de sacristia condena, não é decerto apetecível para investigadores bem comportados.

Por mim, confesso: o Surrealismo desafia-me e envergonha-me. Envergonha-me porque estou sempre a descobrir surrealistas que não sabia que o eram. No próprio Triplov, imaginem! Peço perdão pela minha ignorância, os surrealistas assemelham-se a uma termiteira, entram e saem dela formigas que nunca mais acabam! E artistas bem interessantes, bem contundentes na sua crítica social, costela que o hasard bretoniano fez que recebesse a designação de abjecionismo ou surrealismo português. Como reparação, proponho-me assim, na medida das minhas capacidades, juntar na coleção Cadernos Surrealistas Sempre trabalhos sobre o Surrealismo e criação pura de surrealistas que retratem essa tão pujante, poética, divertida, desconcertante e maldizente arte que foi a mais importante contribuição da modernidade para a cultura europeia do século XX e no nosso país constituiu terreno fértil para o desenvolvimento de artistas que não só deram poderes à imaginação como tornaram a liberdade poética uma prática de contestação política.
Sairam os primeiros cinco cadernos, com bela e sugestiva capa a cores, obra da artista plástica Maria Tomás.

O primeiro, de Claudio Willer, poeta surrealista brasileiro com obra ensaística notável sobre as tendências mais recentes da literatura, em especial o surrealismo:
A verdadeira história do século 20 é o seu título e dá teto a poesia. 

O nº 2 cabe a António Cândido Franco, poeta, ficcionista e ensaísta. Como ensaísta e investigador deve ser a pessoa que mais se tem dedicado ao Surrealismo e mais gente tem convocado para essa função, especialmente na revista que dirige em Évora, A Ideia. História e mito do Surrealismo em Portugal - I é o título do seu texto, que agora se ocupa do Grupo Surrealista de Lisboa. Numa futura segunda parte, certamente intentará continuar aquela "impossível História do Surrealismo", no dizer de Mário Cesariny. É uma História sensível, apaixonada, porque feita do interior, a partir de memórias e relacionamentos de António Cândido Franco com vários surrealistas, como é caso mais relevante a sua convivência com Cesariny, com o qual perfilha a tese de ser Teixeira de Pascoaes um pré-surrealista.

Terceiro autor publicado sou eu: Surrealismo incertae sedis reúne comunicações, conferências, textos publicados n' A Ideia, na Incomunidade e no TriploV, de análise semântica, sobre Manuel de Castro, Herberto Helder, Luiz Pacheco, José Emílio-Nelson, Luís Filipe Coelho, Nicolau Saião e João César Monteiro e eu pergunto, esperando que alguém responda: então não há mulheres no Surrealismo? Teremos de as desencantar, não me conformo com a sua ausência.

João Garção, número 4 na coleção, assina O teatro surrealista em Portugal. Neste ensaio posto na área da História do Teatro, a atenção do autor foca Mário Cesariny de Vasconcelos, Manuel Grangeio Crespo, Manuel de Lima, Jorge de Lima Alves, Virgílio Martinho e Nicolau Saião, encerrando o estudo os casos de Jorge de Sena e António Pedro.

Finalmente, em número 5, um abjecionista de bom calibre, isto é, um artista de forte vocação satírica, dirigida aos cabeças do Poder político, Luís Filipe Coelho, que põe burka na assinatura e manda dar a cara a um tal Schäuble de Albuquerque. O título da obra deste "autor" híbrido de alemão e lusitano é por si só um tratado que dispensa mais ilustrações: De roldão ou de roldinha, da Podridão da Globalizacinha prà Globalização da Podridinha e Umas, e aos desmais, Diatribes Locais

É bom que queiram os livros. Ninguém tenha a veleidade de se considerar pessoa cultivada se os não ler e para isso tem abaixo os endereços da editora, Apenas Livros. O alimento do espírito é indispensável para não deixar raquitizar o intelecto, e é mais barato que o quilo da carne. Nunca mais se escreverá tese de mestrado ou de doutoramento sobre surrealismo sem referências a esta coleção.

 
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