REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 52 | junho-julho | 2015

 

 

 
   
JOSÉ PINTO CASQUILHO

Análise crítica do Colóquio Quadragésimo Nono
de Garcia de Orta intitulado
"De tres maneiras de sandalo"
(1) 

 

José Pinto Casquilho – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (josecasquilho@gmail.com)

Resumo

Neste trabalho citam-se excertos do Colóquio nº 49 do livro “Colóquios dos Simples e Drogas da Índia” de Garcia de Orta, médico judeu sefardita português que viveu no século XVI e exerceu a profissão durante mais de trinta anos em Goa, considerado pioneiro da medicina tropical. Procura-se relacionar com outros escritos da época e também com literatura científica contemporânea a propósito da área de ocorrência da espécie Santalum album L. e das suas propriedades terapêuticas e medicinais, bem como dos usos tradicionais. A edição original da obra foi publicada em Goa em 1563, com o título “Coloquios dos simples e drogas he cousas medicinais da India e assi dalgũas frutas achadas nella onde se tratam algũas cousas tocantes a medicina, pratica, e outras cousas boas pera saber”, mas a que servirá de suporte a esta análise é a edição publicada pela Academia Real das Ciências de Lisboa em 1895, dirigida e anotada pelo Conde de Ficalho. Como teremos ocasião de ver, o sândalo branco e amarelo são a mesma espécie, mas já o designado sândalo vermelho antes é uma leguminosa. Finaliza-se este escrito afrontando um mistério, de que decorre um tópico de pesquisa. 

Palavras-chave: Santalum album L.; História; Biogeografia; Usos tradicionais e medicinais; Pesquisa

Dizem os malaios mercadores que Deus criou Timor de sândalos,
Banda de maças e as de Maluco de cravo
e que no mundo não é sabido outra parte em que
estas mercadorias hajam, somente nestas.

Tomé Pires, Suma Oriental, Tomo II 1512-1515
 

Introdução

Garcia de Orta, médico português, judeu sefardita, natural de Castelo de Vide no Alentejo, nasceu no início do século XVI (1501 ou 1502), estudou medicina nas universidades de Salamanca e Alcalá de Henares e em 1526 já exercia medicina em Lisboa, tendo sido professor na universidade lecionando Filosofia Natural e Moral. Rumou à Índia portuguesa em 1534 como médico-chefe integrado na frota de Martim Afonso de Sousa - que se notabilizou conquistando Diu em 1535 sendo depois alçado a Governador (1542-1545). Garcia de Orta estabeleceu-se em Goa em 1538, onde adquiriu notoriedade, tornando-se médico dos Vice-reis e Governadores portugueses tendo inclusivamente assistido Burhan Nizam Shah I de Ahmednagar, um dos sultanatos do Deccan. Ainda foi detentor do foro da cidade de Bombaim (Mumbai) entre 1554 e 1570 (2) e a sua casa localizava-se junto do castelo. Hoje é considerado um dos pioneiros da medicina tropical.

 
   
Fig. 1- Garcia de Orta

Escreveu um tratado conhecido abreviadamente como “Colóquios dos Simples e Drogas da Índia” cuja edição original foi publicada em Goa em 1563, com o título “Coloquios dos simples e drogas he cousas medicinais da India e assi dalgũas frutas achadas nella onde se tratam algũas cousas tocantes a medicina, pratica, e outras cousas boas pera saber” que dedicou a Martim Afonso de Sousa. A importância deste trabalho foi imediatamente reconhecida pelo naturalista flamengo Carolus Clusius após ter deparado com uma cópia dos Colóquios em janeiro de 1564, que resumiu para latim, ilustrando e fazendo-a publicar em Antuérpia em 1567 (3) (Fontes da Costa & Nobre-Carvalho, 2013). Nesta obra, escrita sob a forma de diálogos hipotéticos com Ruano (que também teria estudado em Alcalá e Salamanca), o colóquio Quadragésimo Nono é dedicado ao sândalo. Vamos utilizar excertos da edição publicada pela Real Academia das Ciências de Lisboa em 1895, comentada pelo Conde de Ficalho, para confrontar com outros escritos - uns da época, outros mais recentes ou contemporâneos -, a propósito da área de origem da espécie e dos usos tradicionais, medicinais e rituais do sândalo, comummente designado de “branco” ou “amarelo”(Santalum album L.).

 

Figura 2 – Capas da edição original dos Colóquios dos Simples e Drogas da Índia de Garcia de Orta (Goa, 10 de Abril de 1563) e da edição da Academia Real das Ciências de Lisboa de 1895

Biogeografia do sândalo

Diz-nos Garcia de Orta (p. 281) (4) :

O sandalo nasce acerqua de Timor, onde ha a maior quantidade; e he chamado chandam: com este nome se chama por todas as terras visinhas a Malaqua; e os Arabios, como pessoas que cheiravam o comercio destas terras, corrompendo o vocabulo, lhe chamaram sandal. Todo o Mouro de qualquer naçam que seja o chama asi; e os Canarins e Decanins e Guzarates o chamam cercandá. Nacem e crecem os arvores do sandalo em Timor, donde he a maior cantidade; e sam matas que não se acabam de gastar, asi de huma banda da ilha como da outra.”

Como se vê, Garcia de Orta coloca a origem do sândalo na ilha de Timor, o que está de acordo com a citação anterior de Tomé Pires em epígrafe e ainda com outros escritos quinhentistas - por exemplo, entre outros, Duarte Barbosa (c. 1516) também falava do sândalo branco e cor de limão, que nasce em uma ilha chamada Timor; ou ainda Camões no Canto X de Os Lusíadas (1572: 183) na única referência à ilha: Ali também Timor, que o lenho manda, sândalo salutífero e cheiroso.

O género Santalum compreende um número de espécies que é referenciado correntemente de forma variável, como sendo de 18 (Subasinghe, 2013) mas também de 29 (Applegate & McKinnel, 1993), estendendo-se da Índia e da Indonésia até às ilhas Juan Fernandez perto da América do Sul. É possível que esta diferença substancial se reporte a distinções taxonómicas que, nalguns casos, uns autores associem a espécies diferentes enquanto outros antes as considerem variedades: Brennan e Merlin (1993) referem que uma revisão aprofundada da literatura estabelece 16 espécies de sândalo (uma das quais extinta) e 17 variedades. Em qualquer caso, de entre o conjunto, vamos apenas incidir sobre a mais conhecida: o sândalo branco (Santalum album L.).

Atualmente, a origem do sândalo branco indexada à ilha de Timor tornou-se ténue na bibliografia de expressão anglófona: a espécie é referenciada mais frequentemente como “sândalo indiano (5)” (e. g. Annapurma et al., 2004; Gamage et al., 2010; Subasinghe et al., 2013) ou ainda “sândalo indiano oriental” (Kumar et al., 2012) reportando-se a sua área biogeográfica principal às florestas do Sul da Índia, nomeadamente Karnataka, Tamil Nadu e Kerala; outros autores a dizem nativa também do Sul da Índia mas antes da região de Coorg, Chennai e Mysore (Sindhu et al., 2010), eventualmente acrescentando-se ainda o Sri Lanka e o Norte da Austrália. No entanto, alguns reportam a área geográfica de origem da espécie a ilhas da Indonésia, e também regiões da Índia (Brennan & Merlin, 1993), explicitando ocasionalmente a ilha de Timor (e. g. Applegate & McKinnel, 1993); Harisetijono e Suriamihardja (1993) referem que o sândalo branco localmente denominado cendana, ocorria principalmente nas ilhas de Timor e de Sumba, na parte ocidental das Flores, e ainda nas ilhas de Alor e Roti.

De entre as “tres maneiras de sandalo” referidas por Garcia de Orta entende-se no diálogo que se trata de “sandalo vermelho”, “sandalo branquo” e “sandalo amarelo”, dizendo-nos sobre a primeira (pág. 281/282):

“[…] e porém em Timor não nasce este sandalo vermelho […]. E a feiçam deste arvore de sandalo vermelho, até ao presente, não o pude saber; mas sei ao certo que vem dali todo o sandalo vermelho, o qual se gasta muyto pouquo nesta terra, porque não o gasta a gente mais que pera febres […]. E também se gasta cá o vermelho em pagodes ou ídolos, e amde ser os páos muyto grandes; […]” 

Diz-nos o Conde de Ficalho nas anotações finais do colóquio que o “sandalo vermelho” (raktachandana em sânscrito) não é espécie do género Santalum mas antes uma leguminosa, mais propriamente o Pterocarpus santalinus L., que existe nas florestas do Sul da Índia, tanto na parte ocidental como nas costas do Coromandel, não sendo fácil perceber porque lhe deram o mesmo nome do género. A madeira é empregada em usos medicinais, como adstringente e tónica, e externamente como refrigerante – portanto com usos semelhantes ao sândalo -, mas ao contrário deste é insípida e inodora.

Já sobre a distinção entre “sândalo branco” e “sândalo amarelo”, que são a mesma espécie sendo o tom amarelado imputado a árvores em geral mais velhas que acumularam mais óleo na região do cerne, pode ver-se que essa hipótese não é descartada por Garcia de Orta na resposta à pergunta de Ruano (p. 284): Ha de duas maneiras sandalo em Timor, ou he todo branco? E qual he mais estimado?

“[…] posto que falando o outro dia com hum mercador, que sabe bem essas terras, me disse, que na parte que he mais descuberta de sol há muyto sandalo amarelo, e mais ambas as maneiras de sandalo tem as arvores semelhantes, que nos nam conhecemos a deferença que ha entre os arvores.[…]”

Descrevendo a árvore diz-nos Orta (p. 284):

O arvore do sandalo he tamanho como huma nogueira; e a folha he muyto verde, e he feita como a da aroeira; deita frol azul escura, e dá huma fruta verde do tamanho da cereja, e cae azinha, e he primeiro verde, e depois preta e sem sabor. 

Um pouco de História

Não há dúvidas sobre a importância estratégica de Malaca no comércio asiático e não só, estendendo-se a Meca e ao Mediterrâneo. Albuquerque não hesita em considerar Goa e Malaca “as maiores duas coisas da Índia” em carta de 30 de Outubro de 1512 enviada ao rei Manuel I de Portugal (Bulhão Pato, 1884: 97). Tomé Pires, em Suma Oriental, escrita entre 1512 e 1515, refere Malaca como não havendo igual, e que lá se processava o comércio de toda a espécie e de todas as partes do mundo (2005: 285), a que não era alheio o facto de a região se situar no fim das monções. Ainda o mesmo autor descreve, em relação ao sândalo, que os Malabares, vindos das regiões de Coromandel e Pulicat na Índia, trazendo meia dúzia de navios em cada ano, com trinta espécies de ricos tecidos, levavam de volta principalmente sândalo branco (p: 272), porque o sândalo vermelho crescia nas suas terras; também de Cambaia vinha um navio cada ano e levava de volta especiarias e sândalo (p: 270); ainda acrescenta que de Java vinham mercadores na demanda de cravinho, maças, noz moscada e sândalo (p: 241). Falando dos empreendimentos portugueses no tempo, após a tomada de Malaca em 1511, afirma que os barcos vão a Timor na demanda do sândalo (p: 283).

Com efeito é sabido que Afonso de Albuquerque mandou sair em Novembro de 1511 uma armada de três navios, comandada por António de Abreu, para descobrir as ilhas das especiarias, onde constava uma caravela que transportava o piloto-cartógrafo Francisco Rodrigues. Nesta viagem, navegaram por Norte da corda de ilhas entre Java, Solor e Wetar e foram até Damboino (Ambom) e às ilhas Banda, onde carregaram cravo, noz e maça.

A nau Santa Catarina, pilotada por Francisco Rodrigues, regressou a Malaca pela mesma rota, em Dezembro de 1512, não tendo sequer sido avistada a ilha de Timor ao que consta, mas terá sido recolhida informação a propósito, pois que da série de 68 cartas panorâmicos desenhadas por Francisco Rodrigues, numa delas (fol. 37) encontra-se a inscrição “A Jlha de timor homde naçe o ssambollo“ que constitui a primeira aparição da ilha de Timor na cartografia europeia, portanto associada à existência do sândalo.

 
   

Figura 3 – “A Jlha de timor homde naçe o ssambollo“ é uma frase que se encontra inscrita no esboço de Francisco Rodrigues (1512) – aqui representada no topo superior da figura. Portvgaliae Monvmenta Cartographica. 1960. Vol. I: 78-84. Pl. 34-36 (6)

Rui de Brito Patalim, capitão de Malaca, em duas cartas enviadas em Janeiro de 1514, diz que Timor “he hua ylha alem de Java, tem muytos sandallos, muyto mel, muyta cera ... nom tem juncos pera navegar“ razão porque ainda lá se não tinha ido mas, mostrando a intenção em que está em fazer dela terra portuguesa “...quero agora mandar la huma dalle e huma caravela, por ver e apalpar se posso tomar a posse dela ... “. Na segunda, para o Vice-Rei da Índia, justifica que “... a Timor quisera mandar ... “ e que não pudera naquela monção, por falta de juncos, mas que “... laa pera o ano prazendo o noso senhor yram la pera trazerem o sandalo ... he muito boa navegaçam“(7). Ao que parece a primeira expedição ocorreu a bordo de um navio ou junco chamado Luso-Malay (Paulino, 2012). A chegada dos portugueses a Timor, embora exploratória, poderá ter-se dado em 1514 (Thomaz, 1998: 594). Em Lifau, no enclave de Oecussi, encontra-se um padrão com a seguinte inscrição: “Aqui desembarcaram portugueses em XVIII-VIII-MDXV“.

Duarte Barbosa (1516, 1966: 203), diz-nos: assim navegam desta cidade de Malaca para todas as ilhas que estão por todo esse mar, e para Timor, donde trazem todo o sândalo branco, que entre os mouros é mui estimado e vale muito. Ou ainda (Barbosa, 1516, 1966: 211): nesta ilha há muitos sândalos brancos, que os mouros muito estimam na Índia e na Pérsia, onde se gasta muita soma deles, e têm grande valia no Malabar, Narsinga e Cambaia.

Antes dos portugueses existem várias referências de manuscritos chineses à ilha de Timor (8), correspondente ao topónimo Ti-wu (com variantes Ti-mat, Ti-mön, ou Ti-men) e se num primeiro, datado de c. 1250, se referem várias ilhas e regiões a propósito das especiarias incluindo o sândalo, no  Tao-I-Chih-Luëh (9), datado de c. 1350, existe uma descrição detalhada da ilha de Timor (Ti-men) afirmando-se que nas montanhas não crescem outras árvores senão sândalo, que é muito abundante (Durand, 2006: 35).
 

Usos tradicionais do sândalo

Sobre os usos do sândalo, medicinais e higiénicos, diz-nos Garcia de Orta (p. 282):

E quanto he ao sandalo branquo e amarelo, muyto grande cantidade se guasta em toda a India; porque toda a mais gente, ora sejam Mouros ora Gentios, se untam com sandalo desfeito em aguoa, e pisado em pedras, que pera esse mister tem feitas; e asi untam todo o corpo até que se seca pera estarem frios, e cheirarem bem; porque esta terra he muito quente, e a gente della muyto amigua de cheiros.

Os usos medicinais e terapêuticos do óleo e do pó de sândalo estão referenciados em bibliografia recente de que se salientam: efeito refrescante e sedativo, tónico cardíaco, digestivo, anti-oxidante, anti-pirético, antídoto de venenos, purificador do sangue, anti-cancerígeno em especial relativo à epiderme (e. g. Sindhu et al., 2010; Mukherjee, 2013), sendo os constituintes principais um álcool sesquiterpénico designado santalol com dois isómeros (α-santalol e β-santalol).

Um outro uso referido para o sândalo é a sua utilização nas piras funerárias dos notáveis e ricos, na Índia mas também noutras regiões da Ásia - na Peregrinação, Fernão Mendes Pinto refere vários exemplos (e. g. Pinto, 1996 (1614): 616, 727).

Sobre a área de origem do sândalo

Às tantas Ruano afirma (p. 285): “Antonio Musa diz que o sandalo aos Portuguezes o devemos; que o trazem do campo de Calecut, onde se colhe, e que Calecut he a principal feira que ha na India; e vós dizeis que o ha em Timor, e o vermelho em Tanasarim, terras confins de Malaca.

Ao que Orta responde:

“[…] em Calecut não ha campo, senam serras e palmares ao longo da praia; e o [sândalo] que vem, os Portuguezes o trazem nas suas náos de Malaqua em muita cantidade, donde vem ter a Cochim e a Goa; e destes portos se reparte para o Malavar e o Canara, e Benguala, e pera o Decam, e pera o Guzarate: e a mais pequena parte vai pera Ormuz, e pera Arabia, e pera Portugal, como vos já dixe.

Ainda afirma Orta (p. 283)

E tornando a dizer donde nasce o sandalo branco e amarelo, diguo que em Timor (a qual ilha tem muytos portos de huma banda e de outra); e diguo que o de Mena, que he hum porto, he o milhor de todos, e tem menos páo que os outros: e Matomea, que he outro porto, tem um sandalo amarelo, mas tem muyto páo.[…] E também há sandalo em Verbali (que he um porto de Jaoa (10) e há nelle sandalo amarelo e branco, e tem muyto forte cheiro, mas dura este sândalo pouquo;”

Diz-nos ainda Garcia de Orta (p. 287)

“[…]porque o branquo he mais chegado a natureza do citrino; pois ambos se acham em huma mesma terra e o vermelho he muyto longe donde nasce o branco. E tambem quero que saibaes que este arvore do sandalo se dá em outras partes, se o prantam, e eu o vi em Amdanager, onde foi trazido para se semear: e he este Amdanager huma cidade do Decam, onde reside o Nizamoxa (11), cuja he, muytas vezes.”

Podemos dizer que fica a pairar um mistério. Não havendo dúvida de que a ilha de Timor era a principal fonte do comércio de sândalo (12), não se percebe bem por que as matas da Índia não seriam mencionadas e/ou exploradas com um estatuto relevante. É verdade que Orta também afirma, aliás encerrando o colóquio (p. 288): “E também dizem as Malavares que há na sua terra hum páo cheiroso que parece ser sandalo branquo; e untamse com ele pera as febres, e chamamlhe os Malavares sambarane.

O Conde de Ficalho debruça-se sobre este tópico e avança a interpretação de que não se teria feito a identificação entre as árvores da Índia e as das regiões mais afastadas, onde se inclui Timor, acrescentando ainda que Orta fala de uma madeira das proximidades do cabo Camorim que designa como aguila brava – que também é referida como utilizada nas piras funerárias – que, na sua opinião, não será mais do que o sândalo.

Tendo em vista uma pesquisa futura mais aturada deixam-se escritas hipóteses alternativas que ajudem a sistematizá-la.

Tópico de pesquisa

A questão que se coloca então, é: se a existência do sândalo (Santalum album L.) era tão exuberante no Sul da Índia, o que terá levado os portugueses e outros à sua demanda longínqua em Timor?

Só parecem existir três hipóteses para responder a esta dúvida:

-          As florestas de sândalo no Sul da Índia existiam mas não eram mencionadas como relevantes, por alguma razão insólita – seja, por exemplo, a de não se fazer a identificação com a árvore de sândalo, como ficou dito acima;

-          As florestas de sândalo na Índia eram conhecidas mas consideravam-se inacessíveis por algum fator, de ordem política, religiosa, logística, ou outra;

-          As florestas de sândalo no Sul da Índia não existiam no início do século XVI e terão sido plantadas depois, talvez com propágulos de sândalo provenientes de Timor.

Em qualquer caso, parece que importará fazer um resgate da importância comprovada de Timor na origem e rotas do sândalo - ora algo obliterada na bibliografia contemporânea -, hoje um recurso bastante exaurido em Timor-Leste que deveria suscitar uma estratégia de regeneração (e.g. McWilliam, 2001).

 

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  (1) Texto de suporte a uma comunicação com o mesmo título apresentada na Conferência Internacional “A Produção do Conhecimento Científico em Timor-Leste”, 13-15 de agosto de 2014, Universidade Nacional Timor Lorosa’e, Díli.

(2)  Esta data, posterior à sua morte ocorrida em 1568, reflete que o foro permaneceu até então na família próxima.

(3) Intitulada: Aromatum et simplicium aliquot medicamentorum apud indos nascentium historia.
 

(4) Nos excertos do Colóquio que apresentamos mantemos a grafia da edição de 1895.

(5) Indian sandalwood


(6) Veja-se Jaime Sales Luís, op. cit. (p: 6).

(7) Cf. Bulhão Pato (1903) in Jaime Sales Luís op. cit.

(8) Cf. Frédéric Durand op. cit. pag. 32 e seguintes.

(9) Traduzido por Durand como “testemunho resumido das nações insulares”.

 

(10) Grafia usada no tempo para designar a ilha de Java.

(11) Maneira como Orta se refere no texto ao atrás mencionado Nizam Shah I de Ahmednagar.

(12) Não esquecendo a ilha de Sumba, ao Sul da de Flores, que o Conde de Ficalho refere que foi chamada ilha Chandana, ou seja, ilha do sândalo.

 
 

Referências bibliográficas

Annapurma, D.; Rathore, T. S.; Joshi, G. 2004. Effect of container type and size on the growth and quality of seedlings of Indian sandalwood (Santalum album L.). Australian Forestry, vol. 67, n. 2, pp. 82-87.

Applegate, G. B.; McKinnel, F. H. 1993. The management and conservation status of Santalum species occuring in Australia. In McKinnel, F. H. (Ed.) Sandalwood in the Pacific region. Proceedings of a symposium held on 2 June 1991 at the XVII Pacific Sciences Congress, Honolulu, ACIAR Proceedings, n. 49, pp. 5-12.

Barbosa, Duarte. (1516) 1966. Livro – em que dá relação do que viu e ouviu no Oriente (introdução e notas de Augusto Reis Machado). Lisboa: Agência Geral das Colónias.

Brennan, P.; Merlin, M. 1993. Biogeography and traditional use of Santalum in the Pacific region. In McKinnel, F. H. (Ed.) Sandalwood in the Pacific region. Proceedings of a symposium held on 2 June 1991 at the XVII Pacific Sciences Congress, Honolulu, ACIAR Proceedings, n. 49, pp. 30-38.

Bulhão Pato, R. A. 1884. Cartas de Afonso de Albuquerque, Tomo I. Lisboa: Academia Real das Ciências de Lisboa.

Camões, Luís de. 1572. Os Lusíadas. Lisboa: Antonio Gõçalvez Impressor.

Durand, Frédéric. 2006. Timor: 1250-2005. 750 ans de cartographie et de voyages. Toulouse - Bangkok: Editions Arkuiris- IRASEC.

Fontes da Costa, P.; Nobre-Carvalho, T. 2013. Between East and West: Garcia de Orta’s Colloquies and the circulation of medical knowledge in the sixteenth century. Asclepio v. 65, n. 1, p:0008. http://dx.doi.org/10.3989/asclepio.2013.08

Gamage, Y. M. M.; Subasinghe, S. M. C. U. P.; Hettiarachchi, D. S. 2010. Change of seed germination rate with storage time of Santalum album L. (Indian sandalwood) seeds. Proceedings of the 15 th International Forestry and Environment Symposium 26-27 November, pp. 279-281.

Harisetijono; Suriamihardja, S. 1993. Sandalwood in Nusa Tenggara Timor. In McKinnel, F. H. (Ed.) Sandalwood in the Pacific region. Proceedings of a symposium held on 2 June 1991 at the XVII Pacific Sciences Congress, Honolulu, ACIAR Proceedings, n. 49, pp. 39 – 43.

Kumar, A. N. A.; Joshi, G.; Ram, H. Y. M. 2012. Sandalwood: history, uses, presente status and the future. Current Science, vol. 193, n. 12, pp. 1408-1416.

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Orta, Garcia de. (1536) 1895. Colóquios dos Simples e Drogas da Índia (dirigida e anotada pelo Conde de Ficalho), vol. II. Lisboa: Real Academia das Ciências de Lisboa.

Paulino, Vicente. 2012. Remembering the Portuguese Presence in Timor and its Contribution to the Making of Timor’s National and Cultural Identity, in (Laura Jarnagin, Ed.) Portuguese and Luso-Asian Legacies in Southeast Asia 1511-2011, vol. 2, Singapore: Iseas Publishing, pp: 88-111.

Pinto, Fernão Mendes. 1998 (1614). Peregrinação (transcrição de Adolfo Casais Monteiro). Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda.

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Sales Luís, Jaime. 2012. A Cultura do Sândalo (Santalum album) em Timor-Leste. Vila Real: Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Série Técnico-Científica nº 44.

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Subasinghe, S. M. C. U. P. 2013. Sandalwood research: A global perspective. Journal of Tropical Forestry and Environment, vol. 3, n. 1, pp. 1-8.

Subasinghe, S. M. C. U. P.; Gamage, Y. M. M.; Hettiarachchi, D. S. 2013. Essential oil contente and composition of Indian sandalwood (Santalum album) in Sri Lanka. Journal of Forestry Research, vol. 24, n.1, pp. 127-130.

Thomaz, Luís Filipe. 1998. De Ceuta a Timor (2ª Ed.), Algés: Difel.



NOTA: quem quiser aprofundar o tema da chegada dos portugueses à ilha Timor no século XVI pode consultar o texto "Memórias do sândalo: Malaca, o atrator Timor e o canal de Solor" http://hdl.handle.net/10400.5/8446
 

 

© Maria Estela Guedes
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