Quanto a Le
Parc des Sources, Vichy trata-se de uma pintura, só na aparência,
realista. A cadeira vazia é um sinal de alerta.
Os dois homens, de costas, são Schlesinger e Clark.
Embora se possa logo contrapor que uma representação frontal seria mais
óbvia, mais naturalista, por que razão estão de costas? E a cadeira
vazia, porque está lá? Seria
destinada ao pintor? Talvez a razão esteja na ruptura, mais ou menos
próxima e que já se anunciasse, nas relações entre o pintor e os dois
homens. A relação com Peter acaba em 1971.
Estranha-se também a total ausência de outros
figurantes na paisagem. Embora das sombras
haja apenas um esboço, que podia
ser apenas o saibro numa zona mais calcada, é difícil entender que a
cena não seja diurna. Ninguém no parque àquela hora?
Ouve-se, quase, o silêncio... Como cantaram Paul
Simon e Art Garfunkel, Hello
darkness my old friend/ I’ve come to talk with you again...
Querendo ser-se
irritante, poder-se-ia dizer que
não é uma pintura realista pois se passa algo de esquisito com os pontos
de fuga. Há paralelas a convergirem para pontos distintos, um efeito
demasiado visível para não ser intencional.
É uma pintura que deixa o seu peso na memória.
Acontece com os grandes trabalhos.
Há uns anos estava em Paris e, não sei por que
razão, pensei que a pintura representava uma parte do Jardin du
Luxembourg.
Na altura procurava uma imagem para fechar um
chapbook, Calle de José
Abascal, com poemas escritos
num quarto de hotel em Madrid.
Ficam aqui um poema desse opúsculo e uma variação
do tema de Hockney que, esta ou semelhante, lhe serviu de fecho.
Guernica
Esta é a tela
que se apodera
dos nossos olhos
a fogo lento.
Para as outras
que os cobiçam
ficam as correntes
da espera.
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