Nem praticante
de bancada sou, no que se refere à maioria dos desportos. Os desportos
aquáticos, por exemplo, saltos para a água, em particular.
Passa-se tudo muito de repente. Exagerando, está o
apresentador a falar sobre o tipo de salto que vamos ver e já o saltador
está dentro da água. Ficam na memória algum acerto ou desacerto de
braços e pernas e a entrada na água.
Como escrevi uma vez
A cratera da
água sorve o fôlego
num instante.
Na patinagem artística sobre gelo, o problema com
os saltos é parecido, inside
edge, outside edge, triple axel, triple lutz... nós a contarmos as
rotações, faltando sempre uma... e ainda aquelas obsoletas figuras
obrigatórias, traçadas seis vezes, a mudar de pé e aresta não sei
quantas vezes e cujo objectivo final era obter uma
única curva no gelo.
Acontece porém, muitas vezes, criar-se uma especial
simpatia por um certo desportista e passar-se a seguir a sua carreira
atentamente.
Ao longo da vida, tive muitos casos,
em desportos que, visualmente, me deixam quase indiferente:
Ayrton Senna, Laurent Fignon, Mark Spitz, Steve Redgrave...
Porquê? Carisma, sobretudo.
Foi o que aconteceu com o americano Greg Louganis,
que vi pela primeira vez nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, 1984,
puramente por acaso. Medalha
atrás de medalha, fui seguindo a carreira e vi-o ainda quatro anos
depois, em Seoul. Foi o único homem a ter ganho medalhas de ouro nos
saltos de 3 e 10 metros, em olimpíadas sucessivas. Não fora o boicote,
teria, provavelmente, ganho também em Moscovo.
Em Seoul, a sua actuação teve aspectos dramáticos.
Num dos saltos de 10 metros, bateu com a cabeça no trampolim.
O poema que escrevi continua
... instante.
A cabeça do saltador
desfar-se-á
na descida.
Ao encontro
na beira
de uma
mancha com a luz
do sangue
amortecido.
O poema,
Retrato de Greg Louganis, alude nesta parte ao incidente e a outras
circunstâncias que não me interessa aqui explorar.
Anos passaram e foi publicada uma biografia de
Louganis, Breaking the surface,
cuja capa era uma fotografia de Annie Leibovitz.
Esta a razão da introdução feita até agora.
O trabalho de Leibovitz não me interessa especialmente.
Too glossy magazine, diria. No entanto, a qualidade de alguns dos
seus retratos é, no mínimo e para mim, por vezes inesperada.
Compilei uma pequena
galeria de retratos de Ms Leibovitz que, por razões várias, merecem, em
minha opinião, contemplação menos apressada.
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