Não creio que Paul Auster ande por aí a
distribuir elogios, de forma impensada.
E, no entanto, escreveu
“I
Remember é uma obra prima. Um a um, os chamados livros importantes
do nosso tempo serão esquecidos, mas a modesta
pequena pérola de Joe Brainard perdurará. Com frases
declarativas, directas e simples, ele traça o mapa da alma humana e
modifica de forma permanente a nossa forma de olhar o mundo. I
Remember é, ao mesmo tempo,
hilariante e profundamente comovedor. É também um dos poucos livros
completamente originais que alguma vez li.”
sobre aquilo que, à primeira vista, parece ser
um caderninho insignificante.
I Remember
é composto por pequenos textos de um só paragrafo, alguns um só período,
começando todos com a expressão I
Remember. Alguns exemplos:
Lembro-me
de quando a poliomielite era a pior coisa do mundo.
Lembro-me
da única vez que vi a minha mãe chorar. Estava a comer tarde de damasco.
Lembro-me
de quando fui de Marilyn Monroe a uma festa sob o tema “venha vestido
como a sua pessoa preferida”.
Lembro-me
da primeira vez que vi televisão. Lucille Ball estava a ter aulas de
ballet.
Lembro-me
do dia em que John Kennedy foi morto.
Lembro-me
de um professor de História Americana que estava sempre a ameaçar
atirar-se pela janela se não acalmássemos. (Segundo andar.)
Lembro-me
de quando trabalhava numa loja de antiguidades/velharias e vendia tudo
mais barato do que devia.
Lembro-me
de muitos meses de Setembro.
Lembro-me
de quanto tentei gostar de Van Gogh. E de quanto, por fim, gostei dele.
E de quanto, hoje, não o suporto.
Lembro-me
de ler as cartas de Van Gogh para Theo.
Lembro-me
da delicadeza de Marylin Monroe em The Misfits.
Lembro-me
de James Dean e do seu blusão em nylon
vermelho.
Joe Brainard (1942-1994) foi escritor e artista
plástico, associado à New York
School.
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