REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 46 | junho-julho | 2014

 
 

 

 

GABRIELA ROCHA MARTINS

ser ou não ser ,eis a questão!

 

Gabriela Rocha Martins Gouveia (Portugal). Ensaísta, poeta, organizadora da Bienal de Poesia de Silves. http://cantochao.blogspot.pt http://umnovoremansoparavelhasmetaforas.blogspot.pt 

 

EDITOR | TRIPLOV

 
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aproveitei o meu período de férias ,entre outras coisas ,para colocar em dia as minhas leituras .li novos livros ,mas ,sobretudo ,reli alguns ,cuja presença me é necessária quase como o comer

.é o caso de Hamlet

.porquê ,Hamlet? quem é ,de facto ,Hamlet?

Quem tem a sorte da nascer personagem viva, pode troçar da própria morte, porque não morre nunca! Pode morrer o homem, o escritor, o instrumento de criação, mas a sua criatura, essa nunca morre! E para viver eternamente nem sequer precisa de ter dotes invulgares ou de obter prodígios. Quem era Sancho Pança? Quem era D. Quixote? E, no entanto, estão vivos para sempre porque tiveram a sorte de encontrar uma fantasia que os soube criar, insuflar-lhes vida para toda a eternidade!” – escreveu Luís Francisco Rebello

.é assim que o personagem de Hamlet sobrevive ao seu próprio criador ,que ao certo não sabemos se era William Shakespeare ,filho de um magistrado municipal ,cujo baptismo foi registado na igreja paroquial de Stratford ,com a data de 26 de Abril de 1564 ,ou se outro que escreveu ,sob o mesmo nome ,uma trintena de comédias ,tragédias e tragicomédias que ,para uns ,”são um dos mais altos vértices do génio humano ,e ,para outros ,o produto monstruoso de um bárbaro

.quem quer que tenha sido o criador de Hamlet ,do que não restam dúvidas é que o príncipe transpôs ,sem envelhecer ,quinhentos séculos

.mas ,Hamlet não é o único a ser eterno

.com ele ,são.no Antígona e Electra; Inês Pereira ,D. Quixote e D. Juan; Hedda Gabler ,o tio Vânia ,Bernarda Alba ,a Mãe Coragem e quantas e quantos ,cujos nomes se nos tornaram familiares ,assim como os rostos ,os actos ,os gestos ,e ,as palavras que dizem…

com Hamlet ,porém ,as coisas não se passam ,exactamente ,da mesma maneira .conhecemo.lo tal como os outros ,julgamos conhecê.lo ,mas ,no entanto ,cada vez que o encontramos ,ele surpreende.nos ,porque nos surge sempre diferente ,ainda que as suas palavras e os seus gestos sejam os mesmos .porque Hamlet não é uma máscara aplicada num rosto ,mas um rosto que a cada instante muda de máscara .é um espelho onde um rosto se multiplica em infinitas imagens ,onde se reflectem as suas diferentes máscaras .e aí ,quer queiramos quer não ,Hamlet é o espelho de cada um de nós…

todos nos julgamos apenas um ,quando ,afinal ,somos tantos quantas as nossas máscaras .e Hamlet é a ilustração exemplar deste drama .drama porque o próprio espírito do príncipe
 

 

© Maria Estela Guedes
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