Há alturas na vida em que me lembro de ti, Charly
Gaul.
A quem chamavam o "Anjo da Montanha".
De bicicleta nunca subi o Tourmalet,
mas dei muitas vezes a volta à serra
e parava sempre em Almoçageme
para beber uma laranjada na Pensão Sisudo.
E que será feito de ti, Charly Gaul,
herói da minha adolescência com bicicletas
Para mim nem Federico Bahamontes (de Toledo)
nem mesmo o meu amigo José Manuel Fuente
conseguiram alpinar aos cornos da Lua porta com porta
com o teu coração luxemburguês.
Onde estarão agora esses pedais? Serás pedreiro?,
manga-de-alpaca?, vendedor de triciclos?,
fulano de tal?, uma charrua ambulante?
Que será feito de ti?, anjo da montanha
dessas minhas tardes ventosas de verão
quando descia às Arcadas para beber o "Mundo
Desportivo"
(eram quatro rins!) e saber como pedalavas a vida
subindo a Volta à França.
Olha esta febre, Charly Gaul:
vejo cada vez menos gente a fugir ao pelotão.
E podes dormir de rosa na boca:
se fosse possível voltares às bicicletas
continuarias a subir sozinho o Tourmalet.
Praia Ribeira d' Ilhas
-- 18 - VIII-74
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