EUGÉNIO
Da boca do
Eugénio não saem palavras, mas sim
ovos.
O pai diz que
Eugénio é um rapaz.
A mão chora
durante a noite no lenço com o
monograma.
Eugénio acredita
ser uma rapariga e diz que
se chama Joana.
Anos mais tarde,
Eugénio há-de matar uma mulher
que se chama
Joana.
Então, Eugénio
será internado num manicómio e a
sua mãe deixará
de chorar.
A ESTRANGEIRA
Há pouco tempo,
uma senhora idosa deu uma queda ao sair do autocarro.
A sua peruca
caiu ao chão. uma segunda cabeça sem rosto.
Várias pessoas
aproximaram-se para a ajudar, mas a mulher ficou estendida,
sem se mexer.
Desde então mais
ninguém se mexeu, embora a mulher fosse uma
estrangeira que
não gostava daquela cidade.
A VARANDA
A rapariga
envelheceu, cresceu-lhe um caixão na barriga.
As mamas sobre a
mesa.
Os amantes
(chamavam-se todos Robert ) já morreram há muito.
Antes de se
deitar a rapariga vai à varanda.
Onde a sombra
espera. Onde a lua espera.
A lua germina.
A germinação é
uma cantiga.
As gotas das
folhas da lua caem nos pés da rapariga.
A lua dança, diz
a rapariga. Dança para nós.
A FIRMA
Ele enganava-a
sempre à terça-feira.
Ela enganava-o à
quinta.
Num sábado ele
pediu-lhe: mistura pioneses
no meu arroz.
Ela fez um
cozinhado picante. Acendeu uma vela azul.
Pôs um tango.
Abraçaram-se.
cegamente.
Então, o sangue
começou a correr
da sua boca
e do seu ânus.
Ela nunca o
tinha achado tão erótico.
No domingo
pediu-lhe: bate-me.
Ele bateu-lhe
com o cinto no rosto. E arrancou-lhe
um dedo com o
alicate.
Às dez em ponto
apagaram as luzes.
Na segunda-feira
tinham de se levantar muito cedo.
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