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Através dos anos, pelos anos
fora, as exposições que fui fazendo geralmente tinham uma escassa
comparticipação monetária das entidades que mas propunham, sugeriam,
consentiam ou artilhavam.
Nada de mais – é o natural
que sucede a quem, como eu, geralmente não punha os quadros em venda.
Aqui vos confesso e contra mim falo: não me convencia de que um pintor,
para o ser a sério (económico-socialmente falando), tinha de ter uma
estratégia, uma sistemática, passando pelo honrado fazer-e-vender que
não fica mal a quem, se para aí estiver virado, trabalhe nas pinturações
e a seguir as venda – se houver gentes que com desvelo ou interesse lhas
queira comprar…
Eu custava-me separar-me
dos meus quadritos. Ganhava-lhes afecto, tanto mais que, como não sou
totalmente destituído de argúcia, também pensava que na altura não iria
por eles receber grandes réditos…
(Estão hoje, em razoável
quantidade, pespegados nas paredes inocentes
da Casa da Muralha, de Arronches,
estancia dos ancestros que, com recurso proverbial à amabilidade
comercial da CGD, reconstruí e beneficiei pensando nos vindouros
familiares. E noutros que um dia por lá vão calhando de passar).
Só na idade madura,
madurinha, comecei de vender, quando o rei fazia anos, cartões para
tapeçarias, painéis de azulejo e cerâmica…Tanto mais que – marotamente o
digo – não era preciso ficar sem os originais, pois a maravilhosa
tecnologia de agora (que depois desses tempos iria aparecer e honra nos
seja) permite cópias fiéis ou quase fiéis do que se congeminou e criou.
Ou seja: geralmente era eu
que fazia o original dos catálogos, depois bondosamente copiados pelas
tais entidades em soma suficiente para os embalos dos visitantes.
Foi assim e não me queixo,
tal desiderato deu-me entre outras coisas o ensejo de agora vos
apresentar, com a estima que sabem, estes alguns exemplares que aqui
deixo à vista.
Ou seja: ganhei o prazer de
os fazer e agora ganho o prazer de os apresentar aos confrades. Como
dizia Renoir ao seu filho cineasta “o pintor, meu querido Jean, nem sempre sai a perder”.
Faço minhas as suas palavras.
ns
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