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EUGENE GUILLEVIC
Poemas
traduzidos por Francisco Craveiro
Eugène Guillevic por Sophie Bssouls 1977
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Guillevic (Eugène), poeta francês,
1907-1997, nascido em Carnac. Segundo a Wikipedia, versão inglesa,
“His poetry is concise, straightforward as rock, rough and generous,
but still suggestive.” A sua formação em Matemática levou,
provavelmente, a que escrevesse Euclidiennes, uma colecção de poemas
tendo a geometria elementar por base.
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Sobre o
Domínio (excertos)
No domínio que governo,
Não se fala do vento.
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O pântano.
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São as árvores
Que fazem de sentinelas.
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No domínio,
Os arbustos
Não se lamentam.
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Não esperem
Que a senhora venha
A qualquer janela.
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As fronteiras
*
Não estão suficientemente marcadas
Para que sejam franqueadas
Impunemente.
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Os horizontes
Vigiam as árvores.
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No domínio
Não se sabe sempre
Onde está a superfície.
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Talvez o domínio seja
Um sonho
*
Que encontrou
O seu território.
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Não se deixa o domínio
Sem o levar.
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Não se entra
No domínio
*
É ele
Que vem.
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Aqui, a música
Leva a habitar o círculo.
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O pântano
Não é inimigo do sol,
*
Raramente se espiam.
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São as groselhas
*
Quem melhor sabe
Falar do sol.
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Passa um riacho
Qualquer que seja o nível.
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Nunca se sabe
O que fará o ramo,
Da próxima vez.
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As pedras não estão certas
De lá ter estado
*
Quando era preciso.
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A água do pântano
*
Nunca apanhada
Em flagrante delito.
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Nem uma única folha
Que não deseje
*
Alguma coisa
Como um ombro.
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Alguns sonham
Os sonhos do pântano.
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A água do pântano,
*
Viúva
Do oceano.
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A água
Dos choros.
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Aqueles que trabalham a terra
Têm mãos mais solares.
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Uma luz
Com gosto a húmus
*
Onde o tempo
Se prepararia.
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O horizonte
Condena-nos ao círculo.
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Há folhas
Mais taciturnas.
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Pode sempre pensar-se
Que o branco vai arder.
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Ir
Até ao pântano.
*
Tentar, desta vez,
Não
O interrogar.
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A andorinha
Não te verá.
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É possível que o céu
Tema as fontes.
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O teu corpo de mulher
Mergulha mais fundo do que os poços.
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Onde o vento não fala,
Ouve-se o tempo.
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Tu não viste
Os adeuses do orvalho.
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A água que bebes
Conheceu o mar.
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Somos todos daqui.
*
Parecemos todos
Vir de algures.
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O sol
Nada sabe da sombra.
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Em suma,
tu e a nascente
Estão inocentes.
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Apoiar-me-ei na árvore
E a árvore nos interstícios
Da floresta.
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Se a água
Te tivesse desejado
Para confidente?
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Cada árvore
Tem a sua maneira
*
De seduzir o sol.
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O horizonte
Nunca pestaneja.
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Não inventaste
Os cabrito-monteses
Nem as borboletas.
*
Antes de ti as águas
Dormiram muito tempo.
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Não esqueças
O machado.
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Tenta lembrar-te
De uma pedra
Em especial.
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O gladíolo
Não precisa de ninguém.
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A rã
Lembra-se
Que deve cantar.
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A andorinha
Fará o seu relatório.
*
Exacto.
Exíguo.
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Esquecem-se de nós,
Dizem os répteis.
*
Vigiemos.
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