REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 42-43 | dezº 2013-janº 2014

 
 

 

 

EUGENE GUILLEVIC

Poemas traduzidos por Francisco Craveiro 

 

Eugène Guillevic por Sophie Bssouls 1977

Guillevic (Eugène), poeta francês, 1907-1997, nascido em Carnac. Segundo a Wikipedia, versão inglesa, “His poetry is concise, straightforward as rock, rough and generous, but still suggestive.” A sua formação em Matemática levou, provavelmente, a que escrevesse Euclidiennes, uma colecção de poemas tendo a geometria elementar por base.

 

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Sobre o Domínio (excertos)

 

No domínio que governo,

Não se fala do vento.

 

**

 

O pântano.

 

**

 

São as árvores

Que fazem de sentinelas.

 

**

 

No domínio,

Os arbustos

Não se lamentam.

 

**

 

Não esperem

Que a senhora venha

A qualquer janela.

 

**

 

As fronteiras

 

*

Não estão suficientemente marcadas

Para que sejam franqueadas

Impunemente.

 

**

 

Os horizontes

Vigiam as árvores.

 

**

 

No domínio

Não se sabe sempre

Onde está a superfície.

 

**

 

Talvez o domínio seja

Um sonho

 

*

 

Que encontrou

O seu território.

 

**

 

Não se deixa o domínio

Sem o levar.

 

**

 

Não se entra

No domínio

 

*

 

É ele

Que vem.

 

**

 

Aqui, a música

Leva a habitar o círculo.

 

**

 

O pântano

Não é inimigo do sol,

 

*

 

Raramente se espiam.

 

**

 

São as groselhas

 

*

 

Quem melhor sabe

Falar do sol.

 

**

 

Passa um riacho

Qualquer que seja o nível.

 

**

 

Nunca se sabe

O que fará o ramo,

Da próxima vez.

 

**

 

As pedras não estão certas

De lá ter estado

 

*

 

Quando era preciso.

 

**

 

A água do pântano

 

*

 

Nunca apanhada

Em flagrante delito.

 

**

 

Nem uma única folha

Que não deseje

 

*

 

Alguma coisa

Como um ombro.

 

**

 

Alguns sonham

Os sonhos do pântano.

 

**

 

A água do pântano,

 

*

 

Viúva

Do oceano.

 

**

 

A água

Dos choros.

 

**

 

Aqueles que trabalham a terra

Têm mãos mais solares.

 

**

 

Uma luz

Com gosto a húmus

 

*

 

Onde o tempo

Se prepararia.

 

**

 

O horizonte

Condena-nos ao círculo.

 

**

 

Há folhas

Mais taciturnas.

 

**

 

Pode sempre pensar-se

Que o branco vai arder.

 

**

 

Ir

Até ao pântano.

 

*

 

Tentar, desta vez,

Não

O interrogar.

 

**

 

A andorinha

Não te verá.

 

**

 

É possível que o céu

Tema as fontes.

 

**

 

O teu corpo de mulher

Mergulha mais fundo do que os poços.

 

**

 

Onde o vento não fala,

Ouve-se o tempo.

 

**

 

 

Tu não viste

Os adeuses do orvalho.

 

**

 

A água que bebes

Conheceu o mar.

 

**

 

Somos todos daqui.

 

*

 

Parecemos todos

Vir de algures.

 

**

 

O sol

Nada sabe da sombra.

 

**

 

Em suma,  tu e a nascente

Estão inocentes.

 

**

 

Apoiar-me-ei na árvore

E a árvore nos interstícios

Da floresta.

 

**

 

Se a água

Te tivesse desejado

Para confidente?

 

**

 

Cada árvore

Tem a sua maneira

 

*

 

De seduzir o sol.

 

**

 

O horizonte

Nunca pestaneja.

 

**

 

Não inventaste

Os cabrito-monteses

Nem as borboletas.

 

*

 

Antes de ti as águas

Dormiram muito tempo.

 

**

 

Não esqueças

O machado.

 

**

 

Tenta lembrar-te

De uma pedra

Em especial.

 

**

 

O gladíolo

Não precisa de ninguém.

 

**

 

A rã

Lembra-se

Que deve cantar.

 

**

 

A andorinha

Fará o seu relatório.

 

*

 

Exacto.

Exíguo.

 

**

 

Esquecem-se de nós,

Dizem os répteis.

 

*

 

Vigiemos. 

   
 

 

© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
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