REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | 2011 | Número 15

   

 

 

LUÍS COSTA

 

5 POEMAS DO LIVRO

«ARQUEOLOGIA NOCTURNA»

                                                   

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
Dir. Maria Estela Guedes  
Página Principal  
Índice de Autores  
Série Anterior  
SÍTIOS ALIADOS  
TriploII - Blog do TriploV  
Agulha Hispânica  
Filo-cafés  
O Bule  
Jornal de Poesia  
Domador de Sonhos  
O Contrário do Tempo  
 
 
 
 
FRAGMENTO 
 

[... ] 

As imagens alinham-se . Os pórticos da vista, oblíquos. A esposa lava o sexo.

O esposo olha - a. Traz na testa a cavilha nupcial, ao alto.

A luz é uma fabulosa cegueira que desliza pela  ramada das mãos.

Ó grande luz! Ó luz antiga!

No quarto, ao lado, a criança dorme o sonho arcaico. A maneira como sonha

acorda o punho do íman, dentro, no mel.

Pendurado nas veias dos deuses, o vidente acena e ri.

Os segredos da terra estalam - lhe,  na boca, nocturnos,

são vasos comunicantes nas harpas.

Um jardim nos limites. A  confissão do mar. A música que implode na soberba coluna dos astros.

E velhos galeões rompem as pedreiras da alma. A clepsidra da infância

explode no peito do deus . Ah... !

É então que os marinheiros mortos sobem à terra e invadem as ruas.

O enxofre dos seus cânticos  purifica o sangue . O jarro do mistério

repousa na sombra da porta, junto à mulher.

  DAS COLHEITAS
 

Os reflexos dos cestos, nos espelhos, nas paredes do barro.

Em frente, o fogo.

E as sombras dos mortos, no jardim, contam as estrelas.

Os animais aproximam-se pelo cio da água.

Fontes! Rios!

Asas enroladas à cintura do bosque.

 

A certas horas, neste lugar,

a água dança à volta do fogo.

E as noras ouvem-se, dentro das cisternas,

possantes.

Um campo abandonado.

O retinir das bandeiras.

Ah! E suave o vento rasteja pela terra arável dos sonhos.

 

Estas ruas! Encruzilhadas!

Sempre as mesmas, mas sempre outras.

Aqui, o sangue estremece para desabrochar

na resina do cântico.

 

E as estátuas ardem

no palato do homem que dorme.

A velha criança espreita-o. É uma gateira oceânica.

 

Ó grande vento nocturno!

Amanhã a colheita acontecerá

- talvez!

  A RODA DA APARIÇÃO
 

A busca incógnita da boca em flamas. O corpo acende-se nas candeias da água.

Ah! Os arcos coarctados. As flores. Raparigas que passam. Tendas.

Lá dentro, as torneiras. Cântaros luminosos.

Senhores que bebem  o húmus do vigoroso acto das mulheres.

As antigas máscaras.

O viajante sentado na horizontalidade dos triângulos obscuros.

À sua volta, as longas mãos de um deus anelado.

O mar incansável, impenetrável.

A poderosa transparência no pinhão e roda de um coração com comboios de plasmas às janelas.

Galeões que repousam, naufragados, na mecânica do tempo.

Seus cavalos relinchantes. ( Errantes )

Seus cavalos de vento dentro da motriz dos líquidos.

E a voz moldando a resistência  dos metais.

A aparição da aparência. Ó  jasmim da grande viagem! O sangue.

  ASCENSÃO  DA CARNE    
 

Ergues-te do sonho

por entre o  perfume das tardes  arcaicas

das  amoras iluminadas que ardem na boca

como a órbita viva dos planetas

e o rapaz de olhos muito azuis

em frente ao  silvado

com a sinfonia  das aves nas mãos

 

Os pinheiros que vergam o vento

e a rapariguinha que chega   com o arco

das grandes  colheitas nos gestos

A  semente  das  uvas  na  fronte

flancos  por onde cresce  a glória dos pais

A casa

O pátio onde os cavalos sossegam

entre as  coroas do feno

 

Ergues-te do sonho

a têmpera dos metais gira ao alto

na colina

a águia desce para beber

o manar da terra

e renasce  no bordão  impregnado de mistério

um barco  navega no pórtico  dobrado da música

uma vela

floresce no  átrio diurno 

das ancas da mulher

 

A mulher  de branco

o tijolo rubro

as flores do ar

instante  em que as sombras  se iluminam

..... 

 

E lá atrás, o Oceano Atlântico

murmurante

a sua fantástica juba  sacudindo-te os pés.

  DAS OFICINAS
 

[ ... ]  

As aves  não morreram. 

O sangue corre pela geometria da sombra.

A neve incendeia-se na boca dos animais.

 A neve .  O cântico .  Um jarro de  vazio .

O rimbombar das oficinas.

As  mãos metálicas.   O nó das mãos. 

 

Porém    no  fundamento do  pés as aves 

já se agitam 

e a filha traz um cântaro iluminado na boca.

 

É a gloria de seus pais 

quando  a luz da água sonha

borbulhante.

 

 

Luís Costa (17 de Abril de 1964, Carregal do Sal. Portugal).
Tem vindo a editar trabalhos em revistas e sites digitais como: revista Conexão Maringá, revista Zunái, jornal Triplov, site Triplog e revista Agulha.
Blogue pessoal: http://oarcoealira.blogspot.com/
Contacto: l.Costa@web.de

 

 

 

© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
PORTUGAL