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Quem compreender aquilo que é
novo através da reutilização
do que é antigo pode vir a ser um Mestre. Confúcio
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Rege a Lua a quimera do sonho e do êxtase; o
sonho se comporta, dessarte, como uma aparição, separação
temporária entre a Alma e o corpo. Para os preclaros ocultistas,
trata-se da via ou da viagem por o chamado mundo astral, e, para
os povos da Antiguidade, era a forma preciosa de comunicação com
o Sobrenatural. Daí que possamos considerar a visão e a «rêverie»
como o estado e a estação do misticismo, daí que, no
significante ou ciência das Letras, Jorge Telles de Menezes se
mova numa linha onde se encontram, e bem, Teresa de Ávila,
Plotino e S. João da Cruz.
É no endeusamento ou entusiasmo do sonho que
Menezes se cura, que Menezes procura os arquétipos e símbolos do
inconsciente colectivo; daí que, na mistagogia ou misteriosofia,
o arquétipo seja, simultaneamente, a arcaico e o arcano. Na sua
escola, escala ou didascália, o Jorge nos educa ou nos eduz, o
Jorge nos conduz, hierogrâmato, para uma gramática gnósica,
hermética e alquímica: a selenographia, então, além de ser
rimance, é qual iniciação nos mistérios românticos – e
alcandorado, e alteado, é o Percy Bysshe Shelley.
Da Lua o «daimôn», como vemos, é o domínio,
não da razão, mas sim do sentimento, do encantamento, e da magia
das imagens. Ora a «imago» é o que tende para se tornar real, e
o mundo imaginal é o medianeiro ou médium entre a monda sensível
e o mundo inteligível; e trata-se, aqui, das formas ou fantasmas
em suspenso. Em estrénuo espiritual deixou escrito, o Estagirita,
que não pode, o ser humano, pensar ou compensar-se sem imagem ou
fantasma… Se a imaginação do homem é, de facto, um pequeno
universo, através das imagens o Menezes labora na magia,
colabora, desse modo, com Deus, no projecto criacionista… |
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Se Deus iniciou a Criação, então cabe ao Iniciado, que é Poeta, o
aumentá-la e terminá-la; e através da catarse, que é uma purga,
reflecte-se, com fé, o macrocosmo em microcosmo. Ora «catharsis» é uma
palavra grega proveniente dos mistérios iniciáticos, e o drama e
psicodrama de Menezes, isto é, a questa e a busca da flor invisível, é,
acima de tudo, uma forma de libertar o Parnaso e as paixões, vivendo-os,
com Alma, de modo imaginário. Porque o sonho é, portanto, uma faxina
para a mente, a metáfora ou mentira que, à força de ser matutada, se
transforma, mirificamente, na verdade promissora. Podemos falar, à guisa
de Janet, da moral desinfecção; se compensar é pôr o penso na nossa
turvação, exprimir um poema, no mental automatismo, é bem espremer,
premente, o pus e o fel da ferida narcísica.
Na linha, então, dos românticos, simbolistas, ou
surrealistas, temos visto e aventado que a selenographia é privilegiado
portal para a exploração do inconsciente, e o mesmo inconsciente, para
Lacan, é o curso e discurso do Outro. E, no século XIX, nos ensinava
Rimbaud que «je est un autre»; numa hermenêutica ou no escólio,
dilata-se e completa-se o Ego, com quê? Com o limo e a lava das furnas,
do antro das Mães, e da palavra ou do palácio da Morte: e aqui dormir,
portanto, é ser Iniciado.
Atenta no senso, amigo leitor. Nós não explicamos um
poema tal como explica, o cientista, a liquefacção ou locomotiva; nós
compreendemos o mesmo poema, isto é, deixamo-nos prender por a magia de
Jorge. Tal é o significado do Historicismo ou das chamadas, por Dilthey,
de ciências do espírito, porque a vida do Autor, segundo cremos,
reflecte-se e repete-se na vivência do ledor. E se o digesto é o
digerido, assimilar um poema é tornar-se similar à metáfora sua. Pois
através da didascália ou psicodrama, isto é, só por meio da didáctica
léxis, o pão do Pneuma é extensivo ou compreensivo ao complemento e à «communio»;
na católica Eclésia, também, a «messis» da Méssia é primórdio para o
Messias…
Destarte e na arte, para Menezes, a Natura é natal e
bem nutrice, e a melhor maneira de lidar ou atinar com a natural
fisiologia será através da personificação, prosopopeia ou fantástico
animismo; e temos, desse modo, a mitologia, como o espaço privilegiado
da Poesia ou «rêverie». E ecologia é qual «école», é qual morada e
namorada do filho do homem. A Bíblia da escola é a Sacerdotisa. O bétilo,
na Pítia, clama por «Beth». Na sideral agricultura ou na geórgica
celeste, o que faz o nosso Jorge é transportar, para a vida vígil, a
feeria ou fantástico do sonho; e essa, pois, é a profecia, esse é o
estado teológico de que falava, com força, o positivo Augusto Comte.
Crismava o sociólogo a Teologia como a fábula fictícia; não será, pois,
a ficção, como o adágio ou apanágio do Poeta que finge, ou melhor, do
que afivela e revela uma plástica «persona»?
Estamos quase a terminar. Uma questão, agora, de
enlevo, o relevante quesito se impõe, preponderante: quem é, no fim de
contas, Jorge Telles de Menezes? Na hermenêutica fausta da hermética
festa, redarguiremos, em resposta: acima de tudo, o nosso amigo Jorge é
um bardo e um rapsodo. E, na ciência das Letras, ou seja, em letradura,
o vocábulo «bardo» tem duas acepções: dilucidemos, dessarte, elucidemos
o ledor. Para os antigos gauleses, com efeito, o bardo era um Poeta
pertencente à escola sacerdotal, era o homem que, cantando e encantando,
defendia, providente, o Panteão do seu povo. Temos visto que tal é o
Profeta; visto havemos, também: provençal é professor.
O segundo significado é mais premente e abrangente,
releva problemas da santa Teosofia. «Bardô» é uma palavra tibetana que
significa, etimologicamente, «entre duas estâncias, estados ou
estações»: ora uma, amável leitor, é a vida; a outra, dessarte, é a
Morte. Pois indo ao imo, e vendo o âmago do lance, «bardô», para os
Budistas, é o estado limiar ou liminar entre duas reencarnações. E se o
ledor, agora, ponderar, que o seu sono e o seu sonho é qual a Morte
quotidiana, cortado terá, em boa hora, o nó górdio do problema, terá,
previdente, resolvido o dilema. Haverá, o homem que lê, de ser, também,
o homem que vê; haverá, qual vidente, quiçá, concluído: Morfeu informa
Orfeu, e morrer, de certa forma, é ser Iniciado: é tal a insígnia, a
signa, e o significante, da selenographia; é tal a parição, e o par, da
celeste aparição, ou pra dizer, com fulgor, de uma vez só: tal é pois,
com Lucina, o sentido e o som da língua latina. |
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PAULO JORGE BRITO E ABREU
Paulo Jorge Brito e Abreu nasceu em Lisboa, Portugal, a 27 de Maio de
1960. Licenciou-se, em 1986, em Estudos Anglo-Portugueses, pela
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
É Poeta, pensador, ensaísta, conferencista, crítico literário, cantor e
psicodramatista; encetou, em 2007, uma carreira de Pintor. Desde 1999, é
Sócio Correspondente da Academia Carioca de Letras; no ano 2000, a União
Brasileira de Escritores atribuiu-lhe, em parabém, a Medalha Peregrino
Júnior de Intercâmbio Cultural. Por o seu contributo para a Cultura
Portuguesa, foi agraciado, em 2006, com uma medalha, pela Escola
Secundária D. Diniz. E por meados, primaveris, dos anos 60, sua Mãe,
Maria Amélia, ensinou-o, correctamente, a ler, a escrever e a contar…
CONTACTO: paulobritoeabreu@yahoo.com.br |