REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | 2011 | Número especial
Homenagem a Ana Luísa Janeira

 

Ana Luísa Janeira
Foto de José M. Rodrigues

 

 ANA LUÍSA JANEIRA

 

(Os meus) espaços

de construção intelectual 

 

Editor | Triplov  
ISSN 2182-147X  
Dir. | Maria Estela Guedes  
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Quando se aplica uma perspectiva de descontinuidade ao caso específico da produção de conhecimento, não surpreenderá verificar quanto ela foi mudando segundo as épocas e os paradigmas; o que talvez pareça menos óbvio, e por isso menos descrito, é quanto e como houve espaços precisos concebidos e organizados, na sequência. Situação que recebeu concretizações particulares e definidoras de inovação ao longo da implementação e consolidação das ciências modernas. Quando, a par dos espaços para o livro, apareceram os espaços de laboratórios, gabinetes e museus, aparentados entre si.

“Gabinetes (Curiosidades, História Natural) Boticas (Conventos, Universidades) e Bibliotecas (Paços Reais, Academias) são espaços, os primeiros antigos, os segundos modernos, com proximidades-distâncias manifestas.

Têm em comum servirem para abrigar a recolha, a reserva, a manutenção e a projecção de um património material e de um legado espiritual.

 
 
 
   
   
   
   
   
   
   
   
   
 
 

Têm de diferente, o tipo de utilidade operativa que lhes é atribuída.

Emergem, porque as configurações epistémicas de onde saem precisam deles, e os vão deixar actuar nos limites do permitido-proibido, onde os conhecimentos dominantes sempre intervêm, num ou noutro caso.

Ao longo dos tempos, sofreram mudanças e estas mudanças decorreram de algumas rupturas, até.

Também por isso, importa determinar as mudanças epistemológicas que ocorreram entre estes espaços e as suas gentes.

Que o gesto de guardar possa ter uma natureza primitiva, a cerâmica pré-histórica está aí para prová-lo.

Mas é por demais evidente que o gesto terá tomado contornos, formas e conteúdos bem diversificados, desde esse tempo até à Biblioteca e ao Museu, na Ilha de Faro.

Como também, desde Alexandria até às bibliotecas de Cister, Upsala, Escorial, Mafra. Ou ainda às raridades mantidas por papas, reis, príncipes.

O hábito de guardar alimentos e sementes requeria pequenas taças incipientes ou ânforas mediterrânicas pomposas.

Mas, a tendência para guardar códices, frascos, alambiques e balanças acabou por determinar a edificação de espaços, caves e sótãos com alguma volumetria.

Ao arrepio da destruição que as cruzadas e as guerras santas provocaram, a Idade Média soube criar mecanismos para enriquecer, por acumulo. À época, houve até quem criasse uma imagem perene - anões aos ombros de gigantes.

Por isso, devemos a costumes medievais consagrados a conservação de testemunhos vindos mais de trás, devido às características da actividade intelectual desenvolvida pela elite, monástica e heráldica.

Na verdade, foram dez séculos de trevas sem trevas, onde operaram copistas meticulosos e gente curiosa, somando legados e anexando descobertas.

Apesar de ainda hoje estar longe de ser uma realidade acabada, a identidade inicial do território europeu esteve ligada à capacidade de desenvolver uma consciência orientada para a memória colectiva, através de objectos culturais e suas condições de preservação.

Sendo assim, havia um substrato milenar de recolha-manutenção (o que, acrescente-se, também aconteceu entre chineses e japoneses, etc.), mas a circunstância vai ter de se amplificar e de mudar muito, por causa do contacto com os Novos Mundos.

As distâncias oceânicas concorreram para aumentar o campo de possibilidade de coisas nunca vistas. Concorreram igualmente para trazer para cá realidades novas, uma multidão daquilo a que o ouvido não estava habituado, ou seja, o «ex-ótico».

Curiosidades eram chamadas.

Enchiam escaparates, estojos e caixas nas salas ou nos salons. Eram os Gabinetes de Curiosidades.

Foram criados e organizados por pretensões estético-culturais, com algum pó de snobismo. Muitos dos armários e estantes pareciam de boticas e de bibliotecas. Às vezes eram mais sofisticados, mas nem sempre isso acontecia.

Faziam pasmar até os espíritos mais superficiais.

Mas também vão acicatar outros, despertando quem olha e quer mexer, virar de frente para trás, cheirar, apalpar. Por isso, começam a ser necessárias bancadas, pinças e lupas mais potentes. Em suma, começam a construir-se lugares cientificamente mais operacionais.

Assim sendo, os Gabinetes de História Natural estão a nascer.

A partir de então, há que aumentar o tamanho e a consistência das reservas operativas para acumular, guardar, preservar. Reservas operativas, é a expressão correcta, porque elas têm de adquirir maior quantidade e qualidade, do manuseamento à utilidade.

Nesta altura, aparecem preocupações associadas ao método: a atitude de guardar passa a ser precedida por uma colecta cuidada e a ser seguida por uma colecção, melhor preparada e mais sistematizada.

Saber-colectar para saber-coleccionar.

As Academias, conscientes do dever que lhes cabe a tal respeito, normalizam a sequência dos momentos e processos.

Por certos aspectos da sua natureza, o Gabinete de História Natural encontra a botica, parente da bodega e do botequim, pelos «espíritos» em que banham as suas águas.

A botica é o espaço onde é praticada a ciência&arte do medicamento, produto para curar uma qualquer perturbação na saúde, desarmonia de humores, como queriam os hipocráticos.

Diferentemente dos casos anteriores, este lugar é também loja, para venda e para compra. Como os médicos, os boticários têm os seus clientes, os pacientes. Semelhantemente às oficinas de ferreiros e de ferradores, e aos laboratórios de alquimistas e de químicos: macerar de simples dentro de almofarizes, decantar licores benfazejos. Aqui todos sujam as mãos. Facto sobejamente discriminatório, porque alimenta desequilíbrios da elite versus povo e da universidade versus artes e ofícios.

Na verdade, o imperativo do saber-fazer, não só introduz um sistema de relações com efeitos no saber-poder, como acarreta fortes consequências sociais para os seus praticantes. Como acontece com os médicos contra os cirurgiões.

A manipulação precisa de receitas (a que as ciências chamam protocolos, na sua experimentação). A medida tem de ser cuidada, nem muito demasiado, nem demasiado pouco. O sistema racionalista impõe-lhe normas. Além disso, é preciso agir segundo códigos corporativos.

Saber-fazer para saber-curar.

Mantidas por práticas e saberes tradicionais, as mesclas, misturas, miscelâneas construíram, durante muito tempo, um tipo de conhecimento a que se vieram opor as análises e as sínteses modernas, progressivamente.

As narrativas museográficas alteram-se, na medida mesma em que se vão alterando as estruturas onde se inserem.

No primeiro conjunto, tendências fortemente vinculadas a um optimismo centrado nas capacidades e virtudes da euforia humanista, em torno do encantamento pela capacidade criativa, da projecção artística à curiosidade científica. Ambiência que se faz acompanhar por um clima financeiro muito favorável, ao servir um surto de mecenatos, onde a riqueza das Repúblicas Italianas

assume um papel relevante.

No segundo conjunto, processos antropocêntricos fascinados pelo empirismo e pelo racionalismo, orientado pelas descobertas sobre as capacidades sensoriais ou dinamizado pelo poder contratual e homogeneizante dos princípios da razão, respectivamente. Ali, critérios de diferenciação que entram mais em conta com as características individuais. Aqui, critérios de universalização que reduzem as marcas específicas.

Gabinetes, Boticas e Bibliotecas o que têm em comum? Têm em comum serem divisões onde grande parte da superfície das suas paredes está escondida por detrás de armários, a presença frequente de varandins, subterfúgio para solucionar problemas de armazenamento, uma ambiência envolvida por um ar de reserva - responderá o olhar furtivo e muito superficial.

Embora o processo que vai reduzir a manipulação e tornar dominante a farmácia química esteja longe, embora o processo que constitui as bibliotecas especializadas só aconteça numa época posterior, o que há de comum entre Gabinetes, Boticas e Bibliotecas é serem espaços privilegiados para a prática do conhecimento e terem sofrido mudanças, segundo as configurações epistémicas que fizeram deles materialidades produzidas pelas culturas pré-modernas ou pelas ciências modernas.”[i]

 

Quer isto dizer que qualquer gesto de conhecimento pressupõe coexistências onde é actualizado, como ainda influencia a forma como estas são estruturadas.  

Na verdade, quer o acto de conhecer, como o seu produto, o conhecimento, requerem uma certa atitude por parte do sujeito, ao mesmo tempo que mobilizam a necessidade de determinados espaços.  

Assim, o processo histórico mostra como o saber esteve articulado a determinados lugares entre a natura e a cultura, do campo ao construído.

 

  ESPAÇOS DE CONSTRUÇÃO INTELECTUAL NO PORTUGAL DO SÉCULO XX
 

 

No seguimento de projectos anteriores dedicados a espaços de produção científica, originados e conservados na modernidade[2], chegou o momento de abordar tempos mais recentes e de reflectir sobre eles, através de uma tónica centrada em experiências pessoais.  

Descendo a um caso particular, na segunda metade do século XX português, a arquitectura e o orçamento das universidades ou de outras instituições tornavam quase inevitável a necessidade de um espaço individualizado para o universitário trabalhar intelectualmente. A carência de gabinetes e as bibliotecas desactualizadas concorriam para que cada um procurasse ter o seu canto, comprando os livros e laborando muito por casa. Diga-se que esta realidade era complementada pela frequência assídua de cafés, hábito tradicional associado a um certo ar de cavaqueira e de tertúlia.  

Assim sendo, a ida a uma biblioteca era feita predominantemente quando não se tinha a bibliografia/documentação adequada, não havia hipótese de empréstimo por parte de amigos/colegas/conhecidos, ou se a investigação exigia o contacto com fundos e fontes declaradamente não-privados.  

Para esta situação concorria uma estrutura com termos e relações ambientadas pela importância atribuída ao livro, menos à revista, o que determinava, naturalmente, um processo educativo onde lhe era atribuída uma identidade única e uma função sem igual. 

Na verdade e para servir esta configuração, havia a preocupação de ensinar como pegar neles, evitando que as crianças os manuseassem sem estar preparadas, e os primeiros dias de aula eram mobilizados pela compra excitante dos manuais, seguidos por horas dedicadas a encaderná-los, desde o início de cada ano escolar.  

Quando se junta ao enunciado anterior a perpetuidade intergeracional dos compêndios, na primária, e o imobilismo dos livros únicos, no secundário, percebe-se melhor quanto o factor económico exigia ser auxiliado por um clima geral onde era importante dar-lhe uma vida prolongada.  

Convém desde já lembrar quanto a existência de uma biblioteca em casa

identificava as famílias 

distinguia as origens de cada um, ou as classes respectivas 

e os conteúdos opunham, inexoravelmente, a direita e a esquerda. 

Este era, pois, o contexto, onde quem tinha livros geralmente os tratava bem e onde quem não os podia comprar sentia um sinal discriminatório, vivido com angústia ou revolta à mistura. Conjuntura última que veio a ser em parte superada pela intervenção frutífera das Bibliotecas Itinerantes da Gulbenkian. Os muitos elogios, que sempre acompanham a referência a este serviço criado, em 1959, pelo escritor Branquinho da Fonseca, apontam para uma mudança qualitativa entre a carência cultural anterior e o impacto cultural posterior, tudo isto extremado por um analfabetismo larvar. 

Por conseguinte, à novidade que transformava pela capacidade de saber ler, escrever ou contar seguia-se a permanência durante a qual a biblioteca pessoal jogava um papel e uma função de suma importância, porque assim acontecia uma intimidade e uma conivência únicas, entre quem tinha a possibilidade de criar um espaço deste género e continuava a usufruir dele ao longo da vida.  

Paralelamente e até porque o “je est un autre”, o processo era constantemente enriquecido por diferentes metamorfoses entre o sujeito e o objecto, em mudança. Por isso mesmo, este espaço acumulava gostos e interesses individualizados, mas também tendências e modas colectivas, a colmatar cadeias e cesuras, onde a existência tomava corpo e fazia um “corpo sem órgãos”, mediado por desejos e fluxos, numa constante tensão.

 

  PARA UMA EPISTEMOLOGIA DA BIBLIOTECA PESSOAL
 

 

Na verdade, na medida mesma em que a biblioteca pessoal reflecte a vida de quem a cria, ao mesmo tempo que incorpora as suas potencialidades e limites, vale a pena fazer uma incursão pelas autobiografias, pois entre elas há algumas pontes, pelo facto de ambas concretizarem marcas de memórias comuns. Por outras palavras, a biblioteca pessoal reflecte o indivíduo e a personalidade, rebatendo sobre si fluxos e tensões entre o gosto e o interesse, o mister e a selecção.  

“Com efeito, a contradição encerra o pano de fundo (…), pois permite adensar quanto as (auto)biografias correspondem a estruturas onde o sujeito do conhecimento está sempre distante do objecto a conhecer/objecto conhecido. Porquanto a documentação usada pelo autor da biografia é diferente da vida vivida pelo biografado, como outra será ainda a vida narrada, mesmo se houver maior coexistência, no caso da autobiografia.  

Assim sendo, a questão fundadora dos enunciados em torno do tema encontra a dualidade do mesmo e do outro, do princípio ao fim. E porque é assim, caberá questionar as consequências para o tema, se prevalecer a “stream of consciousness[i] entendida de modo simplista, ou seja, como permanência dominante e exclusiva em desprimor da mudança e diferença. Modelo que, aliás, transvazou do foro psicológico e muito tem ajudado a deturpar a realidade, favorecendo as tendências continuístas. ”[ii] Fluxos há muito tempo descritos, e bem, por Luís de Camões (1524-1580), por uma forma poética lapidar: “Mudam-se os tempos. Mudam-se as vontades”. 

Ambiente que mais avoluma quando a biblioteca abriga, com muita frequência, a mesa de trabalho, onde a leitura e a escrita se corporalizam também.  

Configuração que serve para marcar, como mais nenhuma, a sensação prolongada de ali se guardarem alegrias e sofrimentos constitutivos de percursos e de faseamentos, onde muitas projecções vão tomando forma e conteúdos. Configuração que serve para materializar vivências, das frustrações aos sonhos, das amizades às viagens, até porque, ao lado e no meio dos volumes, se abrigavam elementos de gosto pessoal, recordações e outras simbologias, a mais das vezes. Configuração que serve, finalmente, para arquivar papéis e lembranças, com cartas, pessoais ou oficiais, em lugar de destaque. 

Daí que a envolvente assuma múltiplos sinais de identificação, qual pertença a uma vida interior e profissional, assumindo o alcance global do auto-retrato. Conjunto de aspectos que pode ser enriquecido quando perspectivado dentro do pensamento de Michel Foucault (1926-1984).  

“Para adensar estas afirmações e interrogações, o contributo ímpar da arqueologia-genealogia, (…) contexto onde toma forma – a partir de 1967, mas com publicação só em 1984 – o quadro conceptual promissor que desenvolveu em torno dos “espaços outros”[iii], permite perspectivas originais sobre o tema.     

Na verdade, fundamentado numa epistemologia comprometida, inserido numa prática teórica particularmente sensível ao diferente, entendido como dimensão discontínua e individualizante, o múnus inovador remete as “heterotopias” para uma universalidade significativa que, logo no início, se exprime através de algumas afirmações pontuais e relevantes: “há igualmente, e isto provavelmente em qualquer cultura e em toda a civilização, lugares reais, lugares efectivos, lugares que estão desenhados na instituição da própria sociedade, e que são uma espécie de contra-localizações, espécie de utopias efectivamente realizadas, nas quais as localizações reais que se podem encontrar no interior da cultura são como representadas, contestadas e invertidas, espécie de lugares que estão fora de todos os lugares, ainda que sejam efectivamente localizáveis. Estes lugares, porque são absolutamente outros que todas as localizações que reflectem e de que falam, chamar-lhes-ei, por oposição às utopias, as heterotopias.[iv] 

Assim sendo, estas alteridades incorporam o real da topia, como o virtual da u-topia, para gerar espacialidades que potencializam a fuga, bem como a materialização, pelo que a concretude resultante assume a pecularidade interfacial entre o desejo projectado e o existente. Paralelamente, e até porque o projecto foucaultiano relevou a necessidade de atender à complexidade espácio-temporal, as heterotopias acabam por integrar heterocronias, muitas vezes votadas à realização efectiva, por via de mudanças epistémicas bem sucedidas. 

Prosseguindo com vários enunciados instigantes, a tender para o que se “poderia chamar a heterotopologia”, o texto desmembra cinco princípios, sendo dito a propósito do terceiro princípio: “a heterotopia tem o poder de justapor num único lugar real vários espaços, várias localizações que são eles próprias incompatíveis. É assim que o teatro faz suceder sobre o rectângulo da cena toda uma série de lugares que são estranhos uns aos outros; é assim que o cinema é uma muito curiosa sala rectangular, no fundo da qual, sobre um ecrã de duas dimensões, se vê projectar um espaço de três dimensões; mas talvez o exemplo mais antigo destas heterotopias, com forma de localizações contraditórias, seja o jardim. Não se pode esquecer que o jardim, espantosa criação agora milenar, tinha no Oriente significações muito profundas e como que sobrepostas”[v][vi].  

A partir da criação daquele conceito e desta área foram enunciadas condições teóricas prévias, de onde saem pistas para perceber como, e até que ponto, uma biblioteca pessoal poderá significar uma heterotopia para quem a constrói.  

Dito de outro modo: quem concebe um espaço chamado biblioteca está a criar, e progressivamente a manter, a concretização de uma utopia individualizada? Interrogação que carece de um questionamento favorável à intervenção de densidades fornecidas pela imagética em torno de um espelho.  

“O espelho é uma utopia, porque é um lugar sem lugar. No espelho, vejo-me onde não estou, num espaço irreal que se abre virtualmente por detrás da superfície, estou ali, ali onde não estou, uma espécie de sombra que me dá a minha própria visibilidade, que me permite ver onde não estou – utopia do espelho. Mas é igualmente uma heterotopia, na medida em que o espelho existe realmente, e onde há, sobre o lugar que eu ocupo, uma espécie de retorno; é a partir do espelho que me descubro ausente no lugar onde estou, porque me vejo lá. A partir deste olhar, que de certo modo incide sobre mim, do fundo deste espaço virtual que está do outro lado do espelho, volto para mim e recomeço a orientar os meus olhos em direcção a mim, e a reconstituir-me onde estou; o espelho funciona como uma heterotopia, no sentido em que me retribui este lugar que ocupo no momento em que me olho no espelho, absolutamente real, em ligação com o espaço que o envolve, e absolutamente irreal pois que é obrigada, para ser percebida, a passar por este ponto virtual que está lá.”[vii]  

Tom geral que beneficia de ser articulado, de novo, com as ideias de Miguel de Foucault, aplicadas mais uma vez às biografias: “Inspirado por este conceito, aponte-se que as (auto)biografias, próprias ou alheias, funcionam como espaços-tempos outros, e isso segundo diferentes aspectos. Quer como entidades de pensamento, quer como entidades de escrita, elas interferem, frequentemente, como projecções para onde o autor desloca realidades outras, por acção da criatividade ficcional. Claro que esta afirmação serve para sobrestimar o lado deslocado, do espaço ou do tempo, de onde a acção de imaginar ou a atitude de escrever retiram a capacidade de narrar ou de sugerir.  

Isto no que respeita o objecto produzido. Porque no que respeita o criador, representam uma forma bem sucedida de encontrar, noutra época da mesma vida ou noutra época de outra vida, mas sempre diferente da actualidade, um motivo aliciante para (sobre)viver no presente. Aspecto que só pode ganhar densidade se for articulado à problemática da “morte do sujeito”[viii] e à interrogativa sobre “o que é um autor?”[ix] 

De facto, todos estes enfoques correspondem a termos bem definidos de uma mesma configuração, onde as questões emergem por via de uma descrição associada a linhas fundamentais do fazer arqueológico-genealógico. O qual integrou um conjunto amplo de elementos e de relações, de onde o sujeito-autor sai identificado mais como um lugar, uma função, do que como uma identidade dotada de qualquer superioridade.  

Diga-se, assim, que o (auto)biógrafo ou o (auto)biografado, enquanto termos do discurso, emergem dentro dos sistemas que os possibilitam, num cruzamento que é subdeterminado por termos e relações entre os termos.””[x]

 

 

PARA UMA EPISTEMOLOGIA DA VIAGEM[i]  

 

 

Chegando à língua portuguesa no século XII, a palavra “viagem” vem do latim – viaticum, ii – com o significado de provisão para uma deslocação. Logo, o significante carrega consigo, desde a origem, a ideia de uma extensão e de uma duração, a justificar a necessidade de mantimentos[i].  

Num horizonte mais vasto, a exploração da imagem assume contornos, onde a associação da itinerância à existência humana, lapida-se numa metáfora, espalhada pelo mundo: a vida é uma viagem. 

Com uma larga tradição na Filosofia – desde a suposta ida de Pitágoras ao Egipto, Babilónia e Índia, até à nomadologia de Deleuze e Guattari, passando pelo homo viator de Kierkegaard ou Yaspers: o acto de percorrer determinado espaço com o fim de chegar ou de transportar-se a outro lugar estabelecido, inclui um sujeito -  agente, actuante actante ­–, mas também um objecto ­– os lugares ­­do percurso –. 

Este “acto de andar para chegar de um ponto a outro, mais ou menos distante” “jornada longa”, “navegação”, “viajar”, “fazer viagem”, “percorrer”[ii] comporta conteúdos empíricos envolvidos no conceito que permitem induzir quanto as mudanças, ocorridas na coexistência e na sucessão, aproximam o mundo exterior e o mundo interior, obrigando a sintonias e simpatias, na ausência das quais o viajante estriba resistências e anula lados importantes da experiência, nomeadamente, a transformação de si, pela interiorização das transformações em outrem.  

Como consequência, o “je est un autre” assenta perfeitamente na noção de que nunca se é o mesmo, antes e depois. Na verdade, à simples sensação de um acumulo de conjunturas ensaiadas pela primeira vez ou de sensações que desencadeiam comparações novas, o saber de si adensa o horizonte, e, pondo-se à prova, (com)prova.  

São aliás estes aspectos de transformação, que estão na base de alguns dos seus primeiros contributos para a construção do saber. 

Por certo, continuaremos a ignorar se A Epopeia de Gilgamesh foi o primeiro relato escrito do género, porém não duvidamos quanto a literatura de viagens constitui uma forma prolixa e especial de reunir uma soma de fenómenos e de eventos, passíveis de darem factos, processo científico a que muito devem as Ciências Humanas e Sociais, da Geografia à Antropologia.  

Paralelamente, existem aspectos de hiper-realismo, que estão na base de outros adquiridos cognitivos.  

Porque o encontro com o desconhecido alimenta o imaginário, nunca teremos a certeza sobre as peripécias efectivas da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto ou da História Trágico-Marítima de Bernardo Gomes de Brito. Em abono da verdade, até talvez isso pouco importe, pois o ficcional, em despique com o real, engrandece a narrativa, quando permite ápices extremos da condição humana, com imenso significado para o aprofundamento das emoções perante o risco, o questionamento da heroicidade e a fenomenologia dos limites entre o medo, o prazer e a dor.   

Pela condensação, pode ainda questionar a ambiguidade latente, sempre que é enunciado um nexo possível com a expressão desligar-se de tudo. Na verdade e com propriedade, faculta, em si mesma, uma tal sequência de vivências e uma tal concentração que o impositivo ligado ao imediato, tem como efeito, o desligar-se de tudo o mais.[iii] 

Por isso, não se estranha, também, o que a Odisseia desempenha na matriz mediterrânica, na medida mesma em que integrou um mar como elo de ligação e permitiu a emergência de uma configuração idêntica pelo lado territorial. E, assim fazendo, acabou por lhe determinar um mapeamento e uma singularidade cultural, ainda hoje presente. 

Além disso, acresce chamar a atenção para lugares concretos ou míticos que mobilizaram os povos e as gentes, nomeadamente com o impulso e o compulso do benefício e do lucro, do perdão religioso ao tráfico monetário. 

No último caso (não) é indiferente se o percurso é enquadrável pela Rota da Seda, a Rota das Especiarias, as Rotas das Plantas ou as Rotas das Drogas. Com efeito, apesar de serem concebidas, traçadas e percorridas em épocas diferentes, por povos diferentes, une-as um objectivo comum. Todavia, o certo é que ao longo e através dessas viagens de negócios, aconteceram também trocas e intercâmbios com notório alcance social e cultural: assim, houve razões de peso para que as terras de Vera Cruz passassem ao nome de Brasil; assim, a mandioca, base alimentar africana, veio da América Latina; assim a mesquita-pagode de Xian continua a mostrar uma interculturalidade chino-muçulmana latente. 

Abordada pela direcção, claro que é não indiferente chamar-se ao destino Jardim do Éden ou Eldorado. Ou mais recentemente, São Francisco ou Katmandou.   

No primeiro caso, houve alguma hesitação por parte dos ocidentais. Mas, certo, certo, é que os portugueses, por muito que incarnassem um sonho medieval e por muito que andassem pelo mundo, só o localizaram em terras brasílicas, por nela verificarem três requisitos imprescindíveis: população com longevidade, rios caudalosos, clima ameno.  

Quanto aos espanhóis, e como também o assinalou Sérgio Buarque de Holanda[iv], foram precisas tentativas para que a área de Potosi ­– na altura no Peru, hoje na Bolívia – se impusesse como nascimento geográfico do capitalismo moderno, pela capacidade de gerar e de transportar uma fonte de riqueza: imenso cabeço mineiro a desventrar prata sem fim, vias fluviais, usando a Bacia do Prata, para carregá-la, entre a Cordilheira dos Andes e os portos da Europa.     

Muito ligada à complementaridade entre o olhar e o ver, a configuração conceptual de viagem tem como termos, o desconhecido e o risco, a alteridade e a comparação, a vivência e a sobrevivência. A tal ponto que é problemático estabelecer ontologicamente, um antes e um depois, entre a viagem-descoberta e a viagem-iniciação. Ou seja, a arqueologia-genealogia encontra situações gerais de imbricada mistura, mesmo quando as conjunturas parecem aparentemente díspares, como no desígnio atribuído à peregrinação medieval, na estética associada à rota clássica por parte dos românticos, ou no intuito de ligar uma viagem à maioridade, na tradição anglo-saxónica e americana. 

Como ainda, na linha das famosas experiências com alucinações visuais, por meio do peyotl – uma das 30 espécies de fungos mexicanos, com a mescalina como princípio activo, descoberto casualmente por Albert Hoffman em 1943 –, quando as artes plásticas e a literatura europeias, entre Baudelaire e Gauguin, conheceram a acção alucinogénea e psicadélica, cuja intensidade culminou em Warhol e na Pop Art, e foi descrita por Aldous Huxley, em As Portas da Percepção. 

Mais recentemente, a ciberviagem[v] traduz um adensamento da problemática, porquanto a experiência em tempo real carrega consigo potencialidades de deslocação de tipo global; como sejam, vias favorecidas pelo alargamento da dimensão espacial, incluindo as 3D, que adquirem, assim, aspectos ilusórios em profundidade. Concomitantemente, a sensação de realismo converge para horizontes sensoriais e sensuais, insuspeitos anos atrás.    

Tratando-se de uma realidade ligada ao alargamento da (in)formação, é natural que as ciências modernas procurem nas viagens, e desde sempre, uma circunstância privilegiada[vi], isso acontecendo, aquém, além e com Humboldt ou Wallace, Agassi ou Darwin. Concomitantemente, a arqueologia-genealogia das viagens permite perceber que usaram-nas de diferentes maneiras e sob diferentes nomes, como na territoralização da Amazónia, onde é possível descrever diferenças terminológicas e conceptuais[vii], com vista a uma tipologia: 

“O século XVIII imaginou uma viagem especial.

Chamou-lhe viagem filosófica. Comportava um conjunto de actividades que alvejavam a descoberta das riquezas do Reino, na metrópole e nas colónias. E era orientada pelas regras internas da Física Natural e da História Natural dos Três Reinos. Lembre-se a Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira e companheiros. 

Depois, veio a missão.

Mais voltada para o reconhecimento e difusão artística das belezas naturais e culturais. Várias: Missão Artística Francesa, Missão Austríaca/Viagem de Johann-Baptiste von Spix e de Karl Friedrich von Phillip Martius.” 

Seguida da expedição.

Como é o caso da Expedição do Barão Georg Heinrich von Langsdorff com o malogrado Aimé-Adrien Taunay. Expedições Morgan. E já no século XX, a Expedição Lévi-Strauss, também chamada de forma menos subjectivista, Expedição à Serra do Norte.” [viii] 

Também houve a comissão.

Destaque para as Comissões Telegráficas e de Fronteiras, incluindo a Comissão Rondon, e para a Comissão de Estudos da Malária na Amazónia, uma das muitas pesquisas e acções sanitárias para proceder ao reconhecimento e ao mapeamento epidemiológico de regiões e localidades do interior do país.” 

Hoje há projectos.

Entre deles, a originalidade e eficácia do Projecto Saúde e Alegria.  

E também programas.

Actuando de dentro e até à distância. De que é um exemplar o Laboratório da Biosfera da Amazónia, com núcleos fortes em São Paulo, no Instituto Postdam para o Estudo do Impacto Climático, em Postdam, Alemanha, e no Laboratório Nacional do Oak Ridge, em Tenesse, Estados Unidos da América. O real anexou o virtual, e com isso, o conceito fica transformado, substancialmente. Na verdade, a possibilidade de extremar o real faculta um conceito reportado a realidades referenciais novas, bem como a conteúdos novos. Isso acontecendo, enquanto a secular potência e o longínquo acto aristotélicos ficam enriquecidos. De tal modo, oh! cumulo dos cumulos, que quase já é possível “fazer uma expedição à Amazónia sem lá pôr os pés”. 

Assim da viagem (origem: religião, navegação), passou-se à missão (origem: diplomacia, religião), depois, à expedição (origem militar) e à comissão (origem: administrativa); finalmente, a projectos (origem: legislativa; arquitectura/engenharia) e programas (origem: política, educação). Conjugando os dados reunidos, pode chegar-se a uma classificação e uma tipologia com a seguinte sequência: modelo naturalista[ix], modelo militar[x], modelo etnográfico[xi], modelo médico-sanitário e ambiental[xii].  

Resumindo: 

“Em tempos de uma mudança tão significativa, mais se justifica invocar a arqueologia-genealogia foucaultiana, para elucidar momentos marcantes do processo geral, suas origens, diferenças e situação actual.  

Para perceber a discontinuidade que ocorreu, quando a expressão “expedição científica” conquistou o terreno, ocupado até então pela viagem filosófica e a (co)missão, convém voltar à palavra grega teleõssis que significava acção de expedir ou a strateía que significava expedição militar; e à palavra latina expeditio que correspondia a remessa de tropas para certo fim. 

No Dicionário de Cândido de Figueiredo lê-se: “acção ou efeito de expedir”; “remessa de tropas com determinado fim”; “excursão científica”. 

Assim sendo, a metodologia proporá uma leitura interpretativa deste tipo: a arqueologia da expressão “expedição científica” encontra a sua origem no vocabulário do exército, no que ele produz conquista de terras (diferentemente da marinha que produz descoberta de terras), no caso de iniciativas bem definidas por uma estratégia muito particular, como a Expedição ao Egipto, as Campanhas de África, ou a Comissão Rondon.   

Por fim, ressalve-se que qualquer expedição tem um chefe, menos autoproposto do que nomeado pelos poderes, dos imperadores às universidades. Sendo uma função onde o exercício da autoridade é exercido em configurações psicológicas e sociológicas menos comuns, não surpreende que envolva dificuldades particulares. 

Pode ainda chegar a ser penoso e melindroso, em momentos frequentemente críticos: paragens forçadas, tensões afectivas fortes, doença, falta de mantimentos ou de solidariedade, com realce para tomadas de decisão solitárias, ao arrepio dos demais. 

A circunstância concreta de meses de nomadismo ou de certo sedentarismo forçado gera situações de grupo especiais, durante as quais, o cansaço e as fragilidades humanas, colectivas e individuais, acarretam fenómenos emocionais que podem tender para o desequilíbrio. O intervalo vivido durante a espera por uma ajuda distante ou a dificuldade de manter o grupo num determinado ritmo, exigem opções que o chefe tem de saber gerir. Passando ao nível da relação entre iguais, ser companheiro é árduo, e pode querer dizer “o inferno são os outros”, de Jean-Paul Sartre.[xiii]

 

 

OS MEUS ESPAÇOS DE CONSTRUÇÃO INTELECTUAL

 

 

Quando descobri René Descartes não simpatizei muito com ele, mas fiquei seduzida, logo, pela ideia do “grande livro do mundo” [i], ou seja pela importância que ele acorda, à necessidade de juntar à (in)formação veiculada pelos livros, a experiência adquirida em viagens.

Contudo, esta articulação, agora provinda da Filosofia, não me aparecia totalmente nova, pois seguia-se à sedução da Peregrinação[ii] de Fernão Mendes Pinto. 

Comparando as duas fontes, direi que a primeira, que me prendera desde o liceu, tivera o alcance de ser obra de um português em terras exótica. Contudo, o facto da segunda ter sido enunciada por um filósofo, dava-lhe uma carga maior, para quem acabara de entrar em Filosofia.

 

 

A BIBLIOTECA E O ESCRITÓRIO

 

 

A minha primeira biblioteca pública só tomou corpo durante a preparação da tese de licenciatura, e chamou-se Bibliothèque Nationale de Paris.  

De facto, foi sob aquela magnífica cúpula, com paredes e arcos pejados de livros, que me baptizei para a sagração deste tipo de espaços. Com isso, nascia um imenso respeito e também o orgulho-responsabildade de poder usufruir de tantos saberes mapeando o mundo.  

A sintonia estética e afectiva deu-se no imediato, contudo, os verbetes foram devolvidos ou os livros vieram trocados durante o primeiro dia. Episódio a corroborar quanto, ainda naquela altura da minha formação, eu continuava a desconhecer um dos requisitos fundamentais do cerimonial: a cota…  

Por exemplo, na Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, acabada de restaurar no início dos anos 60, bastava chegar, dizer o nome do livro ao Sr. Pinto, e pouco depois ele aparecia, sendo só requerido um formulário exíguo.  

E o que ocorria na Faculdade de Filosofia não era menos insólito: como a Biblioteca não podia ser frequentada por mulheres, era obrigada a ficar numa sala ao lado da recepção, enquanto o Irmão Bernardino Fernandes subia e descia os livros, que lhe ia pedindo oralmente.   

À época e mesmo durante a universidade, a frequência das bibliotecas públicas não significava muito na vida do estudante, porque a leitura continuava maioritariamente ligada à posse, aquisição e empréstimo de livros, lidos em cafés, confeitarias, jardins, muito principalmente em casa. Por isso era possível terminar a componente escolar de uma licenciatura em Filosofia, desconhecendo quase integralmente a sua estrutura interna e funcionamento.  

Em complementaridade, embora já durante a fase de doutoramento, a Fondation Teilhard de Chardin, com sede no Muséum National d´Histoire Naturelle, revelou-se um espaço acolhedor com imensa funcionalidade: quer porque continha um arquivo, biblioteca, fonoteca, fototeca sem iguais, quer porque para lá convergiam todos os investigadores de Teilhard espalhados pelo mundo.  

Este último aspecto continha efeitos positivos, pois permitia diálogos internacionais e intergeracionais, a concorrer para conversas e debates que alertavam os mais novos para determinadas realidades, obrigava os mais velhos a rever posições, e criava um ambiente para a difusão das perspectivas mais inovadoras. Tudo favorecido por ligações humanas e redes afectivas, a tender para a consciência real sobre a utilidade e o valor da colaboração e da cooperação.    

Assim sendo, devo a Paris sensações inolvidáveis de convívio prolongado com o pulsar do mundo intelectual e a certeza de quanto este modo de viver assenta em trabalho, persistência e responsabilidade social. 

Apesar de ter sido difícil entrar no ritual das regras e dos gestos, não falando das frequentes filas de acesso acrescidas de demora para obter os volumes, a BNP continuou a ser sempre a Biblioteca da minha vida. 

Em Portugal, a Biblioteca da Faculdade de Ciências de Lisboa, na Rua da Escola Politécnica, e a Torre de Tombo, ainda no Palácio de São Bento, nunca me receberam com condições materiais do conforto necessário e desejável, pois, na primeira, encontrei um óptimo ambiente humano, como material imprescindível, no segundo.  

Se abreviar, por cá, primou a minha biblioteca pessoal, a biblioteca de uma  

mulher

portuguesa

portuense

filósofa

católica

entre 1960 e 1995. 

Fácil de determinar sempre que houve o hábito de os assinar e datar, a ordem da aquisição de livros permite localizar as sequências e séries que determinaram o modo como o agregado foi organizado, e a partir destes são detectáveis processamentos, pautados por leituras de lazer ou por projectos de investigação, aulas recebidas ou dadas, no meio de dados que permitem deduzir e induzir muita informação paralela. 

Elementos associados a hábitos de sublinhar momentos mais marcantes de leitura ou hábitos seguidos de fazer comentários, chavetas e resumos nas margens, que, quando abordados com alguma perspectiva temporal, permitem detectar ingenuidades ou erros interpretativos, preocupações à época, configurações de pensamento, modas e modelos de natureza individual ou social.        

Outro viés informativo marcante estará associado aos livros oferecidos/herdados, contribuindo, assim, para uma efectiva concomitância/integração de objectos, marcados por interesses, escolhas e gostos, onde o mesmo encontra o outro, certo presente com certo passado.  

Montada sem grande estética, mas tendo a estrutura metálica mais barata nos anos 70, com um material robusto, porque sempre achei que devia dar-lhe condições de resistência, de crescimento e de sobrevivência, a biblioteca continua organizada segundo a História da Filosofia, Disciplinas Filosóficas, Ciências Sociais e Humanas, História de Portugal, Literaturas Estrangeiras e Literatura Portuguesa. Acresce verificar como a estrutura geral do conjunto se manteve ligada à sequência das cadeiras que faziam parte da Licenciatura em Filosofia, nos anos 60. 

Como não consigo trabalhar em atmosferas a que não dê um toque pessoal, e o material de suporte agredia as minhas opções de gosto, retirei de cartazes (políticos e outros), recordações de viagens (vídeos e CDs, fotografias - destaque para as fotos da estada no Japão e os diapositivos e fotos das missões jesuíticas junto dos Guarani e Chiquitos, e para a colecção sobre jardins botânicos espalhados pelo mundo -), coisas e loisas herdadas (aguarelas e óleos, cristais e pratas) caminhos e soluções para o problema.  

De tudo isto, o maior realce para um quadro, mais especificamente uma academia, guardado ciosamente. Trata-se de um nu que fazia parte do escritório do meu Pai no Porto, onde também por isso eu e meus irmãos estávamos proibidos de entrar quando crianças, e que incorporei aqui, sem dúvida, por rebeldia, e muito menos por estar assinado H.C.A.P….  

Então, os livros fechados ou abertos acompanhavam a máquina de escrever, com destaque para a Olivetti lettera 32. Muito prática por ser portátil, ela ia presenciando, colaborando e acompanhando estados de alma múltiplos, mudanças na percepção da escrita, surpresas no convívio com a acção de escrever, e sucessões de persistência articulada com o ambiente do escritório: de início, o pensamento esconjurava a folha em branco, enquanto interlocutor-mediador papel resvalava para objecto de tormenta, seguidamente, aumentou a descontracção e o prazer, garante de uma experiência menos sofrida, finalmente, a fluência encantatória das palavras a requererem-se entre si. 

Como consequência, ela foi possuindo, por si mesma, condições para materializar, à sua maneira, um misto de projectos para a vida e de horizontes sonhados.  

Passando a alguns conteúdos, que falam por si, cabe lembrar quanto estes meios muito próprios e específicos de realização avolumavam, sempre que nela se desenhava, e por isso dela se podia aguardar, uma “espécie de contestação, simultaneamente mítica e real, do espaço onde vivemos”[i], nomeadamente em épocas de ditadura e de censura. 

Daí algum significado da assinatura dos primeiros anos da Revista O Tempo e o Modo, como a aquisição de outras publicações ligadas aos católicos progressistas, da Moraes Editora às Editions du Seuil. 

Daí, um romance incluído na lista do Index Librorum Prohibitorum, como um manifesto proibido pela PIDE representar um sinal de rebeldia ou uma atitude de risco. Como simbolizavam, pela alternativa, sinais de obediência reverente ou de medo interiorizado.  

Daí a eventualidade significativa de nela guardar, ainda, a cópia do pedido feito ao Bispo do Porto, com a respectiva autorização, para ler as Meditations Metaphysiques ou Méditations sur la philosophie première de René Descartes (1596-1654), segundo o aconselhamento feito aos alunos do 1º ano de História e Filosofia, por um professor de Coimbra, em 1960...     

Apesar do nacionalismo vigente e do Porto manter-se fiel à tradição inglesa, a burguesia retinha certo espírito internacionalista, procurando munir os filhos de uma língua que lhe permitisse viajar e desenvolver negócios no exterior. Para tais fins, eram usados estratagemas como este: numa altura em que dominava o francês, a par de explicações particulares para iniciação na língua pelos 7 anos e apesar das traduções, foi-me oferecido, no dia da Primeira Comunhão, um Missel Quotidien Pour Enfants, do celebrado beneditino Dom Gaspard Lefebvre, que uma tia comprara aquando numa ida a França.  

A dominante francesa repete-se na presença continuada dos pequenos Que sais-je?, desmultiplicados por quase todos as prateleiras, porquanto a colecção reunia especialistas conceituados para cada tema, possuía características de sinopse com especial qualidade e não era cara. Na mesma linha e até ao 25 de Abril, eram as viagens a Paris, e menos a Londres, que mais serviam para comprar livros: a Vrin (Librairie Philosophique J. Vrin) e a PUF (Presses Universitaires de France), na Place de la Sorbonne, depois bastante eclipsadas pela Fnac desempenhavam, sem sombra de dúvida, a maior atracção.  

Num país fechado sobre si mesmo, com reduzida tradição filosófica, não surpreende que as publicações sobre a Filosofia, disciplinas filosóficas e filósofos, fossem maioritariamente traduções francesas e inglesas, mas também espanholas: Fondo de Cultura Económica, Mexico DC, Editorial Sudamericana, Buenos Aires, e Editora Aguilar, Madrid. 

Outro grupo a destacar prende-se com ferramentas e meios para guardar e preservar a informação: caixas, às vezes de sapatos, cheias de fichas, fotografias, cassetes e diapositivos. Por demais usadas em várias áreas do conhecimento, fichas e ficheiros equivaliam a métodos de trabalhos com grande perenidade, a intimidar o aprendiz a investigador.  

Como raramente ocorria durante a escolaridade universitária, a tomada de consciência - sobre como devia ser organizada a heurística, anotadas as entrevistas ou estruturada a bibliografia - só surgia comummente com a tese. Por momentos, a normalização revelava-se um grilhão insuportável, mais parecendo inimiga congénita da criatividade e liberdade operativa.  

Ou seja, num país que não respeitava a faixa de peões e num período de rara normalização, as normas bibliográficas eram encaradas como um entrave, principalmente, quando aferidas pela natureza de uma escolha que pendera para a carreira académica pela sua quota-parte de liberdade.       

Outro núcleo reúne as cartas que fui recebendo de especialistas que tomava a iniciativa de contactar, a propósito de problemas de heurística, propostas e dúvidas de interpretação, sobre as duas teses e diferentes projectos de investigação: em resumo, tanta mais correspondência quanto mais se estava no início da carreira. Curioso o papel e a nota enviada por Simone de Beauvoir, como resposta a um carta-elogio que lhe dirigira, a propósito da página brilhante que ela havia dedicado a Simone Weil, em Mémoires d’une jeune fille rangée.  

Existe igualmente mais um sector, onde conservo dois exemplares de todos os meus textos, fitas gravadas e vídeos de conferências, entrevistas na rádio e intervenções televisivas.  

Estes eram os tempos de todas essas presenças, pois. Mas, eis senão quando a expansão da informática trouxe transformações que alteraram profundamente as universidades e os laboratórios, as fábricas, os ateliers, as oficinas e escritórios, a vida toda em geral. Primeiro fixo, depois portátil, primeiro com as disquets, logo a seguir com as pens, o computador foi entrando neste espaço e na minha vida.

 

 

AS VIAGENS[i]

 

 

Desenvolvi a minha natureza de viajante junto de Fernão Mendes Pinto, cabendo a meu Pai alimentar, desde sempre, a tendência: quando li a Peregrinação adaptada a crianças, senti entusiasmo e fiquei fascinada com tanta descoberta e aventura, lados a que mais me prendo. 

De facto, essa circunstância impõe momentos com respostas rápidas para problemas novos, e obriga a gestos que invertem o hábito ou abalam o repetitivo. Semelhantemente, alimenta uma mente atenta, exercitada pela observação e pela comparação, servindo para incrementar o relativo das coisas. 

Com o tempo, somei-lhes uma outra circunstância, pois passei a prezar a planificação do essencial, ou seja, uma mala leve e rapidamente pronta. Assim, concebo este requisito como treino para a apetência do provisório e do aleatório, contributo para um maior desapego e um despojamento libertadores, e assumo-os como medidas importantes para uma mentalidade anti-consumista. 

No que respeita a actividade de ensino e de investigação, é indubitável que as viagens sempre lhes acrescentam algo de novo e de inovador. Contudo, cabe salientar os exemplos expressivos, aqueles onde mais senti via trita, via tuta, ou seja, o caminho trilhado é o caminho seguro. 

Fortalecido há uns vinte anos, o projecto sobre a Estratégia Epistemológica da Companhia de Jesus[i] deve a sua exequibilidade a uma sequência de fases alimentadas por uma série de viagens, que passo a sintetizar. Com base em estudos anteriores, centrados nomeadamente na filosofia e perícia jesuíticas, em 1990, formulei esta hipótese de trabalho – os jesuítas seguiram as bases ideológicas do modelo arquitectónico centrado no quadrilátero, usado em casas, noviciados e colégios, e transformaram-no num modelo urbanístico, ao serviço de relações pragmáticas entre o saber e o poder, ao longo das missões sul-americanas –. 

Todavia, tornava-se impossível verificar se a ideia tinha peso histórico, tanto mais que a primeira e única planta a que tive acesso me pareceu, desde logo, fora da ideologia inaciana, mais concretamente da sua Antropologia. Alguns anos depois tive acesso a uma outra, diferente, todavia, sempre foi ficando no ar alguma dúvida. Tratando-se de uma zona, com instabilidade por tráfico de droga e contrabando permanente – a Chiquitana é atravessada pelo célebre comboio da morte que liga o Brasil e a Bolívia –, tive de esperar uns oito anos, para realizar aquilo a que chamarei a viagem crucial.  

Qual era a questão de base? ­No interior de cada aldeia, a coexistência real e incontornável entre europeus e guarani chegou a igualar uma desproporção de 2 a 3 padres para um máximo de 3000 índios. Qual foi a solução encontrada? A localização soberana da Igreja impunha-se, como lado principal da praça, mas os restantes lados eram ocupados pelas habitações dos caciques, em lateralidades importantes, seguidas das habitações dos demais, em ruas mais secundárias. 

Resumindo, só in loco, pude confirmar plenamente quanto a tal planta estava errada e eu certa: “o primado do critério de orientação sobre o critério de posição – ou seja, a subalternização da posição dianteira das casas dos índios devido à orientação predominante da igreja – provoca a coexistência de duas lógicas que não deixam de ser perturbadoras ao olhar. na verdade, na primeira lógica, repita-se, dá uma clara primazia a área habitacional, enquanto que a segunda lógica, não só imprime a centralidade orientadora da igreja, como faz intervir um tipo de relação que acaba por desconstruir as regras específicas da posição dianteira. 

Talvez, por isso, a planta da redução de San Ignacio Miní por Juan Queirel, baseada nas ruínas e datada de 1899, e a planta de uma redução com base num desenho seu (…) apresentem uma característica peculiar: num primeiro plano, o jardim, a seguir o alinhamento da igreja, colégio e oficinas, depois a praça, finalmente, as casas. Resumindo, Queirel inverte a perspectiva da visão, pondo a frente o que está atrás, e atrás o que está a frente.”.[ii]          

Àquela viagem seguiram-se, depois, sucessivas estadas entre os Tupi, Guarani e Chiquitos – da Amazónia ao Uruguai, entre as Cordilheira dos Andes e o Atlântico – completadas por outras andanças pela América do Norte ou Ásia, que permitiram corroborá-la e integrá-la em contextos mais globais. Simultaneamente, também me permitiram estabelecer, como sempre gosto de fazer, paralelos entre a heurística e a hermenêutica históricas e a actualidade, ou seja, a memória actual sobre a chamada República Jesuítica do Paraguai. 

De facto, sem se compreender por dentro como este esquema societário foi capaz de permitir um subtil, efectivo e forte, domínio, nunca haverá capacidade de responder a este dilema – Utopia? ou Heteropia? –, título da conferência inaugural que me foi proposto para o IX Simpósio Internacional Experiência Missioneira: Território, Cultura e Identidade, organizado no contexto das Comemorações dos 400 Anos, pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em Outubro de 2010. 

Outro caso a assinalar passou pelo projecto desenvolvido em torno de Memória e Coleccionismo, mais concretamente sobre os Gabinetes de Curiosidade. Aqui, deparava-me com descrições cuidadas, algumas mesmo muito minuciosas, mas a experiência dos Países Baixos – casa de Rembrandt, em Amsterdam, e casa de Rubens, em Anvers ­– fez-me prever quanto a palavra e a imagem dos livros  estaria aquém da visibilidade espacial.  

Depois de várias deslocações entre centros culturais europeus, à procura de algum vestígio, comecei a suspeitar que, entre a Áustria, Hungria e República Checa, iria finalmente encontrar um exemplar.  

Para lá parti, num Inverno rigoroso. Já quase a desistir, porque o legado de Rudolfo II não me oferecera nada do que procurava, e porque a colina era árdua e a neve muita, vislumbrei, depois de um pequena porta que nada faria prever, o tesouro cultural guardado no Mosteiro Strahov, em Praga.  

Inigualável, por estar junto a uma riquíssima Biblioteca, mas inigualável, principalmente, pelo espírito de curiosidade transmitido ao espaço, pelo tom da madeira pintada, o ar que só o antigo dá, a disposição dos objectos, um não sei quê de ingenuidade, à mistura. Enfim, e que sensação, conseguia sentir o espírito deste lugar e assumir o seu papel numa determinada construção do saber.    

Ao longo destes anos e olhando para trás, concluo como a actividade de investigação foi-se vertendo para uma escrita mais confiante, uma expressão mais solta, a retirar das estantes à volta uma qualquer motivação e conforto, a descobrir outro modo dos livros serem companhia, também. Apesar disso, importa afirmar que a produtividade intelectual a longo termo ou imediata, através do texto, só começou a tomar uma expressão permanente e quotidiana, em diálogo com um ecrã, a ocupar cada vez mais o seu lugar, em comparação com a biblioteca.  

Em síntese, Internet, Web World Wide (WWW ou Web), operadores de busca, bibliotecas virtuais e Wikipedia alteraram quase totalmente o carácter exclusivo deste espaço para o meu trabalho intelectual.    

Assim sendo, o interesse em conservar e dar visibilidade a uma biblioteca como esta, tipicamente do século XX, está menos ligada à mudança de século, do que a efeitos ligados a um novo paradigma, segundo Thomas Samuel Kuhn, ou provavelmente a uma nova epistéme, na terminologia de Michel Foucault. 

A ligação de 1995 a um programa informático, no caso o Windows95, vaticinou, com mestria, quebras e descontinuidades. A Internet acrescentou-lhe uma dimensão global, entre o espaço e o tempo. Através de ambos os casos, as topologias passaram a permitir virtualidades sem fim.   

Hoje em dia, a vivência interactiva, estruturada em redes e gerando links entre sites e blogs, cria novos rumos para o trabalho intelectual, enquanto possibilita expansões em infinitas direcções.  

De facto, a partir do universo digital, estão abertas possibilidades exponenciais, bibliográficas ou iconográficas, por reprodução ou simulação, universo intermediário entre o potencial e o concreto. Com o virtual, a biblioteca atinge a sensação de imensidade, a criar uma consciência de ampliação, misto de abismo-vertigem, a favorecer cenários de bibliotecas entre o imaginário e a utopia, furando e aumentando as quatro paredes da minha biblioteca pessoal. Assim sendo, o mundo virtual tem-me propiciado, também, imensas e apaixonantes viagens.

 

  Notas
 

 

[i]   Ana Luísa Janeira - A configuração epistémica de gabinetes, boticas e bibliotecas, 2003. http://triplov.com/ana_luisa/cabinet.html

[i]   Ver bibliografia final. 

[i]   Expressão divulgada por William James (1842-1910) numa obra de 1890. Ver, por exemplo, William James - The Principles of Psychologie, Dover Publications, 1950.  

[ii]   Ana Luísa Janeira, Ana Haddad Baptista - (Auto)biografias e Memórias. São Paulo,  Apenas-Arte, no prelo.  

[iii]   Michel Foucault - Des espaces autres (conférence au Cercle d'études architecturales, 14 mars 1967). In “Architecture, Mouvement, Continuité”, 5, Out. 1984, 46-49. Este texto foi publicado também e posteriormente em http://foucault.Info/documents/heteroTopia/foucault.heteroTopia.fr.html, de onde são retiradas as citações. 

[iv]   Acrescente-se que o termo “heterotopia” tinha já aparecido no Préface In Michel Foucault – Les mots et les choses: une archéologie des sciences humaines, Paris, Gallimard, 1966, Préface. 

[v]   Michel Foucault - Des espaces autres (conférence au Cercle d'études architecturales, 14 mars 1967). In “Architecture, Mouvement, Continuité”, 5, Out. 1984, 46-49.  http://foucault.Info/documents/heteroTopia/foucault.heteroTopia.fr.html 

[vi]   Ana Luísa Janeira, Ana Maria Haddad Baptista - (Auto)biografias e Memórias. São Paulo,  Apenas-Arte, no prelo. 

[vii]   Michel Foucault - Des espaces autres (conférence au Cercle d'études architecturales, 14 mars 1967). In “Architecture, Mouvement, Continuité”, 5, Out. 1984, 46-49.  http://foucault.Info/documents/heteroTopia/foucault.heteroTopia.fr.html 

[viii]   Michel Foucault - – Les mots et les choses: une archéologie des sciences humaines. Paris, Gallimard, 1966, 319.

[ix]   Michel Foucault - Qu'est-ce qu'un auteur?. “Bulletin de la Société Française de Philosophie”, Paris, n° 3, Jul.-Set., 1969, 73-104. 

[x]   Ana Luísa Janeira, Ana Maria Haddad Baptista - (Auto)biografias e Memórias. São Paulo,  Apenas-Arte, no prelo.

[i]   Retirado de A viagem na construção do saber, conferência proferida na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, 2010.

[i]   Aspectos corroborados igualmente, quando se desmembra o universo semântico desta sinonímia: itinerário – “viagem”, “roteiro”, “programa”; jornada – “marcha de um dia”, “viagem por terra”, “acção militar”, “expedição”; odisseia – “viagem cheia de aventuras extraordinárias”; périplo – “navegação à volta de um mar ou pelas costas de um país”, “relação de uma viagem desse género”; turismo – neologismo - “gosto por viagens”, “viagens para recreio”, “excursionismo”; afastamento – “desvio ou mudança de viagem”. No que respeita o português, cabe ainda destacar, pelo sentido e alcance histórico, a compósita torna-viagem associada à navegação, colonização ou emigração: “volta de uma viagem por mar”, “regresso”, “refúgio”, “resto”, aquele que regressou do Brasil ou de África, com poucos haveres”. Expressões entre aspas tiradas de Cândido de Figueiredo, Novo Dicionário da Língua Portuguesa”, 5ª ed., Lisboa, Livraria Bertrand, s.d... Contudo, o enunciado pode compreender, quer quem regressa, quer o que regressa, tradicionalmente o vinho, valorizado nas qualidades pelas condições do barco: “ Os portugueses descobriram o Torna-Viagem há mais de um século, por acaso. Na época em que seus navios cruzavam os mares do mundo fazendo todo tipo de comércio, era comum levarem em consignação uma partida do Moscatel de Setúbal. Os comandantes recebiam pelo que vendiam. Nem sempre conseguiam comercializar todos os barris. Na volta à pátria, depois do périplo, em que se submetiam a diversos climas e significativas variações de temperatura, os tonéis eram devolvidos às caves dos produtores. Ao serem abertos, quase sempre uma grata surpresa: geralmente o vinho estava melhor do que antes de embarcar. A passagem pelos trópicos, a caminho do Brasil, África ou Índia, quando atravessava por duas vezes a linha do Equador, uma na ida, outra na volta, parecia aprimorar a qualidade do Moscatel de Setúbal e conferir-lhe grande complexidade. Nasceu assim a lenda do Torna-Viagem.” http://winexperts.terra.com.br/arquivos/moscatel.html 

[ii]   Palavras e expressões obtidas em Cândido de Figueiredo, Novo Dicionário da Língua Portuguesa”, 5ª ed., Lisboa, Livraria Bertrand, s.d..  

[iii]   Sensação empírica que chega a outorgar-lhe estatuto de primeira na cura de males de amor…  

[iv]   Sérgio Buarque de Holanda - Visão do Paraíso. Os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil. São Paulo, Editora José Olympio, 1959. 

[v]   Novas Co-Errâncias. Nouvelles Co-Errances. “Atalaia”, Lisboa, nº 3, 1997. 

[vi]   Ana Luísa Janeira (dir. cient.) - Inovação-Tradição-Globalização – “As ciências modernas à descoberta do mundo: viagens com destino nas ciências”. Inclui estes textos de Ana Luísa Janeira: Cultura científica, cibercultura e literacia, O conhecimento pela viagem, 2004.  http://cienciaeviagem.no.sapo.pt/cultura.html 

[vii]   Toda a sequência das citações retirada de Ana Luísa Janeira et al. - Territorialização científica da Amazónia (séculos XVIII-XXI). http://www.amazónia.no.sapo.pt 

[viii]   Na legislação brasileira e segundo os dispositivos que regulamentaram as expedições científicas, a expressão foi usada para designar: "o deslocamento, por um período limitado, de recursos humanos e materiais para determinada área geográfica, visando a realização de um plano específico, de modo a obter dados e conhecimentos científicos, comprovar ou estabelecer teorias, caracterizando-se assim por um sentido mais amplo do que simples pesquisa para avaliação de recursos naturais”, "Decreto nº. 62.203, de 1968, e Decreto nº. 65.507, de 1969. 

[ix]   Alexandre Rodrigues Ferreira a quem Acompanhárão os Desenhadores Joseph Joachim Freire e Joachim Joseph Codina E o Jardineiro Botanico Joaquim Agostinho de Cabo, Roteiro Das Viagens que fez Pelas Capitanias Do Pará, Rio Negro, Mato grosso e Cuiabá. Lisboa, Biblioteca da Ajuda, c. 54-XI-27, nº15, na.1783, ms.;“Expedição Filosofica do Pará de que hé Naturalista o Doutor Alexandre Rodrigues Ferreira, os Riscadores, José Codina, e José Joaquim Freire, e Agostinho do Cabo, Jardineiro Botanico, o qual partio aos 14 de julho de 1783. Relação do que levou o ditto Naturalista deste Real Gabinete de Ajuda”, Lisboa, Museu Bocage, Maço 5, nº 7; Alexandre Rodrigues Ferreira - Viagem Filosófica  pelas capitanias de Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá (1783-1792). Texto - 2 vols., Rio de Janeiro, Conselho Federal de Cultura, 1972-1974. Gravuras - 2 vols., São Paulo, Editora Monumental, 1971. 

[x]   Cândido Mariano da Silva Rondon - Comissão Rondon, nº 43, Rio de Janeiro, 1916.  

[xi]   Luiz de Castro Faria - Pesquisa Etnológica sobre habitação, Rio de Janeiro, 1943. Monografia apresentada ao concurso para a carreira de Naturalista do M.E.S. Divisão de Antropologia e Etnografia – Secção Etnografia e Arqueologia; Luiz de Castro Faria - Um outro olhar. Diário da Expedição à Serra do Norte. Rio de Janeiro, Ouro sobre Azul Editora, 2001; Claude Lévi-Strauss - Tristes Tropiques, Paris, Plon, 1955; Edgar Roquette-Pinto - Rondônia. 4ª ed., Rio de Janeiro, Companhia Editora Nacional, 1935.  

[xii]   Projecto Saúde e Alegria - http://www.saudeealegria.org.br. Fundação Oswaldo Cruz, “Manguinhos”, Rio de Janeiro, consultar http://www.fiocruz.org.br 

[xiii]   “Além das diferenças decorrentes das disciplinas envolvidas, recorde-se como a constituição das equipas foi sofrendo alterações, em pessoas, equipamento e duração. A título de exemplo: século XVIII - viagem filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira – 1 naturalista, 2 riscadores (que teria sido da História Natural dos Três Reinos, sem eles antes da fotografia?), 1 jardineiro – 9 anos na Amazónia; século XX - expedição de Claude Lévi-Strauss - 2 etnógrafos, 1 antropóloga, 1 médico – 6 meses na Amazónia Legal. Some-se ainda o contributo de muitos que foram permanecendo ao longo dos tempos: tropeiros, carregadores, guias, intérpretes. E os caixões de ferramentas e munições. Evite-se, por fim, uma injustiça fácil: o esquecimento das caravanas de mulas, de burros e os carros de bois. Presença crucial. Todavia, pobres animais, não só são ignorados, como são atribuídas as suas tão importantes tarefas, a cavalos!”. Ana Luísa Janeira et al. - Territorialização científica da Amazónia (séculos XVIII-XXI). http://www.amazónia.no.sapo.pt

[i]   René Descartes - Discours de la Méthode. Pour bien conduire sa raison et chercher la vérité dans les sciences. Paris, 1637. 

[ii]   Com o subtítulo de Aventuras Extraordinárias de um Português no Oriente, edição adaptada por Aquilino Ribeiro e integrada numa colecção particularmente preparada para crianças pela Livraria Sá da Costa Editora.

[i]   Michel Foucault - Des espaces autres (conférence au Cercle d'études architecturales, 14 mars 1967). In “Architecture, Mouvement, Continuité”, 5, Out. 1984, 46-49. 

http://foucault.Info/documents/heteroTopia/foucault.heteroTopia.fr.html

[i]   Retirado de A viagem na construção do saber, conferência proferida na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, 2010.

[i]   Ana Luísa Janeira - Sistemas epistémicos e ciências. Do Noviciado da Cotovia à Faculdade de Ciências de Lisboa. Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1987, 225; Ana Luísa Janeira - A ciência e a virtude no Noviciado da Cotovia (1603-1759): organização do espaço, produção do discurso e sistema epistémico. ''Revista Portuguesa de Filosofia'', Braga, 52 (1-4), 1996, 441-447; Ana Luísa Janeira (org.) - “Gabinete de Curiosidades”. Lisboa, Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL), 1999. Inclui estes textos adaptados de Ana Luísa Janeira: Ouvir e ler, olhar e ver, observar e experimentar, 31-38; Explorar, expor e crer, 41-49; Do Paço da Ajuda à Escola Politécnica de Lisboa, 55-58; O jardim botânico das reais quintas do Paço de Nossa Senhora da Ajuda, 61-65; O Hospicio dos Apostolos da Cotuvia (1603-1759): Bairro do Andaluz, cidade de Lisboa, 79-82; O quadrilátero jesuítico: uma arquitectónica cultural e científica entre os guaranis, 91-95; Viagem filosófica pelo espaço-tempo dos jardins botânicos, 97-101; Jardins entre dois mundos, 103-106; O exótico nas colecções dos jardins botânicos, 109-118; Naturacultura: jardins e utopias, 121-127; Ana Luísa Janeira; Ana Paula Macedo - Natura, cultura e ciência nas missões guaranis. "Revista Portuguesa de Humanidades", Braga, 3, (1/2), 1999. 455-490. http://triplov.com/jardins/missoes/guaranis/index.htm , http://ccuc.cbuc.cat/search*cat~S23/i?08740321; Ana Luísa Janeira - Notas de viagem sobre formas históricas de globalização em Misiones, 2006. http://triplov.com/ana_luisa/Notas-de-viagem/index.html; Ana Luísa Janeira - Da natura à cultura. O povoado nos trinta povos. In Ana Luísa Janeira et al. - “Os Povos nos Novos Mundos”, Apenas Livros, Lisboa, 2007, 3-10; Ana Luísa Janeira - Apontamentos andarilhos: memórias da Companhia de Jesus no centro académico de Évora. “Revué”, Évora, 15 (10-11), Abr. 2009, 139-142; Ana Luísa Janeira - A Energética teilhardiana - missão evolucionista por terras cristãs. 2009. http://triplov.com/ana_luisa/Chardin/index.html; Ana Luísa Janeira; Graziela Wolfart - Entrevista a Ana Luísa Janeira. “Revista IHS On-Line”, São Leopoldo, 13.9, 19.10 e 3.11. 2009; Ana Luísa Janeira – A Estratégia Epistemológica da Companhia de Jesus na Memória Americana e Asiática. In “Scientiarum Historia II”, Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2009, 49-67.

 

[ii]   Ana Luísa Janeira; Ana Paula Macedo - Natura, cultura e ciência nas missões guaranis. "Revista Portuguesa de Humanidades", Braga, 3, (1/2), 1999. 464. http://triplov.com/jardins/missoes/guaranis/analuisa_07.htm

[i]   René Descartes - Discours de la Méthode. Pour bien conduire sa raison et chercher la vérité dans les sciences. Paris, 1637.

 

[ii]   Com o subtítulo de Aventuras Extraordinárias de um Português no Oriente, edição adaptada por Aquilino Ribeiro e integrada numa colecção particularmente preparada para crianças pela Livraria Sá da Costa Editora.

 

  BIBLIOGRAFIA
 

 

- JANEIRA, Ana Luísa - Conhecer Simone Weil. Prefácio de Júlio FRAGATA, Braga, Livraria Cruz, 1973, 300. Este livro reúne o corpo central de O vazio no pensamento de Simone Weil. Ensaio de uma leitura interpretativa. Tese de Licenciatura orientada pelo Professor Doutor Júlio Moreira Fragata e apresen­tada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, vol. policopiado, Porto, 1967, 179+LI, e ainda os trabalhos sobre Simone Weil já as­sinala­dos, alguns inéditos (A mulher em Simone Weil, Simone Weil operária, A caverna e o sol no pensamento de Simone Weil. O significado dos "metaxus" em "La pesanteur et la grâce") e bibliografias de e sobre Simone Weil.

- JANEIRA, Ana Luísa - A Energética no pensamento de Pierre Teilhard de Chardin. Introdução e estudo evolutivo. Prefácio de Henri GOUHIER, Braga, Livraria Cruz-Faculdade de Filosofia, 1978, 360. Este livro é a tradução de Réflexion philosophique sur l'Ener­gétique dans la pensée de Pierre Teilhard de Chardin. Tese de Doutoramento orientada pelo Professor Henri Gouhier e apresen­tada à Université de Paris I (Panthéon-Sor­bonne), vol. policopia­do, Paris, 1971, 840. 

- JANEIRA, Ana Luísa - Filosofia das Ciências - porquê?, Filosofia das Ciências e Epistemologia em Portugal. Esboço de uma situação, Da neutralidade(?) das ciências e Filosofia e interdis­ciplinaridade. Descrição de duas práticas interdisciplinares (ensino e investigação) In Ana Luísa JANEIRA; Pedro Martins SILVA - "Textos de apoio para as cadeiras de História das Ciências, Sociologia das Ciências e Filosofia das Ciências". vol. de fotocópias, Lisboa, Associação dos Estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa, A/1-A/12, B/1-B/6, C/1-C/7 e D/1-D/14 respe­cti­vamente. O texto integral do último artigo foi publicado também In "1º Encontro Nacional de Professores de Filosofia". Lisboa, Sociedade Portuguesa de Filosofia, 1980, 61-73. 

- JANEIRA, Ana Luísa - Humanismo. Logocentrismo. Etnocen­trismo. "Revista Portuguesa de Filosofia", Braga, 38 (4) Out.-Dez. 1982, 221-240. Actas do 1º Congresso Luso-Brasileiro de Filosofia. 

- JANEIRA, Ana Luísa - Discursos dos saberes e das ciên­cias na perspectiva de Michel Foucault. "Revista Portuguesa de Filoso­fia", Braga, 39 (1-2) Jan.-Jun. 1983, 92-109. 

- JANEIRA, Ana Luísa Cardoso Dias - Filosofia das Ciências. Relatório do programa, conteúdos e métodos do ensino teórico e do ensino teórico-prático. Lisboa, Faculdade de Ciências da Univer­sidade de Lisboa, 1984, 71. Parte deste relatório foi publicado posteriormente com alterações: Filosofia das Ciências. Faces e interfaces de uma disciplina. "Revista Portuguesa de Filosofia", Braga, 41 (1-2) Jan.Jun. 1985, 281-303. 

- JANEIRA, Ana Luísa - Sistemas epistémicos e ciências. Do Noviciado da Cotovia à Faculdade de Ciências de Lisboa. Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1987, 225.

- JANEIRA, Ana Luísa - Bloqueios mentais à emergência da mulher na comunidade científica. In "A mulher e o ensino supe­rior, a investigação científica e as novas tecnologias em Portu­gal". Lisboa, Comissão da Condição Feminina, 1987, 135-146. Actas do Seminário com o mesmo nome. 

- JANEIRA, Ana Luísa - A Filosofia das ciências em Portugal. "CTS. Revista de Ciência, Tecnologia e Sociedade", Lisboa, (9), Jul.-Set. 1989, 8-13. 

- JANEIRA, Ana Luísa; CARNEIRO, Ana Maria; PEREIRA, Pilar Alagoínha - Situações de controvérsia na Química do século XIX: a solução passiva adoptada na Escola Politécnica de Lisboa (1837-1911). In F. GIL (edit) - "Controvérsias científicas e filosóficas", Lisboa, Editora Fragmentos, 1990, 371-406. 

- JANEIRA, Ana Luísa; SANTOS, António Manuel Nunes dos; COELHO, José Amilcar - A História das Ciências em Portugal: ensino e inves­tigação. "Ingenium", Santiago de Compostela, 2, 1990, 95-117. 

- JANEIRA, Ana Luísa - Jardins do saber e do prazer. Jardins botânicos. Lisboa, Edições Salamandra, 1991, 146. 

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- JANEIRA, Ana Luísa - Ao. E-mail.com: A Amazónia tem de se ver de avião!

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- JANEIRA, Ana Luísa (dir. cient.) - Inovação-Tradição-Globalização – “As ciências modernas à descoberta do mundo: viagens com destino nas ciências”. Inclui estes textos de Ana Luísa Janeira: Cultura científica, cibercultura e literacia, O conhecimento pela viagem, 2004.

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- JANEIRA, Ana Luísa; LEITE, José Carlos; AMARAL, Maria Valderez - Ana Luísa Janeira entrevistada por José Carlos Leite e Maurília Valderez L. do Amaral (Cuiabá, 14.8.2003), 2004.

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- JANEIRA, Ana Luísa (edit. conv.) - “O mundo nas colecções dos nossos encantos”. "Episteme", Porto Alegre, (21) Suplemento Especial, Jan.-Jun. 2005, 334 pp.+ CD-ROM. Inclui estes textos de ou com a colaboração de Ana Luísa Janeira: A configuração epistémica de gabinetes, boticas e bibliotecas; Mapeando a natureza brasílica nas rotas dos mares; Poder, saber e cais de intercâmbio à volta de L’Intérieur d’un negociant bordelais au XVIII.e siècle; Endémicas e exóticas nos jardins do Paço de Nossa Senhora da Ajuda e da Universidade de Coimbra; Andarilhos, comerciantes, espiões, naturalistas e outros cientistas em saques, expedições e exposições; A Amazónia&companhia importada para o público norte-americano; Entre ciências e etnociências; A memória na comunidade científica e museológica moderna; Viajar e sonhar pela colecção; Restos de colecção, promoções no tempo, saldos pela história.

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- JANEIRA, Ana Luísa - Primórdios do coleccionismo moderno em espaços de produção do saber e do gosto, "Memorandum: memória e história em psicologia", 2006.

http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a10/janeira01.htm 

- JANEIRA, Ana Luísa – Da natura à cultura. O povoado nos trinta povos. In Ana Luísa Janeira et al. – “Os Povos nos Novos Mundos”, Apenas Livros, Lisboa, 2007, 3-10. 

- JANEIRA, Ana Luísa - Projecto “Marcas das Ciências e das Técnicas pelas ruas de Lisboa”. Com Cesário Verde à descoberta de Lisboa, “Circumscribere. International Journal for the History of Science”, 3, 2007.

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- JANEIRA, Ana Luísa - Mutações dos saberes no feminino. In Andrés Galera et al.-“Cherchez la femme”, Lisboa, Apenas Livros, 2008, 11-32. 

- JANEIRA, Ana Luísa; WOLFART, Graziela - Entrevista a Ana Luísa Janeira. “Revista IHS On-Line”, São Leopoldo, 13.9, 19.10 e 3.11. 2009. 

- JANEIRA, Ana Luísa - Eixos e Configurações de Lisboa. Vol. I - Configuração hospitalar de Santana, Eixo do Rato ao Chiado; Vol. II – Alcântara desventrada, Ajuda: fastos e efeitos do Real Paço, Santa Maria de Belém: o império da Praça do Império. Lisboa, Apenas Livros, 2009.  

- JANEIRA, Ana Luísa - Figuras e configurações do Porto: marcas em ambientes escolares. Lisboa, Apenas Livros, no prelo. 

 

LINKS   

    Museus e Colecções

- Coleccionismo

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Marcas das ciências e das técnicas pelas ruas de Lisboa

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Programa internacional de investigação - natura, cultura e memória: projectos transoceânicos

- A Natureza impactante por terras de missão e a configuração epistemológica moderna

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- NaturaMeio - Natureza e eficiência na Herdade do Freixo do Meio

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As ciências modernas à descoberta do mundo  

- As curiosidades de Frei Manuel do Cenáculo

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- A territoralização científica da Amazónia (sécs. XVIII-XXI)

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- Viagens com destino nas ciências

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- O espaço e o tempo no Japão

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Formas de viver, formas de pensar, formas de habitar

- Ciências, técnicas e saberes

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Formas de viver, formas de fazer, formas de saber

- Fazeres com saberes

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- NaturArte - Jardim dos Sete Sentidos

http://jardinsdecajardinsdela.blogs.sapo.pt

 

Colaboração regular em

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Ana Luísa Janeira (Portugal)
Professora Associada da Secção Autónoma de História e Filosofia das Ciências da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (2007--») aposentada. Investigadora do Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnolo­gia e Sociedade da Universidade de Lisboa (1995--»). - Co-fundadora e primeira Coordenadora do Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnolo­gia e Sociedade da Universidade de Lisboa (1995-1999). Com Agregação em Filosofia das Ciências pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (1985) e Doutoramento em Filosofia Contemporânea pela Université de Paris I (Panthéon-Sorbonne) (1971), a partir de 2000, iniciou uma reflexão crítica, visando definir teoricamente topologias entre inovação – tradição – globalização, nomeadamente os conceitos de espaço e de tempo, na sua articulação com inovação científica, saberes tradicionais e culturas globais. Projectos interdisciplinares em curso sob sua coordenação:

- Marcas das ciências e das técnicas pelas ruas de Lisboa

Construção de uma base de dados relativa a construído, estatuária e toponímia em Lisboa, destinada a ser preferencialmente utilizada em turismo cientifico e tecnológico.

(http://marcasdasciencias.fc.ul.pt/pagina/inicio

- NaturaMeio

Relações Universidade-Empresa orientadas para a procura de harmonias entre cultura e natura na Herdade do Freixo do Meio, maior propriedade portuguesa de agricultura biológica.  

- A Real Abadia de Santa Maria de Alcobaça: organização dos espaços, produção dos discursos, sistemas epistémicos

Estudo histórico-filosófico visando configurar e articular espaços arquitectónicos e espaços económicos.  

- Natura, Cultura e Memória

I - A natureza impactante por terras de missão e a configuração epistemológica moderna (séculos XVI-XIX)

Estratégias epistemológicas da Companhia de Jesus na memória americana e asiática, na área da produção de conhecimentos locais e globais. (http://www.triplov.com/jardins/missoes/guaranis/index.hm http//:www.triplov.com/ana_luisa/notas-de-viagem/índex.htlm

II -  Memória, natura, cultura e literatura

A operatividade do acto e da acção dinamizados pela memória, em contextos científicos e literários.

 

 

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