O LACHRYMA CHRISTI!

 

- A toi, compaig! De hayt, de hayt!

- Là! là! là! C’est morfiaillé, cella.

- O lacryma Christi!

- C’est de La Devinette, c’est vin pineau!

- O le gentil vin blanc!

 

 Rabelais, Gargantua

 

 Reesetán, Reesetan ou Nevvton, o sábio português, como Padre Coll o trata[1], foi nesta romaria ao Pico de Santa Isabel? Lendo os catálogos, verificamos que não coligiu a altitude superior a 2500 metros, parecendo isto que lhe faltou subir, agora depende da altitude do Pico, que infelizmente ignoramos, entre 300 e 865 metros, dentro das probabilidades verosímeis. Não que nos faltem informações sobre o assunto, pelo contrário. Segundo as fontes consultadas, eis as altitudes nossas conhecidas: 1400, 2800, 2850, 3000, 3096, 3200, 3300 e 3365 metros. A menos que a altitude real seja a de 1400 metros, e nesse caso o nosso Reesetan não só subiu ao Pico de Santa Isabel como tomou assento no Olimpo.

Alexander (1903) diz que Newton andou por perto, mas em 1895. Alexander é um perito na língua diplomática, é preciso lê-lo em pontas dos pés. Veja o mapa dele de Fernando Pó.

Referindo-se às trinta e quatro novas espécies de ave que descobrira em Bioko, informa que fora o único colector de aves a subir às terras altas, daí a sua sorte: 

I owe this remarkable success to having traversed the high ground, my predecessors having confined their attention to the lowlands.

Por conseguinte, Newton não fez a escalada até ao cume. Porém esta declaração não corresponde às colheitas do tenente da Rifle Brigade, na maior parte de Bakaki, mais perto do litoral que da serrania. No cume, Alexander só coligiu três ou quatro espécies, ali as aves eram muito raras. Em Bakaki, perto de Balbeki e de Banterbari, sensivelmente a 3 milhas de Tiro, a 333 de Cartago e a umas 9 de Sídon, isto muito antes de se chegar à choça dos bubis, sim, as novas espécies estavam todas concentradas numa gaiola, na roça do nosso fenício Rogozinski[2].

E que iria Newton fazer ao Pico? Tal como Stanley e Brazza na bacia do Congo, tal como Duparquet na Huíla, tal como Dhanis na Lunda, já todos os exploradores tinham subido ao Pico de Santa Isabel. Ao Pico subiu Rogozinski e a esposa, acompanhado por um bubi e as suas duas esposas, imagem própria de um piquenique. Uma das mais antigas escaladas foi feita durante a administração inglesa da ilha, nos anos quarenta. A primeira escalada espanhola data de 1862, e pouco antes de Reesetán subir ao cume tinha lá estado um governador espanhol, Barrasa, que encontrou vazia de mensagens a garrafa onde deviam estar uma em polaco, do polaco Rogozinski, e outra em inglês, da esposa. Em 1891, Barrasa desafiou Valero y Belenguer para uma ascensão, mas não passaram das altas pradarias porque lhes faltou completamente a água. E é Valero quem confirma: Los viajeros han ganado muchas veces el Pico de Santa Isabel, ascensión molesta, pero de más encantos que la visita á los pueblos

Rogozinski subiu ao Pico com o espanhol Pellón, em 1860, ou vice-versa ou nada disto, se atendermos a que quem parece ter encontrado de facto uma garrafa com documentos foi Manuel Iradier, o conquistador de Rio Muni para a maçonaria espanhola, aliás para a Coroa de Espanha, em 1877. Entre eles uma Memoria de visitas anteriores que se han hecho al Pico de Fernando Poo, (…) y noticias de otras que han desaparecido, pero cuyo recuerdo se conserva. Son las siguientes – e repare-se que Rogozinski está misteriosamente ausente de todas – Beecroft (1840), Pellón (1860), capitán R.F. Burton y Langlet (1861), Mam y Noeli (1862), Muñoz Gaviria (1862), Hauban y Roy (1862), Ayllón y  F. Osorio (1862), Reylen (1863), Powel, Gazulla, Holt y Strahers (1870), Roy y Boornet (1871), Iradier (1877) (Martínez Salazar).

Sigamos sem pestanejar o relato da ascensão de Rogozinski e Pellón: no Pico deixaram a inevitável mensagem dentro da inevitável garrafa, segundo Unzueta, que não só ignora onde esteja a mensagem, como pergunta se existirá. Eu garanto que existe no livro de Unzueta. Vale a pena transcrevê-la, é um quebra-cabeças muito excitante, que o leitor pode solucionar melhor do que nós, mais afeitos à fonética do que à numerologia. Lembre-se de que está perto da linha do Equador e que é preciso entrar em conta com a pressão atmosférica. Unzueta declara que a altitude do Pico é de 1400 metros, o que não justifica as fogueiras de Reesetán para aquecer os vinte e dois anoboneses, os três marinheiros, as palomas mensageras, o Padre Sanz, os oito guias bubis, Cheriguín, Aguado, Espinosa, os quatro meninos da catequese e os mais que se vão olvidando. A confirmar este ocioso dispêndio de combustível, Unzueta pôs-se a fazer contas, de maneira que a temperatura registada na mensagem está em perfeita concordância com a altitude - 70º Fahrenheit: 21º centígrados. O enigma não está aqui nem na abreviatura do nome Rogozinski, ora vejamos:

Hoy, 3 de abril de 1860. 

- Julián Pellón y Rodg. 

- Punto de ebullición, 195,5. 

- Temperatura, 70º fah. 

 

Para não repetir a história, já contada noutro lugar (Guedes, 1999), sintetizo. Há duas perguntas que se podem fazer:

- Qual o conteúdo da garrafa para entrar em ebulição a 90,8ºC (195,5º Fahr.)?

- A que altitude tem de estar a água para entrar em ebulição a 90,8ºC?

Isabel Cruz, química nossa colega, responde às duas perguntas com cerca de 10.000 metros, significando isto que a mensagem é extraterrestre, o que vem ao encontro das minhas suspeitas de que o conteúdo da garrafa era muito espirituoso - Don Perignon ou algo no género, que o mesmo é dizer que a língua dos pássaros neste caso preciso deve designar-se por Diva-Garrafa.

Em 1884, Rogozinski volta a subir ao Pico, e diz não ter encontrado na garrafa a mensagem do seu imediato antecessor, Beecroft. Espantoso é que, com mensagem ou sem ela, a garrafa lá está nas alturas da montanha, sempre à espera do próximo náufrago.

Conta ainda Unzueta que uma expedição fez a escalada em 1899, mas nada mais refere acerca dela. E que Milrbraed[3] também subiu ao Pico em 1911, aí descobrindo a Cruz deixada pelo Padre Sanz e a garrafa que continha o documento depositado pela expedição hispano-portuguesa de 1894, que trouxeram para Santa Isabel para restauro, por estar em mau estado de conservação. O que estava deteriorado era a mensagem da Garrafa. Portanto a espirituosa mensagem foi restaurada, ninguém a descobriu na garrafa até 1911, apesar de republicada parcialmente por Unzueta e da expedição incógnita de 1899. Depois disso ninguém mais soube dela, o que é natural - o conteúdo das garrafas não dura para sempre.

A 28 de Dezembro de 1911, quem faz a escalada são os missionários. Deixam no Pico uma Cruz (sempre maiusculada nos originais, para se saber que antes dela há um traço de união com a Rosa) de madeira vermelha. Ora a cruz vermelha é a dos rosa-cruz, se bem que a madeira, como matéria-prima, esteja para os Carbonários como a pedra para os maçons - os carbonários pertencem à maçonaria da madeira ou florestal.

A fábula da mensagem na garrafa é metalinguística, aponta para si mesma como linguagem das aves, também chamada Diva-Garrafa, como escreve Anes, referindo-se a Rabelais, grande cultor da cabala hermética, escrita híbrida ou macarronés, gaia ciência, enfim, como prefira. Porém o deus para que aponta o diva, de Diva-Garrafa, é Dionísio, e mais propriamente esta linguagem é a da embriaguez sagrada, a que permite sondar o futuro e obriga a dizer a verdade. Os diplomatas também a conhecem, mais os serviços de informação dos governos e exércitos. A obra de Rabelais é excessiva em todos os domínios, sobretudo os da comezaina e bebedoria. Criemos assim um nome especial para o discurso dos autores que relatam os feitos da mensagem na garrafa em Fernando Pó - língua gargantuélica.

Na época, a bem dizer só havia duas povoações importantes em Fernando Pó - Santa Isabel, a capital, e Basilé, a oito quilómetros, onde vivia o governador. Havia as missões, católicas e protestantes, e um sanatorium, ou sanitarium, como diz Newton. Os nomes de lugar são na maior parte os das tribos. Damos uma lista de topónimos bubis, para quem quiser corrigir os lapsus linguae dos textos que citámos anteriormente. 

 Tribos bubis

Baho, Bakake, Balachá, Balombe, Baloveri, Banapá, Bantabarí, Bariobe, Basakato, Basapo, Basilé, Basuala, Basupú, Batete, Batiokoppo, Bauci, Belelipi, Bepepe, Biapa, Bococo, Bolobé, Boloko, Boobe, Bososo, Botonós, Bualatokolo, Kodda, Kutari, Macri, Mechapúa, Mioko, Moka, Musola, Ombori, Rebola, Riasaka, Risule, Tuplapla, Sas, Situele e Ureka (Castillo-Fiel).[4] 

Os anos de 1894 e 1895 são demasiado inextricáveis para os decifrar, leia as cartas e consulte a Errática, para verificar que é o próprio Newton quem fornece informações segundo as quais está em dois ou três locais muito distantes no mesmo dia. De uma das vezes muito doente em Basilé e simultaneamente a coligir na Ponta dos Frades, que conhecemos de mapa, mais em concreto em Santa Teresa, que já só conhecemos de altar.

Por mim, basta saber que enquanto as luzes de bengala assinalavam na choça a presença de Reesetán, vinha Newton de Timor.

E o que foi Newton fazer a Timor?

As viagens a Timor devem-se a que Timor nunca foi uma colónia pactuante e pacífica. No outro lado da ilha, os holandeses espicaçavam os timorenses contra a tutela portuguesa. Exactamente nesta altura emigravam eles em quantidade para a parte oeste, com graves prejuízos para Portugal, desejoso de que os régulos cultivassem café.[5]

Newton vai partir para pôr cobro à situação, mas chegará tarde, como sempre: entre ida clandestina e por nomeação, verifica-se uma revolta, os timorenses hasteiam uma bandeira estrangeira na fronteira, e para restabelecer a ordem fez-se grande número de mortes entre os revoltosos[6]. Quando chegar de novo a Timor, daqui a um ano e tal, encontrará a colónia ainda em guerra. Permanece a questão agrícola como ponto quente: Portugal quer que os régulos plantem café. É o que Newton vai fazer a Timor: ver se os régulos obedecem ou não obedecem à ordem de plantar café.

Newton passou em Timor parte do tempo em que escrevia de S.Tomé. A Fernando Pó já tinha ido várias vezes e voltará a Fernando Pó mal o barco de Timor atraque. Alguém teve de deixar em Banterbari, Bakaki, Balbeki, etc., as 35 novas espécies de aves, 34 delas endémicas, que Boyd Alexander coligiu em Fernando Pó em 1903, com a ajuda de Mr. Lopes, do Reverendo Coll e outros bons padres de todas as missões.

Isto afirmo apesar de os relatos da peregrinação ao Pico provirem de fontes tão santas como o Reverendo Sanz, o Reverendo Coll, mais as palomas mensajeras, e para cúmulo os quatro meninos pamues[7] da Missão Oatólica do Coração de Maria. E apesar de a procissão, que podia chamar-se De Concepción à Natividad, apresentar aspectos tão beatos como missa no Pico, uma cruz erigida no dito, sinos e missa do galo à chegada. Palomas mensageras e galo, mais os cem pintados passarinhos - que mais falta para entender que os textos estão escritos na língua das aves?

Um leitor pergunta qual o sentido de tudo isto, outro ainda teima que são erros. O primeiro quer saber. O segundo, com pavor do conhecimento, esconde-se com a informação debaixo da cama.

Ao primeiro diremos que é a geopolítica o cerne de um dos enredos, são as próprias ilhas que detêm parte da resposta. Elas não constituem só um laboratório da Nova Atlântida. Eram locais de escravatura e deportação de presos políticos. Para Fernando Pó, a mais mortífera colónia penal espanhola, desterravam-se soldados, generais, poetas, professores, banqueiros, que nas Filipinas e em Cuba lutavam pela independência. Socialistas, republicanos. Newton teve em S. Tomé e no Príncipe a companhia de um importante degredado - Joaquim Martins de Carvalho. Mário Soares ainda experimentou o degredo em S. Tomé.

Newton, quando diz que cai nas fortalezas, refere-se a presídios. Quando diz que Ano Bom dava um óptimo sanitarium, não confunde com sanatorium[8], usa a língua das aves. As ilhas, por constituirem prisões naturais, eram escolhidas para afastar os elementos sociais incómodos. Daí que as histórias de degredados se misturem às vezes com fábulas da História Natural: o Macroscincus coctei, diz-se que desapareceu do ilhéu Branco porque, numa seca, se deportaram para ali 30 degredados[9], que sobreviveram alimentando-se dele. Infelizmente já contei esta história (Guedes, 1990), numa altura em que as luzes me bafejavam muito menos do que hoje. O que em parte me salva do ridículo de ter debitado uma paródia - a síntese de características do Macroscincus coctei que vem no primeiro capítulo - como se fosse um conjunto de factos científicos, é o processo literário de o narrador ser o próprio lagarto.

Quem primeiro deu a notícia da existência de lagartos gigantes (Varanus komodoensis) na ilha das Flores ou de Komodo, foram uns degredados, salvo erro trinta também, isolados na ilha por um governador. Os presos começaram por dizer que os animais tinham nove metros de comprimento, ninguém acreditou. Baixaram para uns seis, ninguém acreditou. Quando finalmente a ciência resolveu ir investigar, encontrou varanos gigantes, com cerca de quatro metros de comprimento, pouco mais do tamanho actual dos maiores.

Um dos primeiros locais de visita de Newton é a ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul, onde decerto foi visitar o túmulo de Napoleão, para ali desterrado. De maneira antecipativa, a primeira viagem que o vemos fazer, quando chega a Cabo Verde, em 1898, é ao Tarrafal, que em 1936 se tornaria prisão política de alta segurança.

Porque estas coisas não podem ser ditas enquanto duram, o Padre Juanola insinuará que viviam hipopótamos no Lago Loreto, em Fernando Pó, descoberto pela primeiríssima vez por ele a 9 de Dezembro de 1895, logo a seguir à primeiríssima escalada do Pico de Santa Isabel pelo nosso Eneias. Quando o Reverendíssimo Padre Juanola fornece a lista dos habitantes do recém-descoberto Lago Loreto, esperando nós, da palavra habitantes, que se dissesse que tribos bubis por ali havia, o que nos aparece pela frente é um enunciado de muchos monos, patos y… el hipopótamo. Para não restarem dúvidas sobre a enormidade da insinuação, lá vem uma bonita gravura, com os frades a erguerem os braços aos céus e os carinhosos guias bubis a fugirem à frente do hipopótamo (Bonelli, 1896).

Que se pretende com as paródias? - chamar a atenção do mundo, não para os imaginários hipopótamos, sim para o que havia de real na ilha. Para outros, tudo isto são gralhas, claro, não podemos esperar que os padres[10] saibam o que é um hipopótamo, e em que lugares eles não existem de maneira nenhuma, a menos que os tenham levado ao colo do continente para a ilha, e da baía de Concepción para um lago situado a 1350 metros acima do nível do mar.

No ilhéu das Rolas, propriedade particular onde se cultivava o cacau, subsistia a escravatura. É por essa altura que se transmuta em ilhéu das Rolhas. Mas Newton não criou só o veneno, também fornece o antídoto - o ilhéu das Relas. Relas ou matracas, que obtusa orelha se recusa a ouvi-las, que censor consegue calá-las? 

 Gralhas

A seguir ao Ultimato, estabelece-se um entre os muitos regimes censórios que sempre houve, que ficou conhecido por Lei das rolhas. Uma das vítimas foi o jornalista Faustino da Fonseca. Três meses de prisão e o próprio juiz revoltado com uma lei iníqua que o obrigara a aplicar a pena[11].

 

Nestes anos, com regularidade e abundância, nos jornais aparecem notícias sobre perseguições e prisão de anarquistas em França e Espanha. O Seculo Negro, que nega ser uma versão negra de O Seculo, é um jornal anarquista. Por isso durou 17 números. Portugal não estava de costas voltadas para a Europa. Em dada altura, os anarquistas de Lisboa quiseram comemorar a data em que 46 anarquistas tinham sido presos e mortos em Chicago. Não puderam reunir em casa, tiveram de sair para o campo, apesar da chuva. Mesmo aí a Polícia os perseguiu e é claro que houve prisões.[12]

São estes anarquistas, carbonários, republicanos, membros de sociedades secretas e iniciáticas, que encontramos desterrados nas ilhas. Ora é admissível que as direcções dos grupos destacassem para lá os seus agentes, para ajudarem os Irmãos a fugir ou a ir sobrevivendo. E também para minarem os alicerces da monarquia. Newton não está inocente com o seu triângulo negro, a sua chantage, como então se dizia, em Cabo Verde. Leonardo Fea, com os seus três triângulos e as suas pressões nas ilhas do Golfo, também não.[13]

Estas, porém, são só as facetas política e científica de uma guerra muito mais ampla. Falta analisar o mais importante, aquilo que vem dos confins da alquimia e passa por cristãos como Francis Bacon - a guerra santa.

 

Notícia da chegada de Newton à metrópole, muito doente (23.5.1895)



[1] Sábios ou sapientes são designações dos Rosa-Cruz. O seu objectivo era reunir na Fraternidade todos os grandes intelectuais da Europa. Trata-se de um apelo à sophia. É frequente os naturalistas tratarem-se por sábios.

[2] Rogozinski, polaco, é dado como russo, austríaco, etc., tal como os Newton, consoante as fontes, ora são americanos, ora descendentes de ingleses. Também Bedriaga, que parece ser russo (organizou o primeiro congresso de Zoologia em Moscovo, no qual chama a atenção para o facto de ter introduzido animais no sul da França e alerta para que, ao fim de dez anos, as introduções devem ser tornadas públicas) foi dado como francês. Nós não conseguimos apurar a sua nacionalidade. Apurámos, sim, que foi como outros um nobre viajante, sempre em excursão pela Europa. O objectivo da linguagem das aves, neste caso em que se confundem identidades e nacionalidades, é o de identificar os naturalistas não como cidadãos, sim como Superiores Desconhecidos ou Rosa-Cruzes. Mas a fronteira entre a sociedade iniciática e os serviços de espionagem e subversão de Estado não é clara.

[3] Conhecemos um botânico chamado Mildbraed.

[4] Os bubis também são peritos na cabala fonética. Grande parte dos vocábulos da sua língua começa por b. Quando se encontram, saudam-se com um Bubi!

[5] Diário de Notícias, 31 de Maio de 1895.

[6]  Diário de Notícias, 4 de Maio de 1895.

[7] Nome dos nativos na Guiné Espanhola. O menino é o Imperador no culto do Espírito Santo. Outros elementos espiritanos do relato da ascensão ao Pico, além da cruz, são as flores de altura (Rosa) e o fogo do Espírito Santo (fogueiras e luzes de bengala). Os Rosa-Cruz têm a Pomba como um dos emblemas e o local onde reunem todos os anos é o Templo do Espírito Santo. Marca dos carbonários é a escolha da palavra choça para designar a palhota dos bubis. Barracas, choças e altas vendas são nomes das suas lojas.

[8] Exemplo de cabala fonética idêntico ao que apresentámos para retraite. A gaia ciência tem componente licenciosa.

[9] Fizemos pesquisa na História de Cabo Verde para apurar a veracidade desta informação, mas os resultados foram negativos. Os presos, na época, eram na generalidade políticos. Houve uma revolta de um batalhão militar, mas nada leva a crer que o governador tenha abandonado os presos no ilhéu. Se assim fosse, os correligionários iriam lá buscá-los de barco. O Ilhéu Branco é muito pequeno, desabitado, não tem água nem vegetação, excepto arbustos e ervas, quando raramente chove.

[10] A responsabilidade da publicação cabe a Bonelli, um dos directores da Sociedad Geográfica de Madrid, que é quem assina o artigo, no qual diz divulgar um manuscrito do Padre Juanola.

[11] O Seculo Negro, 3 de Novembro de 1895.

[12] O Seculo Negro, 12 de Novembro de 1895.

[13] O triângulo (3) é o principal símbolo maçónico, o negro a cor de carbonários e anarquistas. Dá ideia de que Newton vai deixando um rasto de estrelas flamejantes nos lugares por onde passa. As ilhas estavam cheias de lojas maçónicas e até no Giraúl, planalto da Huíla, apareceu uma nos primeiros anos do século. Por isso os navios eram tão importantes, e mais ainda a Marinha, para a difusão de práticas e ideias. Navios e wagons como o do Padre Duparquet eram lojas maçónicas ambulantes. Às portas da República, o povo e a classe média já não suportavam nem a monarquia nem o seu esteio, a Igreja.