PORTUGAL
ESCALADA AO PICO DE CLARENCE

Nam barriga sibi jantandi jam dabat horas,
Haud mora: continuo descit de vertice machi;
Vizinham & vadens pauper Novatus ad umbram,
Carregat pardo pandans alforgine costas.
Chegat: & in fresca estirando corpora relva,
Vincula desatat, gravidoque alforgine tirat
Toucinhi veteris postam, septenque boroas.
Macarronea Latino-Portvgveza

 

Eis-nos chegados ao ponto culminante da carreira de Francisco Newton, aquele em que de longe supera os heróicos feitos das missões geográficas de Stanley, Cameron, Capelo e Ivens, e de todos os outros, sem excluir Fernão Mendes Pinto nem Marco Polo. Para o provar sem aragem de cepticismo, há que juntar numa sylva os textos que relatam o Calvário da sua ascensão ao Pico de Clarence ou de Santa Isabel, na ilha espanhola de Fernando Pó - é o florilégio que terá a fortuna de ler já de seguida.

Como nos romances policiais, este é o momento para desafiar o leitor. Não a condenar, a apontar faltas de ética, etc., porque ficaria mal visto em tribunal; estes homens estão protegidos pelas muralhas de Tróia. Acusá-los de quê? Nos casos discretos, defender-se-iam com as gralhas, a falta de jeito para a aritmética, esses terríveis tipógrafos, que nos sabotam os trabalhos. Nos mais exibicionistas, condenar-nos-iam por não termos visto os avisos, escritos em letras garrafais, a alertarem para a necessidade de continuar a proteger com a cabala hermética a fixação dos caracteres e o crescimento dos efectivos das novíssimas espécies criadas pelo homem.

Admiremos, é mais prudente e única saída airosa. O leitor fica desafiado a descobrir todas as gralhas dos documentos seguintes, tem a Errática e outros anexos para ajuda. Em última instância, se não descobrir a solução e resolver investigar por sua conta, agradecemos que nos participe as suas descobertas, pois nesse caso é porque também estamos sem luzes de bengala. Por exemplo:  

  1. Quando chegou Newton a Fernando Pó?
  2. Quantos romeiros subiram ao Pico de Santa Isabel?
  3. Que membros da caravana não chegaram ao cume e porquê?
  4. Quem comandava a canhoneira Salamandra na viagem de S.Tomé para Fernando Pó, a 24 de Novembro de 1894?
  5. De quantos guias necessitaram e porquê?
  6. Para que é que os peregrinos tomaram altitudes?
  7. Qual é a altitude do Pico de Santa Isabel?
  8. A que horas usaram o teodolito e porquê?
  9. Para que serve o teodolito de noite?
  10. Que temperatura fazia no Pico?
  11. O que é que os expedicionários lá encontraram?
  12. O monumento que lá deixaram era a Rosa?
  13. A quem se atribui o epíteto flor de altura?
  14. Em que momentos teve Newton oportunidade de coligir e preparar o material zoológico?
  15. Quem são Cheriguine, Barassa e Barrasa?
  16. Em que navio regressou Newton a S.Tomé?


Bonelli, 1895


 Figura en primer término la expedición verificada al pico de Santa Isabel á mediados de Diciembre último. De esta expedición iniciada por el Alférez de navio Sr. Espinosa, á quien acompañaban el R.P. Sanz, el Sr. Baillo, el naturalista portugués Sr. Reesetán y 22 annobonenses, se han obtenido importantes datos topográficos que facilitarán el mejor conocimiento de la isla. Los expedicionarios encontraron en el citado pico un documento suscrito por el Sr. Barrasa con encargo de remitirlo á la Sociedad Geográfica; establicieron allí la tienda de campaña y pernoctaran bajo una temperatura de 4º centígrados. Enviaron palomas mensajeras, que poseen las Misiones Oatólicas, á la capital de la isla; se comunicaron de noche con la misma por medio de luces de bengala, y al siguiente día, después de tomar altitudes de los picos más elevados de la isla y las convergentes marcaciones azimutales de los puntos principales del litoral, y de celebrar el Santo sacrificio de la Misa, empezaron el descenso, llegando felizmente á Santa Isabel en la noche del 24 de Diciembre.


Bocage, 1895


  

Algumas semanas apenas poude o sr. Newton permanecer em Fernão do Pó, e no entanto não sómente realisou uma penosa excursão ao Pico de Santa Isabel, que tem a altitude de 3.300 metros, mas visitou muitas localidades interessantes, já no interior da ilha, já no littoral, taes como: Bahú, Bissé e Bassilé na base do Pico de Santa Isabel; este Pico; Natividad no interior; Mongola[1], S. Carlos, Bassapó no littoral. […]

Limitar-me-hei a affirmar a V.Exª [Ministro da Marinha] que da sua rapida excursão pela ilha de Fernando Pó conseguiu o sr. Newton dotar o Museu de Lisboa com uma copiosa collecção de specimens zoologicos, de cujo exame se occupa o pessoal technico d’este estabelecimento scientifico com fundadas esperanças de que os resultados dos seus estudos não serão considerados menos interessantes para a sciencia do que o tem sido quanto tem já sido publicado ácerca da fauna de S.Thomé, do Principe e de Anno Bom.

Para o bom exito porém da visita a Fernão do Pó contribuiram effi­cazmente circumstancias que não podem ficar esquecidas, e que julgo dever levar ao conhecimento de V.Exª. Ao acolhimento que o nosso naturalista encontrou em Fernando Pó, á franca e generosa hospitalidade que recebeu do Governador d’aquella possessão, Don José de la Puente y Bassava, official superior da armada hespanhola, á cavalheirosa e bizarra coadjuvação que lhe prestou este benemerito official, ao concurso benevolo de todos os funccionarios publicos com quem manteve relações deve principalmente, repito, o sr. Newton o bom exito do seu emprehendimento.

Com effeito, o sr. Newton, que partira de S.Thomé em 25 de novembro do anno passado em um navio de guerra hespanhol e visitára de passagem as ilhas de Elobey e Corisco e o Rio Muni, aportou a Fernão do Pó no 1º de dezembro, e a 17 d’este mez emprehendia a excursão ao Pico de Santa Isabel, outr’ora Pico Clarence, excursão difficil e penosa, que sómente poude realisar graças aos auxilios prestados pela auctoridade superior da ilha, que o fez acompanhar de um numeroso pessoal de obras publicas sob a direcção do alferes de navio Don José Maria Cheriguine,[2] tomando a seu cargo exclusivo o fornecimento de todo o material e viveres para a expedição e não consentindo que o sr. Newton contribuisse de qualquer modo para as despe­sas, aliás avultadas, d’esta excursão.

Além do Governador de Fernão do Pó, de quem o sr. Newton recebeu um acolhimento tão benévolo e distincto, e do sr. Don José Maria Cheriguine, que o acompanhou ao Pico de Santa Isabel e depois o reconduziu a S.Thomé na canhoneira “Salamandra”, devo registar os nomes de dois funccionarios a quem o sr. Newton se confessa sumamente reconhecido; são os srs. Don Felipe Moreno, engenheiro florestal, que muito contribuiu para a boa escolha e excellente organisação do pessoal que o acompanhou na digressão ao Pico de Santa Isabel, e Don Manuel Aguado, que commandava o navio que o transportou de S.Thomé a Fernão do Pó.


 

Girard, 1895


 

 Francisco Newton vient de faire un séjour assez prolongé dans l’île qu’il a parcouru en partie. Partant de la capitale, S. Izabel, située au nord de l’île, passant par Basipu, puis par Bassilé à 527 mètres d’altitude, il s’est élevé jusqu’au versant nord-est du Pic jusqu’à environ 1:500 mètres. Dans une autre excursion à l’ouest il a visité successivement la mission catholique, Mongola[3], Bassapó, Baloco et Bacoco[4] sur le littoral et l’îlot de Zoros[5]. M. Newton a fait ensuite l’ascension du Pic S. Izabel par le versant est, en passant succes­sivement par la mission protestante anglaise, Kapapa, Bahu et en faisant encore une diversion jusqu’à Biapa.
 

 

Ferreira, 1895


 

Em novembro de 1894 partiu do Principe para as ilhas de Elobey e Corisco, Cabo de S. João, Rio Muni, Colonias allemãs, Batanga, Victoria, Camarões e chegou em Dezembro a Fernão do Pó, onde fez uma das mais interessantes e arriscadas ascensões ao Pico de Clarence, hoje Santa Izabel, a 3200 metros de altitude, com uma comitiva de 35 homens.

Apezar das difficuldades, o sr. Newton, tomando a peito que fosse um portuguez capaz de elevar á cumiada do monte, a envolver-se nas nuvens, obteve do governador espanhol da ilha a canhoneira Salamandra, que transportou a expedição á bahia da Concepcion, d’onde começou a ascensão, que durou cinco dias.

Da difficuldade e incommodo da ascensão ao Pico de Santa Izabel, pode dar uma idéa vaga, o dizer-se que, de 35 homens de que se compunha a escolta do sr. Newton, fornecida pelo governador da ilha, apenas cinco conseguiram acompanhal-o ao termo da subida.

Alcançou como prova d’este esforçado intento, os documentos deixados no cume do Clarence por Barassa e Rogozinski, da armada russa,[6] cujos manuscriptos foram depois entregues á sociedade de Geographia de Madrid.[7]

Padre Coll, 1899

Excursión al Pico de Santa Isabel


«Era el 29 de Noviembre de 1894 cuando el cañonero Salamandra desem­barcó en este puerto de Santa Isabel un naturalista portugués, Sr. Newton, comisionado por su Gobierno para hacer estudios sobre la fauna y flora de Fernando Póo. Complaciente el Go­bierno de la Colonia con el sabio por­tugués, se organizó una excursión al Pico de Santa Isabel, formado por el comandante del pontón, Sr. Espinosa, dos oficiales del Gobierno, el Rdo. P. Sanz, Misionero, el mencionado natu­ralista, cuatro alumnos de la Misión y 22 indígenas anoboneses.»

«Enconedado á Dios y á la santísima Virgen el éxito de la expedición - dice el P. Sanz, - pasamos todos á bordo del Salamandra y á las dos y media de la tarde del 17 de Diciembre, surcaba las aguas como el ave los vientos, haciendo rumbo á la playa de Vahu, donde llegamos después de cuatro horas de navegación. A unos veinte metros sobre el nivel del mar hay una finca en cultivo, cuyo proprietario nos ofreció albergue, y allí descansamos hasta las seis de la mañana siguiente. Después de tomar un ligero desayuno, en el momento de emprender la marcha, soltamos una paloma mensajera con un parte, anun­ciando al Rdo. P. Superior de Santa Isabel la prosperidad de nuestra primera jornada. Este parte lo recibió á la una de la tarde.» […]

«El día siguiente amaneció hermo­sísimo; todos seguíamos sin novedad; cien pintados pajarillos cantaban en torno nuestro las glorias del Criador como invitándonos á bendecirle y alabarle por las maravillas de su omni­potencia, que tan á las claras se ostentabam á la vista del coloso atalaya fernandiano.» […]

«Animados con el cielo nuevo y un camino más expedito, festoneado con variedad de flores muy aromáticas, hicimos dos horas más de camino hasta llegar á la meseta del Pico, donde hallamos la pequeña choza que sirve de refugio á los bubis en sus cacerías de antílopes. Allí pasamos la noche con alguna incomodidad; pero se nos hacía casi insensible con el gozo que expe­rimentábamos, viéndonos ya mui pró­ximos al término de la excursión. Y en efecto, no nos quedaba por andar sino media jornada escasa; por lo cual, resolvimos aprovechar las primeras horas de la mañana del 21, dejando la impedimenta en la mencionada casita, con dos indígenas de Annobón que se hallaban mui fatigados. Con nuestra salida coincidió la de dos palomas mensajeras, portadoras de esta carta. “Llegamos sin novedad á la meseta del Pico. Hemos acampado aquí durante la noche con una temperatura de nueve grados. Los annoboneses tienen mucho frío. Nos acompañan ocho bubis desde Bese. Emprendemos la marcha el resto de la expedición. Aguarden señales esta noche. - Espinosa. - Sanz. - Newton. - Bailo. - Fabra.” En una hora recor­rierón las mensajeras el trayecto hasta Santa Isabel.» […]

«Hechos algunos estudios y experi­mentados de importancia, y recogidos los documentos que dejaram las dos expediciones anteriores para remitirlos á la Sociedad Geográfica de Madrid, depositamos el nuestro, que es del tenor siguiente:

“Á las dos de la tarde del día 21 de Diciembre de 1894, llega al Pico de Santa Isabel la expedición científica hispano-portuguesa, compuesta del oficial de la Marina española D. José Espinosa, y del naturalista portugués D. Francisco Newton, comisionado por su Gobierno para los estudios naturales de Fernando Póo. Acompañaban á los comisionados el Rdo. P. Alejandro Sanz, Misionero del Corazón de María; Don Ramón Bailo, Inspector de colonisación, y Don Alejandro Fabra, oficial 5.º, funcionario del Gobierno general de la isla. Completaban la expedición tres marineros, 22 indígenas de Annobón y cuatro alumnos pamues de la Misión de Santa Isabel. Se enviaran desde estas alturas dos palomas mensajeras á Santa Isabel, saludando á las autoridades y demás habitantes. Al obscurecer se despejó notablemente el horizonte, podi­endo tomarse con el teodolito preciosos datos geográficos, y cambiando señales de luces de bengala con el pontón Ferrolano. Pasamos la noche bajo tiendas de campaña, con una tempe­ratura de seis grados y un brisote de Nordeste.”

“En la mañana del 22 se celebró el santo Sacrificio de la Misa en altar portátil, y la expedición desciende con curiosos datos y diseños topográficos, é importantes colecciones de fauna y flora, preparadas por el Sr. Newton, esperando que los futuros expedicionarios manden este documento á las Sociedades Geo­gráficas de Madrid y Lisboa, respec­tivamente.” (Siguen las firmas).

“Antes de abandonar el Pico resol­vimos levantar un monumento, el más santo y glorioso que vieron los siglos, el árbol de la Cruz” […]

“A las doce de la Noche-buena entrábamos en la bahía de Santa Isabel cuando las campanas anunciaban la solemnidad de la Misa del Gallo. Sin detenernos un momento, nos dirigimos á la iglesia, que estava atestada de gente, para dar gracias al Señor y á la san­tísima Virgen por los beneficios que nos dispensaron en tanta penosa excursión.”

Unzueta, 1947

Ascensión al Pico Santa Isabel del naturalista portugués Reesetan, o Nevvton  


El Gobierno portugués comissionó al naturalista Newton para estudios sobre la flora y fauna de Fernando Póo, llegando a Santa Isabel el 26 de novi­embre a bordo del cañonero «Sala­mandra». Antes estuvo en Annobón.

El Gobernador organizó la expe­dición que acompañaba a Newton, for­mada por el Comandante del pontón, alférez de navío Sr. Espinosa; dos ofi­ciales del Gobierno, Sres Bailo y Fabra; el P. Sanz, de la Missión; cuatro alumnos de la Missión y 22 annoboneses.

El 17 deciembre, embarcados en el «Salamandra», pusieron proa a la playa de Vahu o Bahu, arribando a las cuatro horas de navegar. Descansaron en casa del proprietario de la finca hasta las seis de la mañana del siguiente día y sueltan palomas mensajeras para el Superior de Santa Isabel. A las cuatro horas de marcha descansaron en otra finca y subieron la pendiente que lleva al poblado de Bese (bubi), donde llegan a las cuatro de la tarde. Los obsequian el «Muchuco» y su gente. Contratan bubis como guías y al romper el día salen, soltando nuevas palomas para Santa Isabel. Acampan a media tarde en el bosque, por consejo, junto a un río no mui caudaloso y por el frío encienden hogueras. El día 20, a las ocho, salen, y a las cinco horas de fatigosa marcha por bosques llenos de troncos y lianas llegan al límite del bosque, donde se estienden numerosas y aromáticas flores de altura. Caminan más de dos horas y llegan a la meseta del pico donde hay una choza, que sierve a los bubis de refugio para la caza de los antílopes. Allí pernoctan, y a la primera hora del día 21 dejan allí la impedimenta a cargo de dos anno­boneses cansados y salen. Mandan dos palomas a Santa Isabel y dicen llegaron a la meseta del Pico. Desde Bese iban ocho bubis, y las palomas en una hora llegan a Santa Isabel. Fué penosa la subida desde la meseta al Pico por la mucha pendiente (3.000 metros). El día 22 de deciembre 1894, por la mañana dicen misa en altar portátil y horas despues, cuando recogen documentos de dos expediciones anteriores para remi­tirlos a la Sociedad Geográfica de Madrid y depositan el suyo, bajan con datos, diseños y ejemplares de fauna y flora, preparados por Reesetán. En el Pico elevan una Cruz. Regresan a Santa Isabel el 24 de deciembre.



[1] É o lugar imaginário de Fernando Pó mais referido nos catálogos de colheitas de Newton.

[2] Andrés Galera procurou a ficha pessoal de Cheriguín, mas tinha desaparecido do arquivo onde devia conservar-se. Isto apesar de Cheriguín não ter subido ao Pico e nenhuma relação manter em aparência com esta mirífica expedição, feita com a ajuda da Pomba, da Rosa e da Cruz.

[3] Musola. Entre os dois termos estabelece-se uma relação fonética a chamar a atenção para musa - a língua dos alquimistas também se chama arte de música.

[4] Também não figura nos mapas, nem sequer no de Boyd Alexander, onde encontramos a terceira Baalbeck.

[5] Loros e não Zoros. Ilhéu dos Papagaios.

[6] Os esposos Rogozinski, diz Valero y Belenguer (1892), viviam em Banapá, Fernando Pó, onde tinham uma boa plantação de cacau. Nem Barrasa nem Rogozinski são russos. Os russos não tiveram exploradores em África, sim nas regiões mais nórdicas da própria Rússia.

[7] A única mensagem que parece ter existido e chegado à Sociedad Geográfica é a de Barrasa, governador da Guiné Espanhola. Na Sociedade de Geografia de Lisboa não há nenhum manuscrito de Espinosa, nem Barrasa, nem Cheriguín. Por extraordinário que pareça, não há sequer, na Colecção de Manuscritos, nenhum documento de Francisco Newton. Mas há um de Lopes da Silva.