Homenagens funebres
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Gabriel Newton |
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Elisabeth Newton |
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Waldron Kelly |
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Ana Ludovina de Aguilar Kelly |
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Isaac Newton |
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Maria Ludovina Newton |
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Isaac Newton |
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Ana Emília Fernandes da Silva |
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Francisco Xavier OKelly d Aguillar Azeredo Newton |
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Laura Aguilar OKelly Newton |
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Isaura |
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Elvira Aguilar OKelly Newton |
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O pai de quem afinal devia chamar-se António João Pedro Francisco Xavier Fernandes da Silva et alii, além de reputado naturalista-colector, conhecido em especial por ter revelado aos botânicos europeus as plantas criptogâmicas do norte de Portugal, era guarda-livros numa casa comercial inglesa, votada ao comércio do vinho do Porto, a Robertson Bros. & Cº, sediada em Vila Nova de Gaia. Isaac mantinha correspondência com os botânicos europeus, de tal modo que Adolfo Frederico Moller, inspector do Jardim Botânico de Coimbra, quando precisava que os especialistas estrangeiros lhe identificassem exemplares do herbário, era por vezes a ele que recorria:
Diga ao Sr. Nylander que deve mudar o nome Lecidia Oportensis para Lecidia Portensis porque em rigor não há nenhuma cidade chamada Oporto,
escreve ele a Isaac, verificando nós com isto que os botânicos, mesmo netos de alemães ilustres, se preocupam com a hortografia.
A mais antiga carta do espólio de Isaac, datada de 1860, foi-lhe escrita, diz Joaquim Sampaio, pelo célebre Harvey. Em suma, Isaac Newton, simples colector de plantas e modesto caixeiro, mantinha relações com os mais creditados botânicos do mundo.
Pela linha Aguillar e Azeredo, os Newton pertencem à família do Visconde de Samodães, diz Duarte Silva. O Visconde de Samodães, reputado liberal, foi a principal figura da Exposição Colonial e Insular, realizada no Palácio de Cristal portuense, a cuja direcção presidia.
GRALHAS
Nas cartas de Francisco, nota-se que o Museu de Lisboa estimulou tanto a sua colaboração no evento que o nosso Eneias lhe enviou um telegrama como ultimato e depois ou antes uma carta com triângulo negro. Newton, membro do secretariado por S.Tomé, deve ter remetido as mais raras espécies que conhecia. Passou dois anos inteirinhos (1893-1894) a preparar a encomenda.
Isaac integrava a comissão executiva da Exposição Insular e Colonial, pertencera à direcção do Palácio de Cristal, o que tem implicações políticas. A Exposição inaugurou-se com a presença da real família, apesar do 31 de Janeiro de 1891, e com os republicanos do Porto ao assalto. Era a primeira vez, desde a revolução, que o Rei visitava o Porto, e só o fez por o Visconde de Samodães lhe garantir que podia ir descansado, o que demonstra o poder deste afastado parente de Francisco.
Pela linha OKelly, devem provir de uma família irlandesa que veio para Portugal cerca de 1733, na qual se contam Hugh, Diogo, Thomas e outros OKelly, entre militares, mestres de dança no Paço, frades dominicanos, industriais do vidro. Estabeleceram contactos estreitos com membros do clero português, que por várias vezes os interrogaram, curiosos de saber qual o assunto das palestras que regularmente mantinham com outros confrades, numa loja da baixa lisboeta. Eles fundaram uma das duas primeiras associações maçónicas de Lisboa, a qual logo a seguir foi compulsivamente encerrada, por pressão do Santo Ofício. Um dos OKelly, salvo erro Hugh, era grão-mestre da Loja. Vários sofreram graves perseguições.[5]
Sampaio dá-nos notícias em que vamos reflectir um pouco. Isaac Newton nasceu a 7 de Junho de 1840, partiu de Portugal com dois anos para ser educado em Inglaterra e quando voltou teve como professor de língua pátria o Dr. Eduardo Augusto Allen, que se dedicava às Ciências Naturais. Que terá Isaac estudado em Inglaterra para começar a trabalhar como caixeiro e acabar em guarda-livros? Dos estudos de Francisco nada sabemos. Ninguém lhe nega título de naturalista, mas isso não corresponde a um grau académico. No século XIX, e é o Papa a afirmá-lo, naturalista é o maçon.[6]
Ponhamos como hipótese que em 1857 Isaac andasse a apanhar morcegos em Timor, tanto mais que aos treze anos já coleccionava algas, e corre a notícia, não confirmada pelas filhas, de que terá pouco depois visitado o Rio de Janeiro. Já não deve ter coligido os lepidópteros, pois a sua vida fica - esperemos - controlada pelo biógrafo a partir do casamento, em 1861, com Ana Emília.
Isaac morreu a 9 de Abril de 1906. Entre as flores que cobriam o féretro via-se um bouquet oferecido por Augusto Nobre. Foi sepultado no jazigo da família Costa Cabral, no cemitério de Agramonte, diz Joaquim Sampaio.
Porquê no jazigo da família do Marquês de Tomar? António Bernardo Costa Cabral está sepultado no cemitério dos Prazeres, em Lisboa, mas nada obsta a que a família tivesse vários jazigos.
Em Abril de 1859, depois de todas as vicissitudes da sua carreira política, Costa Cabral foi condenado a ser ministro plenipotenciário no Brasil, para resolver uns problemas relacionados com o vinho do Porto. Era então para junto dele que Isaac Newton se preparava para partir, e só não partiu porque a Ana Emília se interpôs entre ele e esse destino. Mas a título de quê, e não seria por causa da legislação sobre os vinhos do Porto, conhecia o modesto caixeiro uma pessoa da estatura quase pombalina do Marquês de Tomar? Conhecia-o através do Visconde de Samodães, o que não explica o porquê de ter sido sepultado naquele jazigo, a menos que pertencesse à família. Quem era a mãe de Francisco Newton, Ana Emília Fernandes da Silva?
O nome Silva - vulgaríssimo entre cristãos-novos, especialmente no Brasil - pertence à família dos Costa Cabral, figuras frisantes na maçonaria portuguesa. António Bernardo da Costa Cabral, Fénelon de seu nome iniciático, foi Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano duas vezes e dessas duas vezes desempenhou também o cargo de Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Grau 33.
GRALHAS
Bocage viveu quase um século apesar de tuberculoso. Conta Baltasar Osório (1909) que em estudante, em Coimbra, se alistou no Batalhão Académico para combater Costa Cabral, nas guerras da Patuleia. Tempos depois, já formado, indo visitar os pais, ao Funchal, a família foi publicamente injuriada, por abrigar em casa um patuleia. Os patuleias, esquerda radical, reclamavam um rei rodeado de instituições republicanas. Toda a sua violência se dirigia contra os Cabrais, pois o Marquês de Tomar, que fizera grandiosa obra, muito progressista, depois inverteu o sentido da marcha política, passando da esquerda à direita, com instauração de ditadura. À família chamavam até a quadrilha dos Costa Cabrais[7]. O termo patuleia tinha conotação muito pejorativa, pata ao léu diz-se que é a sua origem.
Ora, em Coimbra, na noite anterior à saída do Batalhão Académico, Bocage sofreu uma hemoptise, o que o não impediu de ir à luta, tal era a sua ira contra os Cabrais. Entretanto, o Duque de Saldanha (Grande Plenipotenciário do Carbonarismo), aliado de Costa Cabral na Patuleia, combateu-o mais tarde, em seguida deu-lhe a mão, depois enviou-o em missão diplomática para o Vaticano, enquanto assumia ele o poder e o cabralismo. Quando Bocage, regressado do Funchal, queria entrar para o corpo docente da Escola Politécnica, Saldanha atravessou-se-lhe no caminho, negando-lhe a entrada, porque Bocage era um patuleia, mas também Saldanha, o homem das 51 caras, ora estivera do lado de Cabral ora contra, segundo as correntes de ar.
Pelos vistos, ao velho Bocage a quem, diz Balthasar Ozorio, a Rainha tratava familiarmente por tu[8], a esse Bocage regenerador, conservador e monárquico, os correligionários nunca perdoaram que tivesse combatido Costa Cabral, mesmo sendo ele nesses tempos um juvenil em capa e batina.
Para tornarmos a Isaac e a Francisco, a maçonaria dos OKelly, do Visconde de Samodães[9] e dos Cabrais é a família em que se enxertou o ramo dos Newton.
E terão os Newton portugueses algum laço de familiaridade com os ingleses, remontando estes ao judeu Isaac Newton, maçon, alquimista e físico?
[1] A utopia destes homens era a república, regime considerado perfeito, susceptível de conquistar a felicidade para todos os homens.
[2] Da parte de D. Laura.
[3] Uma das personagens de Erewhon, utopia de Samuel Butler, tem este nome, anagrama de Robinson.
[4] Os Superiores Desconhecidos, Mestres Invisíveis, mais conhecidos por Fraternidade Rosa-Cruz, ambicionavam passar incógnitos por este mundo. Mudavam de nome periodicamente, saiam para o estrangeiro com pseudónimo ou nome seu mas desconhecido do público, caso do Duque de Lafões, primeiro presidente da Academia Real das Ciências, nobre viajante que percorreu a Europa com o nome de Miranda. Ele era o 7º Conde de Miranda do Corvo.
[5] Aconteceu isto à data da publicação da Ennaea/Ennoea, de Anselmo Caetano, considerada só uma obra e de alquimia, a mais significativa de origem portuguesa. Nela encontramos um longo e extraordinário capítulo dedicado às gralhas. Não é uma simples errata, sim um impressionante suplemento do suplemento, que vem antes e não depois do suplemento sobre matéria errática. Na realidade são dois livros, publicados em dois anos, o segundo de alquimia, o primeiro, não. O segundo começa por situar as duas personagens sobre a ponte do Soure, o que logo o transfere para o mundo do construtor de pontes (pontifex), isto é, da maçonaria. O projecto principal do primeiro é o de fundar em Lisboa uma Nova Roma, portanto uma Nova Igreja, ou Igreja Invisível, outro é o Quinto Império, ou Império do Espírito Santo. Estas duas propostas são rosacrucianas. Os alquimistas são mestres da ocultação. Todo o seu ensino era secreto, ou iam parar à fogueira. Esta arte da duplicidade na comunicação foi herdada pelos maçons, às vezes também chamados naturalistas.
[6] O naturalismo é o corpo doutrinário difundido pela maçonaria, cujos princípios rejeitam o sobrenatural e a religião revelada, ao afirmarem que tudo o que existe é natural e explicável pela razão humana.
[7] Os Cabrais foram bons, por compararção com os piores: A Dictadura ou dentadura, com que o actual governo nos beneficiou, é o escandalo mais atrevido, a patifaria mais velhaca de que ha memoria! Nunca os Cabraes, esses famigerados politicos a quem o povo enxotou das cadeiras ministeriaes, se atreveram a praticar escandalo tão grande! (O Correio do Porto, 9 de Agosto de 1886).
[8] Lemos uma carta de Carlos Roma du Bocage, a quem Balthazar Ozorio solicitara correcção das provas da sua biografia do pai, dizendo que a rainha Maria Pia nunca tratara ninguém por tu (carta de Villa Roma, Cintra, 19 doutubro de 1915, AhMB, CN/B-78). A frase, que não foi retirada, diz respeito aos répteis: Ó Bocage, porque é que tu gostas tanto de uns bichos tão feios? Se a fórmula de tratamento não foi emendada, entendemos que a intenção é declarar familiaridade de J.V.B. du Bocage com a monarquia. Havia uma grande rivalidade entre maçons monárquicos e republicanos, e também entre cabralistas e saldanhistas. Outra correcção, agora de nomenclatura: Osório escreve Barbosa. Carlos Roma argumenta que o pai sempre assinara Barboza. Ozorio e Ferreira assinavam indiferentemente Osorio e Ozorio, Bettencourt e Bethencourt Ferreira.
[9] O Conde de Samodães abandonou a maçonaria, mas manteve com ela ligações, ao menos como tradutor e prefaciador de obras sobre a Ordem.