JOÃO CAMACHO
Arquitecto, artista plástico, jornalista, músico e professor. Desenvolve design de sites e marketing digital a par das suas actividades artísticas. Natural de Lisboa. Vive na Quinta das Artes em Casal d’Além, Alcanede. Site Spiralis Mag: Lxartes.com
O que é a NEOPOP.
Segundo a critica e historiadora de arte Camille Paglia ‘’a vanguarda acabou com Andy Warhol, que teve grande influência sobre mim nos meus tempos de faculdade. Quando a Pop Art abraçou a propaganda comercial e as estrelas de Hollywood, a fórmula oposicionista da vanguarda já estava morta e acabada.’’ [1] Ou seja, as escolas clássicas do quadro ou da pintura sobre um suporte foram ultrapassadas pelos novos meios de expressão como a colagem e a arte abstracta.
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No entanto, muitos outros movimentos surgiram e proliferaram. Depois da Art Pop dos anos 50, tivemos os Conceptuais, onde o texto, o poema ou uma sequência de frases compunham pacificamente um objecto de arte.
Mas a arte pop trazia com ela um outro elemento importante. Ela pretendia ser ‘’popular, passageira, efémera, de baixo custo, produzida em série, engenhosa, sexy, evasiva, atraente, da alta finança. ‘’[2]
Pretendia chegar a todas os extratos populacionais. Para isso tinha meios potenciais oferecidos pela rádio e televisão.
Os artistas eram não só os actores como desenvolviam um padrão de acontecimentos. Eles eram o centro da acção com dinâmicas variadas que iam da autocrítica à crítica alheia. As figuras populares tornaram.se módulos reproduzidos e assinados. As edições de autor proliferavam e difundiam por todas as camadas sociais a preços poucos especulativos.
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Quem estivesse interessado em investir podia fazê-lo. Marcel Duchamp desenvolveu a célebre mala de caixeiro viajante a qual se desdobrava, quando aberta, em várias reproduções de alta qualidade dos seus quadros e instalações. Era um mostruário o qual serviu para trocar Paris por Nova Iorque durante a 2.ª Guerra Mundial. Aliás, foram muitos os artistas europeus que rumaram depois à capital das ‘’democracias’’. Isso foi o expoente da Arte Conceptual. O que interessava era o conceito subjacente à obra. Ela era reproduzida, numerada e assinada pelo artista. Havia séries especiais e provas de autor. Podemos considerar que há um antes e um depois ou um imbricar das diversas expressões.
Sim, a Arte Dada da 1.ª Guerra Mundial feita dos caprichos dos artistas que se reuniam num café de Zurique[3].
Este movimento vai influenciar directamente o Surrealismo de André Breton[4] ao ponto de muitas vezes se confundirem os dois. Lenine conhecia-os bem, de vez em quando frequentava o café e tinha algumas conversas com os vanguardistas[5]. Mais tarde, as artes de vanguarda na Rússia tiveram o seu apogeu e acabaram por ser censuradas em prol do realismo socialista. Engraçado como os regimes totalitários uma das primeiras políticas a ter é controlar a produção artística em detrimento da criatividade degenerada. Viu-se o mesmo na Alemanha nazi para consumo próprio e vê-se actualmente em países ditos democráticos onde a arte só é apoiada se permanecer dentro dos canones clássicos. Aqueles da arte aborrecida e monótona para fruição do público civil. Nada da decadência da arte onde se fazem alusões à sexualidade, um mantra policopiado das redes sociais as quais devem permanecer imunes e protegidas pelos altos gabaritos da inteligência artificial e dos algoritmos criados pelos programadores.
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Há um interesse nos movimentos estéticos entre o que propõem e o que fazem. Como se a linha temporal da arte não existisse. O populismo da Pop funde-se com o anacronismo do Dada e a intelectualidade da arte Conceptual. Muitas vezes é difícil distinguir o que é de um autor e de outro como os trabalho do Picasso e Bracque no início do Cubismo. O NeoPop segue o mesmo caminho. É nome de um festival em Viana do Castelo[6], é a base do trabalha da Joana Vasconcelos e segue a trilha do António Palolo, entre outros.
O que a define?
Vai buscar as cores vivas da Pop, dá-lhe um ar rejenusvescido pela aplicação de tintas Neón, novo, novidade, novas propostas, a partir de uma base comum: a colagem.
A colagem tem sido usada abundantemente desde antes da 1.ª Guerra Mundial. Os trabalhos de Richard Hamilton, e dos russos construtivistas tanto do lado ocidental como russo. As novas linguagens gráficas trouxeram dinâmicas que a imagem fotográfica permitia fazer. Quando se aplica a foto-montagem com todos os cuidados inerentes ao corte e cola em preto e branco e mais tarde na imprensa a cores.
Os líderes políticos sempre tiveram muito receio dos artistas que subvertem as normas e os costumes. Principalmente quando obtém resultados sociais retumbantes. São comportamentalmente instáveis, provocadores, repetem até à exaustão as suas verdades. Levam os outros à preversão, â preversão de valores, da moral e da sociedade que brevemente poderá tornar-se caótica, doente e degenerada. Foi assim que o Futurismo dos anos 40 calcou os artistas e os atraiu ao seu seio com promessas facéis e sonhos de uma voluptuosidade racional e veloz.
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A crítica de valores pode ser acompanhada por quem procura impor as suas visões decadentes e ditatoriais. Vemos isso na diversas Rússias e mais na de Putin, Na China de Xi Ji Ping, no Irão do Aytola, na Cuba de Raul Castro, na Coreia do Norte e proximamente, o neocolonialismo dos Estados Unidos de Trump[7]. Países que têm bastante dificuldade em combater focos de expressão diferentes, novas ideias, de debater e não censurar. [8]
Se não há vanguardas para quê ter a veleidade de mudar?
Para quê tentar refazer a sociedade quando o que são precisas são turbinas e hélices que nos mantenham no ar?
Para quê essas veleidades se não precisamos de sair do mesmo lugar?
Então, sim, há que refazer os nossos lugares. Os lugares onde habitamos, que partilhamos e nos quais convivêmos com os nossos semelhantes.
Qual isolacionismo?
Qual barbárie selvagem e afrodisíaca que rompe com os direitos humanos e nos obriga a aceitar os ataques sanguinários de caçadores de cabeças modernizados. Impõem a sua vontade como minoria que são pelo voto e pela demoracia.
É isto o NEOPOP, uma nova forma de revogar a natureza das coisas, amplificar aquilo que nos interessa e diminuir o que é mau e doente.
Vivemos num mundo antagónico em que o poder equivale ao dinheiro, â censura, â capacidade de enfrentar os antigos déspotas, cortadores de cabeças neocapitalistas, neotorturadores, tudo com uma roupagem moderna de super-homens de alpaca em que as mulheres desaparecem como cenários de curta duração.[9]
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[1] Camille Paglia, o Pós Modernismo é uma praga para a mente e o coração, Camille Paglia, Fautos Mag., 2015. https://faustomag.com/camille-paglia-o-pos-modernismo-e-uma-praga-para-mente-e-coracao/ ↩︎
[2] Richard Hamilton citado num texto de Dalila Rodrigues, revista In.Comunidade, 2021. https://www.incomunidade.pt/da-pop-arte-a-transvanguarda-dos-anos-1980-dalila-dalte-rodrigues/
[3] Cabaret Voltaire, foi fundado por Hugo Ball e a sua companheira Emmy Hennings. Outros membros fundadores: Marcel Janco, Richard Huelsenbeck , Tristan Tzara, Sophie Tauber-Arp e Jean Arp. Artistas que por ali passaram: poemas de Kandinski, Else Lasker, Blaise Cendrars, Jakob van Hoddis, Richard Huelsenbeck, Franz Werfel, Christian Morgenstern, Alfred Lichtenstein, Max Jacob, André Salmon, Jules Laforgue, Henri Barzun e Fernand Divoire. Liam-se também excertos de “Rei Ubu”, do dramaturgo Alfred Jarry. (fonte Wikipédia) https://www.zuerich.com/en/visit/culture/cabaret-voltaire-the-birthplace-of-dada
Dada Berlim https://berlinischegalerie.de/en/collection/collection-online/dada-berlin/
[4] Breton Em Les Champs magnétiques (escrito em colaboração com Soupault), coloca em prática o princípio da escrita automática. Breton publica o Primeiro Manifesto Surrealista, em 1924. (fonte Wikipédia)
[5] Lenine em Zurique. Lenine viveu cerca de um ano em Zurique, entre Fevereiro de 1916 e Abril de 1917, de onde saiu para tomar as rédeas da revolução que se iria concretizar dois anos depois. https://www.zuerich.com/en/lenin https://pt.revistasdeideias.net/en-gb/renovacao/in-issue/iss_0000001681/5# https://www.wook.pt/livro/lenine-em-zurique-aleksandr-soljenitsin/72430?srsltid=AfmBOopjJo6MZEi6XtdLAKm9Q-kuhVgEwQzjlf06ln_BpH1LxrFKm2z9
[6] Another footnote. Festival NeoPop em Viana do Castelo https://neopopfestival.com/en
[7] Neocolonialismo https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/neocolonialismo.htm
[8] Novas ditaduras recusam a Carta das Nações Unidas, a ONU, os Direitos Humanos, a Poluição, as Alterações Climáticas https://ffms.pt/pt-pt/atualmentes/ditaduras-estao-de-regresso-saiba-como-e-porque
[9] Filosofia- O silêncio de Duchamp, Miguel Cereceda, Problemas del Arte Contemporáne@, capítulo 8, Cendeac, Murcia, 2.ª edição, 2008, pags. 121-130. Ceredas atribui um longo silêncio, até ao fim da vida a Duchamp, depois de este ter largado definitivamente o seu último trabalho o Grande Vidro. Segundo ele, este silêncio foi usado por vários artistas tal como John Cage, Volf Wostell, Naim June Paik, entre outros como expressão artística. Desde o piano e o contrabaixo de Joseph Beuys forrados a feltro com uma cruz vermelha em referência à poluição por talidomida no Japão, em que várias pessoas morreram e outras sofreram doenças generativas gravíssimas, ao filme O Silêncio de Igmar Berman. Era um tema na moda à época.