Nas noites frias de um Inverno triste

 

JOÃO PEREIRA DE MATOS


 1.

Do Livro das Iluminações

Naquela noite, cálida e amena, as estrelas cintilavam com um brilho desmedido. Podia ver-se o caminho quase como de dia. Poucos se lembravam das reacções vividas nas anteriores eleições: desde a revolução portuguesa, quando a Coluna de Notícias, apenas disponível pela primeira vez, nos seus dois dias de trabalho, se abriu aos emigrantes, à revolução social a partir de Paris, que destruiu, à época, a desumanidade dos anos noventa, que derrubou o antigo regime e as arbitrariedades das gratificação das eleições de 1925, com base em três pontos-chave: apresentação de candidatos independentes, redução das desigualdades dos prémios Nobel de estilo moderno, atribuição de direitos aos ciborgues de origem nacional. Estas foram algumas das reivindicações. Outra, a descolonização da Guiné e do Negro Subsídio, antiga ilha do Sahara, que, até então, existia sob a nossa tutela, mesmo sem eleições. Nestas eleições, os pobres de cinco séculos, um pouco por todas as partes do mundo, reuniram três milhões de votos para a eleição do Presidente e do Primeiro-Ministro.

 

2.

Superávit

«Por quê?» perguntava, já com alguma angústia.

«Por que essa estrutura não está a ser resolvida?», estrangulou-se-lhe a voz e abandonou a sala com a lentidão própria de quem está, antecipadamente, derrotado.

«Veja a situação mais completa», acrescentou e desligou.

Estava muito mal.

Para viver o seu luto, Hugo Amorim, ex-parlamentar, lembrou-se do meio-dia do Sol resplandecente do último Verão, com a família que, agora, lutava por ele num dos hospitais da região.

«Foi uma situação horrível», confessou.

«O pior foi lutar até agora», diz sobre uma das duas alegações que, sobre ele, impendem.

«Eu sentia-me consternado», alega, enquanto percebe o rasto de destruição que o assunto provocou.

«A minha estrutura existe há mais de duas décadas, desde a reestruturação. E ainda está fora de funcionamento. Há muitas complicações para o funcionamento desta nossa casa. Mas há muitas outras estruturas para resolver as nossas necessidades».

«Querer ser candidato à liderança, o que só existe nas seis partes do País?», questiona.

«Será preciso resolver o problema em cada região?», surpreendeu-se Hugo Amorim.

«A questão do Conselho Regional da Entidade Reguladora para a Regulação da Comunicação Social é principalmente relevante como alteração de facto», desabafou ainda.

O ex-parlamentar frisa que ainda têm vários temas pendentes, por exemplo o dos hospitais .

«Apesar do Governo ter decidido esta renovação, há demora para realizar os trabalhos e o quadro passa pela terceira instância», afirmou Hugo Amorim, lívido de cansaço.

«Neste momento não se está a verificar a completa acessibilidade aos serviços ainda a funcionar nas unidades de saúde.»

«Os senhores do Governo estão a ter que fazer a quase totalidade dos trabalhos, para poder ter acesso aos serviços sociais», criticou.

«Aprovado, só por superávit de tempo?»

«Por baixo, assinei». E foi esse o problema.

 

3.

Mónica Vest

Havia qualquer coisa de estranho no ar, uma atmosfera de peso como um prenúncio. Dois homens num descampado:

– Se tivesse comprado um pequeno túnel para baixo, para o grande destino, o inferno que vinha sendo cada vez mais perigoso na minha vida … quando eles começaram a disparar, o que agora descobriram, enfim, que não se foram, que ele estava mal, que eles estavam à procura da dúvida. E eu ainda estava do lado da necessidade.

– Eles têm decidido, pelo menos, fazer uma boa foto.

– Quê? A nossa imagem, que é entre mim e ele, está a ser transmitida pela Internet. Que tormento, nunca esqueço. Eu tenho pessoas comigo a falar, às vezes dias depois, eles dizem-me sempre que estou do lado do bem, no meu lado, se ouviram ambas as versões haverei de aguentar isto, embora, nunca bem.

– Eu só fico agradecido que não mudes a tua posição. Não sei o que fazer frente a esta dimensão, além do impacto no clã que era o grande número de quem poderia chamar a estes «actos de oportunidade». Faltam palavras para esclarecer, porém, talvez porque o «oportuno» sejam os repertórios espirituais dos seus próprios veículos.

Os momentos da morte do pai começaram a passar.

– Eu não consegui levar mais adiante o primeiro «furacão», pois agora tudo está correndo para fora da minha vida, mas de repente cheguei a sofrer de uma doença.

– Isso é genial. Já tenho uma ideia em mente para poderes fazer o que de ti é esperável. Tudo o que a tua vida compreenderia. Quando as coisas começaram a ficar tão pesadas, também a tua vida se tornou mais «quente».

– O que não entendo é se não há algo que eu e o meu irmão também possamos fazer?

– Os nossos irmãos estão bem assim, por enquanto. Eles seguem as suas viagens de verdade, aliás, mesmo estando alguns doentes.

Esta entrevista, a saber, foi exibida pelo Jornal dos Descobrimentos, uma rubrica das notícias de actualidade: o luto de D.Diego que foi realizado sempre, um pouco por toda a parte, evitando uma queda estrondosa das bolsas. Ele tinha sido sempre muito preocupado com as suas tantas vidas: era o matador que em 2011 executou os seus 98 «títulos de caracol, o rei» e cuja possibilidade de perda, agora iminente, mais o atingiu. Ficaria tão ligado ao dono do show que, quando este desapareceu, dois personagens dessa vida também desapareceriam – e ele a seguir…

Exibidora da parceria:

©️ Mónica Vest

2021

 

4. 

Vela Nova

Estando fora do centro, daquele núcleo onde tudo se passava, sentia-se agitado. Faltava-lhe qualquer coisa, um estímulo, um estremecimento qualquer, que a excessiva pacatez, se não mata sempre mói. Já muitas vezes se tinha decidido a enfrentar o buliço da urbe, a avançar, decidido, para o seu íntimo, nesse lugar de luzes rutilantes, de ruído permanente, de um rolar de azáfama dos bólides que, a grande velocidade, lhe atravessavam as veias de pedra sem demonstrarem a mínima preocupação com os transeuntes, mas sempre os deixando incólumes, fluindo juntos, metal e carne viva para a foz daquele grande e rebrilhante rio de luz. Mas foi o seu barco de pesca, o Vela Nova, a única mudança possível. No interior dessoutro rio que emoldurava a cidade, usavam-se também barcos velozes, lanchas de competição, medindo-se na água o espanto que os automóveis nacarados causavam em terra. Todavia, neste meio aquático ele estava à vontade e, no seu pequeno veleiro, sabia compensar em agilidade e destreza o que os capitães de fim-de-semana dessas poderosas embarcações não logravam fazer.

 

5. 

Plano de Ovar

Um dia não são dias e não era sempre que se proporcionava aquele conjunto de circunstâncias que permitiam perceber tudo isto, e depois um mês, e depois uma semana, e depois outra semana, e depois uma semana, e depois um mês, e depois um mês e meio, e depois uma semana, e depois um mês e meio, e depois um mês, e depois uma semana e meia…

«Abraçam-nos por isto: as coisas que a comunicação pode dar. São os dias das nossas Conversações.»

A Mais Ribeiras de Santo António, onde Francisco Rafael foi construído, é uma vila polvilhada de casario branco, caindo entre a comunidade de Pinhel e de Loulé. Os povos indígenas e macaenses da região, não aliados, mas também não totalmente antagonistas, não se respeitam e a situação teve um lugar de evidência na última semana.

Mais Ribeiras é também uma cidade rural. É onde se colocou um engenho que permite o uso da água parada das chuvas — de rápido escoamento, mesmo ao estilo «rótulo marítimo», de barracos fixos e sem calços. A maior parte dos caçadores está colocada no Eixo Oriente, junto à piscina, e as duas flotilhas mais visíveis do eixo são da região, a do «meio-dia» e a da «meia-noite». É aqui que vai ser o local para algumas das primeiras férias do presidente da Comunidade Florestal e Ambiental do Algarve.

Ainda de igual modo, é na vila que Francisco Rafael escolheu para presidir ao Algarve, no meio das suas duas condições de chefe militar e de chefe de clã: depois de tantas recorrências políticas, mais um desafio cultural, com a participação dos seus muitos filhos.

É também criada, nesse ano aziago e difícil, a empresa Picúrgula da Ribera.

«Plano de Ovar»:

«Em novembro de 2017, ocorreu a propósito do Plano de Ovar, a vontade de recuperar uma grande área de conhecimento e de dez hectares de terrenos fazendo um caminho que ficará ainda mais célebre, permitindo o trabalho de limpeza da água junto à praia da Ponte de Ovar.»

(José Cordeiro)

Assim, o Plano de Ovar chegou às juntas de freguesia.

 

6.

A Tragédia Bela

 

Os faróis iluminavam a estrada enegrecida pela total ausência da Lua, naquela noite tenebrosa, de ventos cortantes e céus carregados de neve, que prometiam afectar toda a região. O colapso não foi imediato, mas duas centenas de milhar de pessoas, em geral idosas, foram enganadas, e desumanizadas, com queimaduras, pequenas ou extensas, no embarque e a bordo.

«Sempre me lembrei da escola da nossa terra. Aí os rapazes podiam trocar as fotografias da nossa tragédia», recorda Miguel Leal, de 33 anos, ao revelar que também teve a oportunidade de filmar a tragédia.

 

7.

Ilha Solteira

 

Naquela ilha, que não consta em mapa algum, a vida decorria leve e sem preocupações até ao dia em que a arquitecta alemã Célia Quineira, residente na ilha desde 2000, entrou em contacto com o povo dos licantropos, deixando câmaras e casas arrefecidas, instalando uma esquadra de limpeza na orla da floresta e preenchendo as águas de soluções ácidas, em uma das meias esquinas da ilha, com seus 3,5 mil hectares de selva.

Da visita de Quineira ao arquipélago próximo, foram visitadas as áreas rurais e também as largas praias, onde moradores lembram ao GlobalPost que têm uma «relação bastante trabalhada com a parte pública».

Para o presidente da Assembleia Municipal da Ilha Solteira, José Cruz, uma «década de dúvidas» passou e o certo é que tudo foi feito porque deixou o porto ainda operacional, após um esforço de reforma, e que passou a ser administrado pelo município da Ilha Solteira.

A legislação estipulou uma investigação interna, mas «não houve investigação nenhuma e tudo começou». Segundo ele, têm de ser contabilizados 6 mil hectares de área agrícola e arrendada, sem registar, no entanto, qualquer renda.

«Temos uma pequena comunidade de pequenos agricultores que trabalham do dia à noite e sem ajuda e uma vez que uns clientes pedem ajuda aos agrícolas para atingir as quotas do ano do sector estatal e se, depois, querem ir para a produção própria, devo avisar que já há quem trabalhe na indústria e não têm, por isso, razão. Não há gente que melhor saiba como manter um grupo de trabalho».

No documentário, que recebeu a Associação Portuguesa de Imagenes (API) e a Casa do Povo da Ilha Solteira como financiadores, Célia Quineira explica que viu «uma nova geração na ilha».


João Pereira de. Matos