A.M. GALOPIM DE CARVALHO
Prof. jubilado Fac.Ciências Univ. Lisboa
Para vergonha dos governantes de todo o mundo, rendidos ao poder da alta finança, os adolescentes de todo o mundo lutam, unidos, em defesa do seu futuro.
Quem estudou ou estuda geologia, ainda que a nível básico, sabe que, ao longo dos milhões de anos da história da Terra, houve várias crises planetárias de naturezas diversas (megaimpactos meteoríticos, intenso vulcanismo, variações do clima e do nível do mar e outras que ignoramos) de que resultaram extinções, à escala do planeta, de grande número de espécies, uma das quais, a mais divulgada, há cerca de 65 milhões de anos, pôs fim a cerca de dois terços das espécies de então, entre as quais os dinossáurios. Sabe também que, a seguir a essas crises, novas espécies surgiram adaptadas às novas condições ambientais.
O Homem, feito dos mesmos átomos de que são feitas as estrelas, os minerais, as plantas, os outros animais e tudo o mais que existe, é matéria que adquiriu complexidade tal que se assumiu com capacidade de se interrogar, de se explicar e de intervir no seu próprio curso e no do ambiente onde foi “fabricado”. Ele é um estado que julgamos ser o mais avançado da combinação dessa mesma matéria, capaz de pensar e fazer aquilo a que chamamos Ciência, isto é, observar, descrever, relacionar, explicar, induzir, prever. O Homem, na sua possibilidade de adquirir conhecimento e de o transmitir, de criar religiões e as mais diversas formas de arte, é a manifestação mais elaborada da realidade física do mundo que conhecemos, na qual foi consumida a totalidade do tempo do universo, estimado em cerca de 3 800 milhões de anos. Assim, a Ciência, através do Homem, pode ser entendida também como expoente máximo da matéria que se questiona a si própria. Pode dizer-se que a Natureza “pensa” através do cérebro humano e, com igual razão, pode aceitar-se que o Homem deu voz à Natureza. Tais capacidades colocam-nos a nós, humanos, numa posição de grande vantagem entre os nossos pares no todo natural. Mas teremos nós o direito de gerir a Natureza apenas em nosso proveito, agredindo-a como tem sido regra, sobretudo a partir da Revolução Industrial, no séc. XIX, com intensidade exponencialmente crescente e alarmante nos dias de hoje?
A Terra, no quadro em que se nos apresenta nos dias que estamos a viver, é o resultado de um sem número de agressões sofridas ao longo da sua velhíssima história, a que se junta a que, todos os dias em vão, tem vindo a ser denunciada pelos cientistas. A Terra, sabemos hoje, é um corpo que se autorregula e, como tal, sempre soube encontrar resposta a todas essas agressões e vai, sem dúvida, continuar a fazê-lo. Os danos que lhe estamos a causar, no mau uso que dela fazemos, é mudar-lhe as condições que nos são favoráveis e que bem conhecemos, dando origem a outras, já previstas pela ciência, que nos serão adversas. Assim, ao atentarmos contra a Natureza, estamos, certamente, a atentar também contra nós contra a humanidade, contra, já, aos milhões de crianças que, como a pequena sueca Greta Thunberg, desfilam em milhares de cidades do mundo, a lembrarem que não há planeta B. Acaso deixou de existir mundo natural aquando das grandes extinções em massa?
Numa ânsia desenfreada de lucro e de prazer, a civilização industrial incontrolada está a caminho de nova extinção em massa (todos os dias somos alertados sobre espécies extintas e em via de extinção) que, certamente, nos vitimará também. Porém, o planeta – e os geólogos têm consciência disso – irá prosseguir, mesmo sem a inteligência do Homem, e acabará por encontrar novos caminhos, em obediência apenas às leis da física, incluindo as do acaso, podendo voltar a ensaiar um outro ser inteligente ou, até, mais inteligente do que esta versão moderna, egoísta e estúpida do Homo sapiens, que somos nós. Para tal só necessita de tempo, de muito tempo, e isso não lhe irá faltar, uma vez que estimamos em mais cinco a seis mil milhões de anos a sua existência como planeta, até que o Sol, na sua evolução como estrela, nos envolva num imenso brasido.