Mosteiro fechado da batalha

 

MANUEL SANTOS


mosteiro fechado da batalha. da pandemia por causa.

interroguei fora da abóbada perfeita que caiu não sandes a trincar

que aviara. ainda bem, seria um faminto soldado pois tudo closed.

o condestável mirei e o cavalo garbosos mais senti os súbditos

nas máscaras escondidos. preces népias para afugentar

o inimigo, sequer o sacerdote no responso castigados sereis

se a pecar continueis. e soube-me a cousa nenhuma o pão

com ovos e cogumelos e ganas me vieram do pesado portão

arrombar. mas não vá tecê-las o diabo em seco engoli.

temível terrível batalha de que não se sabe nada quase

do inimigo e tudo trocado nos desaparece.


caleidoscópio de emoções. Aveiro em papel salgado de adriano miranda

que a Elisabete me ofereceu pelo aniversário num ano estranho.

quatro estações de vivaldi, concerto koln. concerto das folhas dos choupos,

janela aberta na noite. whisky william lawson’s, doze anos, numa chávena

fernando pessoa, ode marítima, sozinho no cais deserto. eixo, santa joana,

são jacinto, glória, vera cruz, eirol, requeixo, esgueira, tempo em sal de prata.

num ano em dois mil e vinte quatro estações não se sabe quantas

quantas folhas de prata quantas folhas de choupo quantas

whisky Aveiro pessoa Elisabete janela koln noite cais adriano sal

sal


na noite nem grilo galo ou cão falam de pandemia

o sussurro do mocho parece de amor à coruja

as estrelas pressentem chegar a estrela do dia

 

 

surpreende-te então com as piruetas dos pássaros

e mesmo que te não deites no areal

mergulhar podes no azul escancarado a teus olhos

 

 

(se até o ministro primeiro sentencia desconfina

e prazenteiro penetra nas lojas que encerrara

porque te excluis do que nunca te esteve proibido ?)

 

semaforeiro do vermelho amarelo verde

não te vão roubar as cores que

continuam a pintar as aves

 


DÉCIMO ENCONTRO TRIPLOV