DOMINGOS VANDELLI
Monstro duplo (1776)

Vandelli, primeiro professor de História Natural e Química em Portugal, na Faculdade de Filosofia Natural (Coimbra), ocupou-se de matérias muito variadas (veja a sua bibliografia, em Biblos-Alexandria), entre elas a anatomia. Em Dissertatio de Monstris (1776) descreve vários casos que lhe chegaram às mãos, entre eles um de siameses humanos, e o de animal com duas cabeças representados nas imagens. Nesta época, considera a ciência que a teratologia ainda não tinha bases científicas, pois elas só viriam a ser fundadas no século seguinte por I.G. Saint-Hilaire. Porém, nós não vemos diferença científica significativa entre o discurso e a iconografia de Vandelli e a de teratologistas do século XX. A diferença, se existe, vem do facto de no texto de Vandelli não transparecer nenhum vector ideológico passível de nos causar perturbação, o que está longe de acontecer com Lombroso, autor dos mais equívocos que encontrámos.



CESARE LOMBROSO
Microcefalia (1885)

Cesare Lombroso, nascido em Veneza em 1836, é um célebre médico legista, psiquiatra e criminalogista italiano, autor da famosa obra "Uomo delinquente" (1876). O que lhe deu a maior notoriedade foram as suas concepções sobre o criminoso nato e o homem de génio. Entendia que o génio é um caso de psicose degenerativa, o que situava os grandes homens no âmbito da patologia mental. Esta teoria foi muito combatida, porém a que diz respeito ao criminoso foi bem aceite. Lombroso admitia, sob a influência das teses darwinistas, vários tipos de criminosos, incluídos os criminalóides ou pseudo-criminosos. O criminoso-nato era para ele um ser humano predestinado à prática do crime sob o impulso de uma forma congénita de epilepsia. Fundador da Antropologia Criminal, apesar de as suas teorias se basearem em casos sem valor estatístico, o que levou à profunda reformulação desta ciência.

Em Casi di microcephalia da influenza psichica nella gravidanza (1885), Lombroso atribui a perturbações psíquicas da grávida o facto de dar à luz crianças anormais.

Em baixo: Rastaldi Orsola, de Livorno, tinha 7 anos de idade. Era alta (93 cm), com testa baixa (0,30 cm). Lombroso estima que a sua capacidade craniana fosse de 940. A mãe era uma bela jovem de 20 anos. A criança era anormal, diz Lombroso, porque nos primeiros meses da concepção a mãe sonhara com um macaco que a mordia, sonho cuja lembrança permaneceu muito tempo.