FRANCISCO PROENÇA DE GARCIA
Os movimentos independentistas,
o Islão e o Poder Português (Guiné 1963-1974)

Capítulo II - Os movimentos independentistas
Na ÁFRICA NEGRA E EM ESPECIAL NA GUINÉ PORTUGUESA

3.1.1. - O Movimento de Libertação da Guiné

No ano de 1956, a grande actividade política desenvolvida pelo RDA (Rassemblemant Démocratique Africain), no norte da Guiné-Conacry, teve repercussões nas regiões de Cacine, Bedanda e Catió, sendo, a partir desta data, que um grupo de indivíduos tentou instalar, clandestinamente, na Província Portuguesa, uma associação dita nacionalista a que deu o nome de MLG. Este partido, que entronca a sua origem na efémera Liga Guineense de 1911, terá sido fundado em 1958 (1). Possuía a sua sede em Dakar e filiais em Conacry e Bissau (clandestina, claro está).

As primeiras actividades deste partido limitaram-se ao aliciamento de elementos da população mais evoluídos, à difusão de panfletos, comunicados e manifestos. Foi a secção de Dakar que desenvolveu mais actividades, insinuando-se que os incidentes ocorridos a 3 de Agosto de 1959, no cais de Pidjiguiti, e reprimidos pelas forças da ordem, foram por si provocados. Estes acontecimentos são carcaterizados como um “massacre”(2), uma vez que a actuação das autoridades provocou a morte de 50 estivadores do porto de Bissau, em greve por constetação dos baixos salários auferidos. Aqui surge a dúvida da nossa parte, dado que também o PAIGC reivindica a responsabilidade deste incidente (3).

A seu cargo estiveram, em Julho de 1961, os primeiros ataques - actos considerados pelas autoridades como terrorismo - desencadeados em S. Domingos e, uns dias depois, em Susana e Varela, a noroeste do território, junto à fronteira senegalesa. Estes ataques terão sido lançados com alguma precipitação e talvez com o intuito de ganhar algum avanço sobre o PAIGC que, a sul, desenvolvia já uma intensa, eficiente e silenciosa actividade de aliciamento.

De início, o MLG, encarava politicamente, a ideia de uma federação, passando a Guiné a constituir um estado federal da República Portuguesa. Esta ideia de federação desfez-se e o MLG passou a exigir a independência total da Guiné (4). Era um movimento exclusivamente guineense, constituído, nomeadamente, por elementos de etnia manjaca. Colocava em pé de igualdade tanto os portugueses de raça branca como os cabo-verdeanos, votando a estes últimos um ódio efectivo, tendo por várias vezes atacado Amílcar Cabral e outros elementos do PAIGC. Embora concordasse ser necessária a união entre o MLG e o PAIGC, combatia a ideia de federação entre a Guiné e Cabo Verde.

A nível internacional, desenvolveu uma actividade de relevo, como o enviar de uma exposição à IV comissão da ONU, efectuando o seguinte pedido:

“(...)

1. Que a Portugal fosse aplicada a resolução 1514 da Assembleia Geral das Nações Unidas;

2. Que Portugal fosse obrigado a conceder a autonomia ao território africano da Guiné, no mais curto espaço de tempo, com o fim de o seu povo se preparar para a autodeterminação;

3. Que fossem soltos todos os presos políticos guineenses, detidos na Guiné, e repatriados todos os que tivessem sido levados para fora da Província;

4. Que as forças de ocupação retirassem, imediatamente, para a Metrópole (...)” (5).

Apesar de em toda a primeira metade do ano de 1963, o MLG de Dakar, chefiado por François Mendy, ter efectuado algumas incursões na antiga Província Portuguesa, os seus dirigentes, em finais de Outubro de 1964, reunidos em Ziguinchor, concordaram em dissolver o movimento, uma vez que não tinham apoio, nem interno, nem externo. A Administração Portuguesa reagia pela repressão e o PAIGC aliciava os seus militantes.

 

(1) Os membros fundadores deste partido eram: Alfa Camara, César Fernandes, José de Barros e Rafael Barbosa.

(2) Parece-nos oportuna a interrogação: se este estivadores são considerados os primeiros "mártires da Pátria", como se devem designar hoje as mortes de antigos cidadãos portugueses que acreditaram, quer nas autoridades portuguesas quer nas novas autoridades guineenses, e após a independência optaram por ficar no seu “chão” de origem, acabando contudo, perante um pelotão de fuzilamento no Forte da Amura em Bissau?

(3) Comissão para o Estudo das Campanhas de África, “Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 1º volume, Enquadramento Geral”, pág. 117.

(4) Hélio Felgas, “A Guerra na Guiné”, pág. 42, SPEME, Lisboa, 1967.

(5) Idem, pág. 46.

 
 

 




 



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