FRANCISCO PROENÇA DE GARCIA
Os movimentos independentistas,
o Islão e o Poder Português (Guiné 1963-1974)

Capítulo II - Os movimentos independentistas
Na ÁFRICA NEGRA E EM ESPECIAL NA GUINÉ PORTUGUESA

3.1.2. - A Frente de Libertação e Independência Nacional da Guiné

Em Dezembro de 1963, os elementos da UNGP, após Salazar ter confirmado e esclarecido a política ultramarina, resolveram, em assembleia, dissolver o movimento, tendo os seus adeptos ingressado na FLING e ficando o dirigente da UNGP, Benjamim Pinto Bull, como secretário de informação daquela Frente. O movimento vai, assim, agrupar como dirigentes a maior parte dos chefes dos partidos dissolvidos.

Esta união de chefias, em regra empregados e pequenos funcionários fugidos da Guiné, considerados por Hélio Felgas como “(...) destituídos de competência e maturidade política (...)” (1), com formação muito diferente, com ambições pessoais, desmedidas e antagónicas e, na maior parte das vezes, imaturas, não conseguiu transmitir ao agrupamento a coesão indispensável à consecução dos objectivos pretendidos, originando, no mínimo, duas facções, a designada FLING ortodoxa e a FLING combatente (2), defendendo a primeira a evolução pacífica do estatuto da Província e a segunda o recurso à acção armada.

A FLING parecia condenada, pois restringia cada vez mais a sua acção, perdia terreno e, inclusivamente, o apoio dos governos vizinhos. Este partido parece só ter despertado em 1965, face aos progressos do PAIGC, que estendia já a sua influência política da República da Guiné ao Senegal, ao mesmo tempo que procurava captar a simpatia de adeptos de outros movimentos. Após a segunda conferência da OUA, realizada no Cairo, começou a incrementar as suas actividades, nunca concretizadas em acções combatentes, pois de acordo com as informações disponíveis, nunca foi visto, na Guiné Portuguesa, nenhum grupo armado da FLING. A sua acção limitou-se à publicação de alguns comunicados, à organização de reuniões e participação em algumas conferências internacionais.

Através de um comunicado transmitido pela Rádio Dakar, em 11 de Julho de 1963, a FLING convidou o PAIGC para uma conferência de unidade, ao mesmo tempo que sugeria a criação de um comando militar unificado, com Quartel General em Bamako (Mali) ou noutro país africano (3).

Os esforços de unificação feitos pela OUA, pelos presidentes Senghor e Sékou Touré e mesmo por outros dirigentes foram falhando, até que, em Março de 1965, o Conselho de Ministros da OUA reconhece o PAIGC como o movimento mais apetrechado e melhor estruturado para o desenvolvimento da luta, canalizando para ele toda a ajuda material.

 

(1) Idem, pág. 44.

(2) A FLING ortodoxa surge em Novembro de 1963 por cisão da FLING. O seu presidente era Formoso Gomes, o Secretário-Geral Jonas Mário Fernandes, Benjamim Pinto Bull, era secretário de informação e imprensa, tendo-se afastado em Julho de 1964. A FLING combatente data da mesma época, presidida por François Mendy, Balbino da Costa e Paulo N´Daye. Em 28 de Dezembro de 1965, Mendy é afastado e substituído por B. Bull, que saíra da facção ortodoxa. Uma outra facção pode ser considerada, e que se juntou à vertente ortodoxa em Julho de 1964. Esta era constituída por Henry Labery, Manuel Lopes da Silva, Doudou Seidi e Mamadu Seidi. Em, “Exposição Sobre a Situação de Informações na Província da Guiné”, Secretaria Geral da Defesa Nacional, 2ª Repartição, Reservado, 1970.

(3) Hélio Felgas, ob. cit., pág. 47.

 
 

 




 



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