FRANCISCO PROENÇA DE GARCIA
Os movimentos independentistas,
o Islão e o Poder Português (Guiné 1963-1974)

Capítulo II - Os movimentos independentistas
Na ÁFRICA NEGRA E EM ESPECIAL NA GUINÉ PORTUGUESA

4. - Apoios externos à subversão

A luta pelas periferias de desempate neste Continente, situado na confluência dos interesses das superpotências, foi descrito pela célebre frase do Dr. Salazar: A África “(...) arde porque lhe deitam o fogo de fora (...)” (1).

Após a independência, os países, cujos movimentos independentistas receberam apoio externo - independentemente do sinal da concreta procedência ideológica -, sofreram as consequências já referidas por Maquiavel (2): saírem de uma dependência e caírem numa nova forma de dependência. Neste caso, o neocolonialismo.

Em “Da Guerra”, Clausewitz considerava que os aliados, aqueles “(...) que estão, por essência, interessados na integridade de um país (...)” (3) são o último apoio de quem se defende. Para o caso português, os aliados assumiram o desgaste internacional provocado pelo apoio prestado; mas não esqueçamos que, dentro do contexto da época, a situação que se vivia era a do equilíbrio pelo conflito mútuo assegurado e que os territórios ultramarinos portugueses se situavam na zona de confluência dos poderes políticos das superpotências em competição. Aquelas vieram, assim, a apoiar os movimentos independentistas que se mostraram dispostos, mal a vitória fosse alcançada, a incluírem-se na zona de influência da superpotência apoiante.

Verificámos que a preocupação da URSS pela África se revelou desde muito cedo procurando alcançar, no Continente, uma plataforma indirecta para poder atacar os povos “capitalistas ocidentais”.

Os EUA, que já desde Berlim surgiram como defensores da doutrina da autodeterminação, apoiam os movimentos independentistas através de organizações internacionais como a ONU, nomeadamente no período compreendido entre 1957 e 1961, e, quanto ao caso português, Kennedy dera luz verde à moção da Libéria, colocando-se, em 15 de Março de 1961, ao lado da URSS, RAU e do Ceilão, no Conselho de Segurança (4).

As superpotências não foram as únicas apoiantes de todos os movimentos independentistas; estes contavam, no seio da ONU, com o apoio conjunto dos povos africanos e dos países socialistas e receberam auxílio de diversos governos ocidentais, organizações internacionais e organizações não governamentais. O primeiro propósito dessas organizações era o de apoiar os movimentos independentistas do Ultramar Português, na sua luta contra a soberania portuguesa, fornecendo-lhes auxílio político e material, promovendo reuniões, conferências, encontros, patrocinando a impressão de artigos, publicações periódicas, etc; que, considerado nos mais diferentes aspectos, lhes era indispensável para a manutenção do seu esforço de guerra.

Esta é a questão que pretendemos explorar com algum detalhe, pois permite-nos perceber como se internacionalizou a luta no antigo Ultramar Português, de quem dependia e a quem interessava.

Para o caso específico da Guiné Portuguesa, procurámos provar, com base em alguma documentação classificada, quais os apoios concretos que o PAIGC tinha.

 

(1) Citado por Franco Nogueira, “Salazar - A Resistência (1958/1964)”, pág. 80.

(2) Maquiavel é esclarecedor na seguinte passagem: “Júlio (...) contra Ferrara, recorreu às armas auxiliares (...): este género de armas pode muito bem ser bom e proveitoso em si-mesmo, mas é quase sempre prejudicial àqueles que a ela recorrem; se se perde fica-se vencido, se se ganha fica-se prisioneiro delas (...)”. Em ob. cit., págs. 73 e 74.

(3) Carl Von Clausewitz, ob. cit., pág. 447.

(4) Comissão para o Estudo das Campanhas de África, “Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 1º volume, Enquadramento Geral”, págs. 39, 54 a 57.

 
 

 




 



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