Foram inúmeras as ONG que apoiavam os movimentos independentistas, no antigo Ultramar Português. Sem pretender fazer uma discriminação exaustiva dessas organizações, vamos referir apenas algumas com mais implantação no terreno.
A subversão “larvar” era há muito auxiliada pelas missões protestantes de comandamento norte-americano, pelas seitas cristãs nativas, pela «Ford Foundation», pela AFL-CIO (American Federation of Labor - Congress of Industrial Organizations) e outras instituições de tutela norte-americana.
Na sequência do Concílio Vaticano II, parte do clero católico (em que, anteriormente, se notava a preocupação de desvanecer a associação Igreja/Administração) enveredou, na linha do aggiornamento, pela contestação da posição portuguesa em África. No caso de Moçambique, essa posição assumiu mesmo um carácter de apoio logístico e em informações à acção armada da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), nomeadamente por parte de sacerdotes isolados e congregações religiosas, estrangeiras.
O Conselho Mundial das Igrejas, que teve a sua origem em Agosto de 1948, no “National Council of Churches of Christ” dos EUA, possuía uma forte influência comunista (1). Desde Setembro de 1970 que anunciou, publicamente, a sua intenção de auxiliar financeiramente, mas com fins humanitários, os movimentos independentistas de África; entre 1970-71 financiou o PAIGC em 45.000 dólares (2). Em Novembro de 1971, dirigiu um apelo aos seus membros, no sentido de angariar 340 mil dólares, destinados ao MPLA, FRELIMO e PAIGC (3) e, em carta datada de 3 de Janeiro de 1973, dirigida ao Presidente da Comissão Especial da ONU para o “Apartheid”, informou que pela terceira vez concedera donativos a movimentos representativos dos povos oprimidos das diferentes partes do Mundo, dos quais 25.000 dólares para o PAIGC (4).
Em Inglaterra, o Partido Trabalhista enviou, em Dezembro de 1971, cerca de 1300 libras aos movimentos independentistas que actuavam no antigo Ultramar Português (5), sendo esta actuação criticada pelos conservadores e comparada a um hipotético apoio ao IRA. Neste país, actuavam várias organizações anti-portuguesas que, directa ou interpostamente, apoiavam os movimentos independentistas, como a “Movement For Colonial Freedom”, a “International Defense and Air Fund” e o “Comité de Moçambique, Angola e Guiné-Bissau”.
No dia 1 de Maio de 1972 foi realizada, na Holanda, pela “Fundação Evert Vemer” (6), uma campanha para a recolha de fundos destinados aos movimentos independentistas africanos. Mas, neste país, aliado de Portugal na NATO, existiam também outras organizações apoiantes dos referidos movimentos, como: Fundação Eduardo Mondlane, Grupo de Acção para a África Austral e o Comité de Angola. Este último desenvolveu acções para boicotar a importação de café proveniente de Angola.
Vimos já que se realizou em Roma, no ano de 1970, a Conferência Internacional de Apoio aos Povos das Colónias Portuguesas, mas o “Movimento Liberazione e Sviluppo” organizou também um convénio em Milão, de 8 a 9 de Abril de 1972. Nele participaram representantes dos diversos movimentos independentistas, tendo sido decidido coordenar os movimentos de guerrilha, a nível internacional, e também o reconhecimento oficial dos representantes daqueles movimentos. Mas ainda outras ONG, como o “Movimento per il Terzo Mondo”, apoiavam os movimentos independentistas das antigas Províncias Ultramarinas Portuguesas (7).
Em síntese: as guerrilhas, invocando os nacionalismos, são, na grande maioria dos casos, um fenómeno internacionalista. Assim, “A crítica das Armas” considera a guerrilha como sendo: “(...) importada de fora para as massas (da cidade, na região montanhosa escolhida), como a consciência de classe é importada de fora pelos intelectuais burgueses, portadores da doutrina científica do socialismo, no seio do movimento operário (...)”(8).
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(1) “A Brief Review of Comunist Manipulation of the World Council of Churches”, Background Brief, 29 de Setembro de 1972, Secret. O documento esclarece com precisão como elementos da “Communist Youth League” eram treinados e, posteriormente, infiltrados em organizações como o Conselho Mundial das Igrejas.
(2) Ministério dos Negócios Estrangeiros, Direcção Geral dos Negócios Políticos, Proc. 905, 22 de Novembro de 1972.
(3) Serviços de Coordenação e Centralização de Informações de Angola, Relatório de Situação 541, Secreto, Agosto de 1972.
(4) Ministério do Ultramar, Gabinete dos Negócios Políticos, Resenha nº. 30 de 1973.
(5) Secretaria Geral da Defesa Nacional, 2ª Repartição, Recortes de Notícias, Extraída de Reuter, 21 de Dezembro de 1971. Sobre este acontecimento, Judith Hart, presidente do Fundo de Solidariedade com o Sul da África do Partido Trabalhista, afirmou que o dinheiro se destinava a medicamentos, educação e cultura, mas que os beneficiários teriam toda a liberdade de o utilizarem para comprar armas, se assim o desejassem.
(6) Secretaria Geral da Defesa Nacional, 2ª Repartição, Recortes de Notícias, Extraída de Reuter, 24 de Março de 1972. O presidente da Fundação, o Deputado Trabalhista Holandês K. Wierenga, afirmou em conferência de imprensa que em certos casos o dinheiro poderá ser utilizado para comprar armas, embora isso não fosse do agrado da Fundação.
(7) Ministério dos Negócios Estrangeiros, Direcção Geral dos Negócios Políticos, Proc. 908, 11 de Maio de 1972.
(8) Régis Debray, “A Crítica das Armas”, pág. 211. De igual forma, no antigo Ultramar Português, a doutrina foi importada por alguns líderes, que fomentaram nos territórios a guerra revolucionária, pois, também aqui, os camponeses eram incapazes, sozinhos, sem orientação, de “passar da rebelião larvar ou do descontentamento latente à utilização consciente e dirigida da violência revolucionária”.
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