Meu Dostoiévski

 

 

 

 

 

 

ADELTO GONÇALVES


Adelto Gonçalves, jornalista, é mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana e doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Fernando Pessoa: a Voz de Deus (Santos, Editora da Unisanta, 1997); Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Editorial Caminho, 2003; São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – Imesp, 2021), Tomás Antônio Gonzaga (Imesp/Academia Brasileira de Letras, 2012),  Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imesp, 2015), Os Vira-latas da Madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981; Taubaté-SP, Letra Selvagem, 2015) e O Reino a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo – 1788-1797 (Imesp, 2019), entre outros.


“Meu Dostoiévski: Os Minutos Finais”,
 obra que vai além da biografia (*)

 

Esta é uma biografia que vai muito além dos estreitos limites do gênero. Em suas páginas, constata-se que é resultado de uma admiração que já passou de meio século por Fiodor Mikháilovitch Dostoiévski (1821-1881), o romancista e contista russo que, hoje, ombreia com grandes autores universais, como Dante Alighieri (1265-1321) e Miguel de Cervantes (1547-1616), ou outros gigantes da literatura russa, como Nicolai Gogol (1809-1852) e Alexandre Pushkin (1799-1837), ou o nosso Machado de Assis (1839-1908).

Talvez impedido por muitos obstáculos – que incluiria a distância dos arquivos russos –, em vez de construir uma extensa biografia semelhante à que o norte-americano Joseph Frank (1918-2013) fez, que resultou em quatro volumes e mais de três mil páginas, o autor desta obra, o romancista, contista e cronista Edson Amâncio (1948), preferiu, em muitos momentos, recorrer à ficção para tentar traçar alguns ângulos da personalidade de Dostoiévski e daqueles que conviveram com ele, além de documentar o percurso de sua paixão literária, que teve início em 1962 quando se deparou na biblioteca pública de sua cidade natal, Sacramento, no interior de Minas Gerais, com Recordação da Casa dos Mortos, obra basilar do currículo dostoievskiano.

Essa admiração pelo escritor russo aumentou quando o autor, já então estudante de Medicina, passou a ouvir os professores de neurologia citarem Dostoiévski, que sofria de epilepsia e que, por isso mesmo, criou vários personagens que padeciam do mesmo mal, cujo exemplo mais significativo é o príncipe Michkin, do romance O idiota (1869). Depois, já formado, conheceu uma biografia de Dostoiévski e, desde então, nunca deixou de ler os livros do autor russo e ensaios, artigos e outras obras que se referiam a ele.

Desde então, sempre que pôde, não deixou de tentar reconstituir o périplo de Dostoiévski pelo mundo, procurando rastros do autor em Paris, Londres, Basel, Dresden, Genebra, Vevey, Florença, Milão, Moscou, São Petersburgo e outros lugares. Viagens que incluíram não só uma visita ao túmulo de Dostoiévski como um encontro com um tataraneto do escritor no Museu Literário-Memorial F. M. Dostoiévski, em São Petersburgo, dia em que, a caminho daquele local, sofreu um acidente no metrô que quase lhe custou a perda da perna direita, que ficara presa entre o vagão e a plataforma, depois de uma queda provocada por um atropelo de uma multidão de usuários. Desse tataraneto de Dostoiévski, Dmitri, o biógrafo-itinerante receberia algumas cópias da correspondência inédita que o escritor trocara com o poeta Apollon Máikov (1821-1897), seu fiel amigo.

II