EDUARDO AROSO
Eduardo Aroso (1952, Portugal, Coimbra). Professor de Educação Musical e compositor. Foi regente do Coro de Professores de Coimbra, co-fundador da Academia Monteverdi, da Tertúlia do Fado de Coimbra e do Gresfoz.
Algumas publicações: A Poesia vai à Escola, Poemas do Arquétipo, O Olhar da Serra, Habitante Sensível, A Quinta Nau e A Guitarra Portuguesa (ensaio). Incluído em: Antologia Ibero-Americana de Homenagem a Rosalía de Castro, Bienal de Poesia de Madrid, Álamo. Co-subscritor para a Fundação da Academia Ibero-Americana de Letras (Madrid); 1987. Na esfera do pensamento português: Teoremas de Filosofa (Porto). Conviveu com Agostinho da Silva e António Telmo.
I
O verbo é já espaço,
Mas a sua emanação continuada
É que cria o lugar.
Vivemos entre a sístole e a diástole.
Para gritar que chegámos
Ou balbuciar: até um dia…
Todos os fados menores
São noites mal dormidas,
Acordar é a sensação de um sonho maior.
A noite é a placenta do dia,
Mas quando o sol atinge o zénite
Morre o grito de emancipação.
Muito ansiar o poder
Sem a vera prova de ser
Faz da cadeira asas de Ícaro.
Atrás de cortinas incertas
E holofotes intermitentes,
Quem preside sempre incide.
Antes de qualquer façanha
A ousadia de cavalgar dentro
Batendo montes e vales.
Sabei que os desígnios da alegria
Vivem nas pétalas abertas
Da anatomia matinal do rosto.
O paradoxo resolve-se melhor
Dando atenção ao imprevisto.
Tranquiliza-me a impertinência do anjo.
Eduardo Aroso
Agosto 2018