A PAISAGEM DAS LUZES EM PORTUGAL (fim)
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Parque de Worlitz : Lago
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Real Quinta de Queluz: Lago Grande
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Sem dúvida que estas composições pretensamente naturalizadas, e assumidamente artificiosas, se destacaram pelos objectivos filosóficos e políticos que presidiam à sua concepção, e não pelo rigor de um conhecimento arqueológico e arquitectónico, cuja sistematização remontava a primórdios da renascença. Este movimento renovador que alterou profundamente a percepção da paisagem, caracterizou-se não só pelas inúmeras composições de inspiração clássica, mas também pelas criações pitorescas em torno de magníficas ruínas medievais como Fountains Abbey (11).
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Ruínas da Abadia Cisterciense de de Fountains (Inglaterra)
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A progressiva redução da expressão contestatária e da iconografia hermética destas composições, poder-se-á justificar pelo cumprimento de objectivos sociais e políticos nos finais do Século das Luzes. Gradualmente, sublimaram-se sentimentos, relevando-se a vertente nostálgica e exótica de cenários, como contributo para a formalização da paisagem romântica.
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(4) Todas as culturas ocidentais consagram à simbólica da “Viagem” alguns dos seus mais relevantes mitos, de entre os quais permaneceu como arquétipo do mundo ocidental o retorno de Ulisses a Ítaca, que representa algo mais que uma narração das aventuras do herói. Alguns dos rituais maçónicos dão grande importância às viagens míticas reproduzidas em cerimónias de iniciação e nas de exaltação ou elevação de grau - Neste processo tem-se em conta a profunda vinculação do processo iniciático com a ideia de evolução humana e a inquietude da descoberta que move o iniciado em busca da Luz. A viagem iniciática reproduz a passagem pelo Mundo e nela se destaca a singularidade da Viagem Individual em que a descoberta do Mundo Exterior é acompanhada pelo reconhecimento da intimidade, mediante recurso a itinerários sequênciais (HURTADO, 1994, P.181-183).
(5) Na obra Hypnerotomaquia ou Discurso do Sonho de Polifilo de Francesco Colonna, publicada em 1499, o labirinto é a primeira prova do percurso iniciático que orienta a concepção do jardim. A passagem por um labirinto poderá estar relacionada com a ideia de viagem através da vida em que, mediante decisão e acção conscientes, o homem pode orientar-se-á até uma meta existente, ainda que invisível. Nesta perspectiva permanece a base da peregrinação como correspondência simbólica entre a vida exterior e interior, ou a vida física e a vida espiritual do Homem.
(6) Alusões às dificuldades existenciais. Linhas divisórias entre a Vida e a Morte. Referencias iniciáticas relacionadas com o acesso gradual a mistérios (HURTADO, 1994, P.137).
(7) Alusões à travessia do Estíge - Rio dos mortos. Morte e Ressureição.
(8) A tradição iniciática refere os 4 elementos físicos como expressões da energia universal: Terra, Ar, Água e Fogo correspondentes aos planos humanos do corpo, mente alma e espírito; a ritualização atende ao contacto do neófito com o interior da Terra (reflexão e análise da sua natureza intima), renascimento e acesso ao Ar renovador (mente e razão), purificação pela Água (sentimento e intuição) caminho para o Fogo como meta espiritual (Conhecimento do Ser, que se sobrepõe à simples razão e ao sentimento vital) (HURTADO, 1994, P.181-182). Estas estruturas manifestar-se-iam adequadas à contextualização destas práticas, que decorreriam em espaços identificados como Gabinetes de Reflexão.
(9) Relembre-se no último movimento da Flauta Mágica as divindades egípcias associadas ao mistério da Morte e Ressureição:
"Salve sagradas criaturas que se impõem através da noite!
Agradecimentos a vós, Osiris e Isis, sejam apresentados!
A força venceu, e como recompensa
Apresenta a eterna coroa à beleza e à sabedoria."
(10) Provável referência ao secretismo maçónico.
(11) Abadia cistercience cuja origem remonta ao século XII, localizada no fundo de um pitoresco vale, no Norte de Inglaterra - Yorkshire. As ruínas desta abadia forma integradas por William Aislabie na composição paisagista de Studley Royal concebida por seu pai na primeira metade do séc. XVIII.