Maria Estela Guedes

 

FLORIANO MARTINS


120 noites de Eros, de Floriano Martins, traz por subtítulo “Mulheres surrealistas”. Com sua autorização, publicamos as introduções, dele e de Jacob Klintowitz, que esclarecem a importância e as circunstâncias culturais desta coletânea, bem como os textos referentes às mulheres portuguesas selecionadas: Isabel Meyrelles, Luiza Neto Jorge e Maria Estela Guedes.


MARIA ESTELA GUEDES 1947 Portugal

 

Poeta, dramaturga, ensaísta e editora, o Surrealismo sempre ocupou um lugar central na vida de Maria Estela Guedes. Porém o mesmo jamais foi aceito por ela como algo doutrinário ou cristalizante. Desde seus primeiros poemas, suas peças de teatro, até a criação deste imenso projeto editorial de circulação virtual que é o TriploV – título que ela acatou, por sugestão de Ernesto de Sousa, sem me ocorrer que era surrealista –, esteve sempre ciente, no entanto, que nem todas as melhores raízes garantem bons frutos, sendo imperativo manter acesa uma dinâmica vital de interação com todos os mecanismos possíveis. Crítica do movimento, sobretudo daquele entendimento de que só é surrealista aquele que for nomeado como tal por Breton – desta forma, naturalmente, desde 1966 que não haveria mais Surrealismo no mundo –, Meg – fusão das três iniciais de seu nome, opção minha desde que a conheci – se nutre de uma percepção de multiplicidade de linguagens e de planos de leitura da realidade, que vão de encontro a toda ortodoxia. Ela mesma esclarece: um movimento, se o é, não para, por isso não tem princípio nem fim, apenas pontos de referência mais ou menos marcados, que nós mesmos estabelecemos, para guias de uma jornada que se compadece pouco com as veleidades objetivas de alguma balança de alta precisão. Em uma conversa que mantivemos como prólogo da reunião editorial de três de suas peças de teatro publicadas no Brasil, Meg nos dá sua melhor compreensão do Surrealismo, ao dizer que ele não pode confundir-se com uma ideologia. Basta o seu estímulo à liberdade para garantir que não ata, não agrilhoa escolasticamente, e que a qualquer momento pode incitar à mudança. Por esse fluxo, podem filhos pródigos voltar a casa, podem aí berçários mostrar ao mundo que do movimento surgem revolutivos nascituros…

 

FLORIANO MARTINS
120 NOITES DE EROS | MULHERES SURREALISTAS
Fortaleza | São Paulo
Editora Cintra & ARC Edições
2020