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MANUELA JARDIM... |
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Manuela Jardim, o próximo projeto TriploV
Por Maria Estela Guedes |
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Manuela Jardim, nascida em Bolama (Guiné-Bissau), tem com a Guiné e
com as ilhas do Atlântico uma relação que em muitos pontos partilho: para
além dos afetos, partilhas de conhecimento, basta mencionar António
Carreira como autor por ambas estudado. Para Manuela Jardim, é o
antropólogo pioneiro no estudo de muitos temas da África tropical, caso da
panaria e da escravatura. Não sei, mas pode ser que o termo "peça", usado
como sinónimo de "escravo", provenha da área semântica da panaria, já que os
panos podiam ser moeda para o escravo comprar a sua carta de alforria ou
para o esclavagista comprar escravos. O pano também se comprava, e ainda
se compra, à peça.
Nos
panos há um mundo de experiências e emoções, desde o tear ao pano d'obra,
o pano com trabalho artístico, até à visão e audição de algo tão
característico na África ocidental, os alfaiates fulas ou mandingas à
porta de casa a costurarem as djilabas nas suas máquinas Singer. Mundo visualmente muito próximo do
egípcio, no porte, no perfil e na elegância, patentes em muitas obras de
Manuela Jardim.
Outro conhecimento comum, em domínios diversos, é o
da urzela, do anil, dos antigos produtos da tinturaria. A urzela está em
vias de desaparecimento, é um líquen, espécie dupla, aliança entre uma
alga e um fungo.
Entre muitos elos de ligação, o mais forte,
entretanto, é o apreço pela sua bela obra, pelo que nela há de antigo e
indígena misturado com o cosmopolita e contemporâneo.
Ontem
visitámos a Manuela Jardim no seu atelier. Ficam por
agora algumas imagens como resultado da perquirição. As palavras virão com
mais tempo, no Triplov vamos falar bastante desta artista nos
próximos meses, pois a sua obra é o nosso atual projeto de trabalho.
30.04.2017 |
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O livro de
António Carreira sobre a panaria na Guiné e em Cabo Verde, base da
investigação para a artista, que na foto de baixo mostra os materiais dos
seus próximos panos, materiais muito pouco macios mas cheios de
informação. |
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"Miragens" é o
título do quadro. Miragens na orla do Nilo, talvez. |
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Símbolos
portugueses do século XVI na panaria tradicional, casados na de Manuela
Jardim. |
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Cores
tradicionais extraídas dos produtos naturais, anil e urzela. |
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A simbologia,
expressa em imagens geométricas, denuncia a presença da cultura islâmica. |
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Gesso e papel
reciclado pela própria artista são outros materiais usados na obra. |
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A cruz de Cristo
é um dos símbolos da panaria antiga. |
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Tintas
contemporâneas |
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Da investigação
científica subjacente à criação artística faz parte a extração de corantes
dos produtos naturais, no caso da urzela. |
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