JONAS PULIDO VALENTE
Hey! Sim! OLHA! TU!
O homem chamava quem o quisesse ouvir.
Tenho aqui um gajo que precisa de assistência médica.
Só a quinta pessoa a quem ele gritou parou. Era uma senhora de meia idade.
Pouco barulho! Vou ligar para a ambulância.
O homem debruçou-se sobre o esfaqueado.
Não te preocupes, vais ficar bem.
O esfaqueado gemeu. O sangue descia-lhe a manga do casaco, já tinha sujado as suas calças, a sua camisa e o chão.
A senhora de meia idade estava bem vestida.
Acalme-se. Ainda planeava chega a Yonkers antes da hora do jantar. Precisamos de fibra nesta cidade, caramba. O que aconteceu?
O homem suspirou.
Este sujeito vinha-me, sabe, safar, mas de repente apareceu uma turba de encasacados, cuspiram-lhe e deram-lhe uma facada.
E o senhor não soube o que fazer?
Não tenho telefone.
Não tem? Pois, é para isto que serve.
Deixei de ter telemóvel desde que vim de Hong Kong.
Um homem juntou-se aos já três curiosos que olhavam uns para os outros, sobre o sangue derramado.
O senhor veio de Hong Kong para Nova Iorque? Nunca pousou no chão.
Engana-se, Nova Iorque esfrega-nos no chão.
O senhor devia ir-se embora. Disse um curisoso. Quando souberem o que fazia com este homem vão levá-lo também.
O homem não fugiu. Seguiu para o outro lado do átrio e sentou-se num banco.
Os curiosos iam e vinham. A senhora ficou com o esfaqueado. Passaram-se dez minutos. Cem pessoas. Vinte Trezentas…
Passados trinta minutos de espera chegaram os paramédicos.
Sim, este homem precisa de ajuda.
Lá o ajudaram a levantar-se e começaram a dirigir-se para a saída. Os curiosos dispersaram.
Veio um polícia, começou a falar com a senhora. Falaram uns bons dois minutos depois a senhora fez um gesto na direcção do banco onde o homem estava sentado.
O senhor sabe desta ocorrência? Perguntou o polícia, o que aconteceuP
O homem esfaqueado é meu amigo, conhecemo-nos no estrangeiro e viemos para Nova Iorque mais ou menos na mesma altura.
Estava a falar com ele quando de repente um hooligan cuspiu-lhe e esfaqueou-o.
Cuspiu-lhe? Perguntou o polícia. Espere um momento.
O polícia saiu da estação e foi pedir que na ambulância tirassem amostras da tal cuspidela. Quando voltou o homem
Estava sentado exactamente no mesmo sítio.
Acho estranho, reparou o polícia
O quê?
Você não fugiu, mas também não ficou para dar declarações. Está vivo e morto ao mesmo tempo, se é que se pode dizer
Isto aqui.
Mas o senhor é o polícia filósofo?
Todos nós temos densidade. Vou tirar uma declaração rápida e o senhor pode ir à sua vida.
O homem ficou sentado muito tempo depois do polícia se ir embora. Até chegou a ver a limpeza do sangue.
Ao levantar-se tira um telefone do bolso, liga para um número maior que 911.
Estou? Não queiras falar comigo. Se te meteres com aquele tipo outra vez será ainda pior.
À saída da estação, o homem deita fora uma faca que tinha no casaco, juntamente com um lenço ensanguentado.