SONETO 666 BESTIFICADO - GLAUCO MATTOSO

[a Luiz Roberto Guedes]


De noite o cemitério está deserto.
Ficamos escondidos, de tocaia.
Queremos que, ao luar, a Coisa saia
e possa ser flagrada em campo aberto.

Foi vista várias vezes aqui perto,
mas quem depara, quando não desmaia,
em vez de registrar foge da raia
e a Coisa inda ninguém descreve ao certo.

Não somos tão valentes, mas a aposta
foi só documentar, sem tê-la presa.
De súbito, me volto e ela me arrosta!

Sumiram-me os amigos! Sem defesa,
nem corro dela, e quando a mão me encosta
acordo, o livro aberto, a luz acesa.