Loas e lais a Fernando Pessoa

PAULO BRITO E ABREU


( invoco, para a Musa minha, o Ás de Paus )

I

Eu leio, até ao lai, tua Poesia

Que legaste a nós outros, e ao Graal,

Modernista do Verbo e da estesia,

Maravilha da «Ode Triunfal».

 

Guardador de rebanhos e palavras

Que foram qual abraço e qual o Hermes,

Da Rosa, verde lenho e verdes águas,

De ingénitas, irónicas e lemes,

 

Tu lias, ao crepúsculo, o experto

Cesário sentimento nosso Mestre,

E eu leio, ao lusco-fusco, o «A» de Alberto,

Que é símil ao Pastor e ao silvestre.

 

Se a sêmea foi «Orpheu» numa Lisboa,

O sémen é Infante que apaixona;

Se lúdica é a barca, ó tu, Pessoa,

Ajuda-me a trovar uma «Persona».

 

II

 

Marítimo é o viático ou viagem

Nas Índias duma nave mais etérea,

Que a Musa tem a gema, e, na «Mensagem»,

A mente vai agir sobre a matéria.

 

Em Gólgota glosavas a semente,

Em Crânio cavalgavas esse potro;

A mântica era a meta, e tua mente,

O discurso d’amável e do Outro.

 

Que eu sinto, meu Amigo, o teu exemplo,

Coas tábulas falando o magistério:

Se a forma de Ulisseia é tal e templo,

Descubro, na Palavra, o Quinto Império.

 

III

 

E, se a gema do Mestre é sal e pão,

Se «Opiário», foi alucinogénio,

Não façam, só da «pólis», a prisão,

Não matem, outra vez, o verde Génio.

 


Lisboa, Janeiro de 2004

MENS AGITAT MOLEM

PAULO JORGE BRITO E ABREU