Senhor
o mar
é um soneto antigo
e a poesia
ritmo de poucos
e mais
o mar é mais
quando barco
divaga
quando a quilha
metrifica
(um verso a cada ilha)
vê-se em vossos olhos
de colecionar pedras
que ainda sois vós
a mesma sede
cá na terra sempre triste
mas vos trago versos
versos que encontrei
espalhados pelas ilhas
em garrafas de mensagem
e na taberna vos aguarda
um sarau de náufragos
entre eles
Senhor
vos sentireis à vontade
nem sereis rei
nem sereis destronado
e podereis com eles
partir na Nau dos Insensatos
naveguei
Senhor
naveguei
e navegando aprendi
do mar
o balé de suas águas
(quando a maré vem
é um convite que faz
quando a maré vai)
e navegando aprendi
do mar
que o mar
todo mar
é um naufrágio
(a água tece na pedra
a lápide de seus náufragos)
ao mar
Senhor
ao mar
vossa palavra de rei
só vos servirá de epitáfio
Senhor
sou eu
talvez o mais errante
de todos os navegantes
por não naufragar
em vossas águas
Senhor
me errei
desde a infância
desde da infância
eu me mirei
toda a corte
me queria infante
mas inda aspirante
à errância naveguei
errei de mar
e me errei
pus os soldadinhos
de chumbo
no barco de papel
e com eles
naufraguei nos céus
Senhor
eu me irei
desde a infância
Senhor
me fiz ao mar
inda quando o mar
era mar de inéditas águas
me fiz ao longe
inda quando o longe
era longe de vossas páginas
naveguei
Senhor
e venho das águas de antes
das águas de muito antes
de Aragão e Castela
pra vos dizer dos mares
Senhor
a história baldeou o mar
espalhando velas e sífilis
por tudo que é superfície
e nas tabernas os navegantes
inda por serem navegados
bebem garrafas sem mensagem
com o coração à beira lágrima
Senhor
vossa história baldeou o mar
|