Um dia, apareceu no vilarejo uma moça
grávida. Forçada a dizer quem era o pai do seu filho, espantou a todos
quando garantiu, por juramento, que o pai da criança era o monge que
todos aprenderam a respeitar. Apesar da apreensão e da surpresa, um
grupo de homens da comunidade resolveu falar com o monge, para saber se
de fato era ele o responsável por aquela gravidez.
Ao ouvir toda a história sem dar uma
palavra, olhou para os seus inquisidores e perguntou com simplicidade:
- Foi mesmo?
Abandonou o mosteiro e suas funções,
mudando-se para a periferia da vila. Enquanto durasse a suspeição, ficou
morando sozinho e vivia da sua reza e da sua devoção. Ocupava-se do
trabalho como qualquer morador da vila. Fazia panelas de barro para
sobreviver e as vendia na feira toda semana.
A jovem que acusou o monge pela gravidez
teve seu filho, e tudo parecia correr bem. A criança crescia e cada vez
mais ficava parecida com o padeiro da cidade. Todos acompanhavam aquele
menino com curiosidade. E passava o tempo, e o monge continuava a vida
de fazer potes e rezar.
Um dia, quando a mentira não tinha mais
condições de ser sustentada, a moça resolveu contar o que de fato houve
e confessou o que todos já desconfiavam. O monge não era o pai da
criança, apesar da desconfiança inicial. O pai era mesmo o padeiro.
Reunida à liderança da comunidade, tomaram a
decisão de procurar o monge e foram se desculpar pelo fato de terem
desconfiado dele.
O monge ouviu toda a história, pacientemente
silencioso, e concluiu:
- Foi mesmo?
Voltou para o mosteiro e reassumiu suas
antigas funções.
O Tempo se encarrega de colocar as coisas no
seu devido lugar.