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Sombra de pássaros imóveis (1) |
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Para semear a sombra humana, a Altura Coisas escuras procurando a luz com dedos finos cheios de ervas Imaginem Uma região, lá embaixo, onde o pântano agoniadamente do viver. E por cima dela, imaginem, no alto, umas brisas passando. O ser aí suavemente A região, negra, então, ela fica por baixo, E elas, as brisas, passam, é bem acima de todo o mal. É só aqui que vemos a face De qualquer maneira, tudo isso se movendo em duas correntes, que não se tocam, Imaginaram? E onde é? Em que geografia é, e está instalada essa região assim em duas camadas, Deixem que eu diga o que vocês já fatigados de saber, isso: que Andara é mais geografia interior, feita Ei-la, então: a região. E agora já quase instalada em nós, será bem dentro de nós, Se dando. Mas a ninguém. Literatura E tendo visto esse lugar, mas ainda sem imagens, pois onde estão as descrições: as retas e os círculos, as formas, tendo visto, pois, sem ver, esse lugar, gostariam agora de realmente vê-lo? Eis: e rumores, e vidas que escuramente se agitam, os dorsos lisos, ah, enquanto, pelo exterior de tudo, imenso, solene, vazio, o mundo dorme. O pântano é o coração inferior dessa paisagem. Entendam. Mas nada temam: imaginar o mal. Pois coisas ainda piores virão, e é útil, para Entendem? Como contê-lo? Não contê-lo. Observar. Seu crescimento, e essas águas escuras passam sob nós Se vocês consentem em ter dentro de vocês, enquanto durarem estas palavras, essa coisa Então. Então Qual a melhor posição para vê-lo se formando? Esse lugar, esse pântano em que o Talvez do alto. Talvez se instalando na corrente superior a tudo isso lá embaixo, aos Aí, o que existe? Se erguendo, vem da terra, varando as nuvens, uma grande pedra a imensa, uma por onde passam essas brisas, que quase não existem, e onde quase podemos Daqui então observar a evolução do coração do mal, com menos receio em nossos - diz o homem, Mas quem são eles, esses, assim surgidos de repente para nós? Digamos: eles, esse homem e essa mulher, são os habitantes da grande pedra, se diz Em Andara, vejam vocês, um castelo sobre uma pedra, Fossem anjos, eles. E agora, aqui em cima, estamos ao lado desses dois que se querendo leves E basta. Se voavam esses dois, esse homem e essa mulher, bem baixo, às vezes, roçando as Se voaram uma vez tão baixo, que ela, tocando um daqueles dorsos lisos negros, e se tendo voltado, ao despertar ele se viu sozinho e o lugar dela ao seu lado vazio E se ele, por ela, desceu com asas grandes de desespero para procurar pela perdida E se ali só viu, abandonadas numa das margens das águas escuras, passando, enquanto da lama, enegrecida, a face dela lhe sorria e o convidava a se lançar teria ele se mantido sólido? Na pedra sólida do ser? Ou sórdido, sorvido, teremos que vê-lo desaparecer também nessas águas escuras, Para emergir, depois, ali adiante, Melhor será nos mantermos de pedra. E estender para esse homem, ou se quisesse escada, se diz, do ser para o ser caído. O mais provável, porém, ah Pelo menos, do meio das pedras entre as brisas, ó relva aérea umas serpentes já começam a aflorar. Imaginem. Uma região, onde lá embaixo as águas escuras agoniadamente do viver. E agora, aqui em cima, também essas serpentes Seus círculos que se expandem
Para semear a sombra humana, |
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(1) De 'Ó Serdespanto' , Vicente Franz Cecim (Íman, 2001, Portugal) |
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