Pelas serranias que descem das cordilheiras da serra do Caldeirão, ou do Mu, foram-se desenhando, em contornos irregulares e pitorescos, ao longo dos séculos, as aldeias, os lugares, os morgados, os sítios, as quintas e as pequenas fazendas do concelho da vila de S. Brás de Alportel.
Cada uma dessas idílicas «pinturas» cobertas de casario com a cor transparente e pura da cal, tornou-se o encanto de quem as habitou ou ainda habita. Entre figueiras, sobreiros, alfarrobeiras e buganvílias surgiram agregados familiares sustentados pelos campos e pelos ofícios das corticeiras ou da pedra, do artesanato ou dos mercados.
Inspirado na variedade da paisagem geográfica e humana deste canto algarvio, que nos espanta sempre com agrado, Carlos Manuel Cantas Lopes conseguiu escrever um livro para nos maravilhar ainda mais com toda essa beleza ímpar de Portugal. Chamou-lhe Cantando a Minha Terra - S. Brás de Alportel, Pelos Sítios do Concelho . Trata-se de um esplêndido passeio - documentado com numerosas fotografias, rurais ou urbanas - pelos numerosos povoados em que as famílias se reuniram para alcançarem o trabalho solidário, desfrutando das delícias do aroma do marmeleiro, do sabor dos frutos da romãzeira, do alimentício mel ou do revigorante pólen das abelhas da região.
Recolhendo informações em diversificadas fontes, o autor escreve na Introdução: «sem investigar nem de longe nem de perto todos os detalhes históricos ao pormenor, face aos registos devidamente comprovados através dos tempos, tracei apenas e só o único objectivo (…) de lançar a primeira pedra para a construção de uma obra importante para o concelho de S. Brás de Alportel» (1). Seguindo as pistas de Estanco Louro ou as impressões de Emanuel A. C. Sancho e de José Manuel Repoula, a publicação de C. M. Cantas Lopes alcançou o verdadeiro estatuto de um dos mais sedutores roteiros de viagem pelas terras das serranias do Algarve.
Como salientou Arménio Aleluia Martins no Prefácio ao livro, «Carlos Manuel Cantas Lopes nasceu em S. Brás de Alportel e no seu percurso de vida fortaleceu os conhecimentos que têm servido de base sólida para a missão de jornalista, cumprida com entusiasmo e devoção (…). A sua argúcia jornalística e o sentido mais apurado da sua veia poética permite ver, o que de belo Deus criou e o homem melhorou. O jornalista e o poeta conseguiu juntar as diversas peças do enorme «puzzle» para completar um quadro de beleza sem igual» (2).
Desde a referência ao sanatório de Almargens, considerado durante décadas «o expoente máximo» na luta contra a tuberculose e agora em vias de se tornar num grande Centro de Medicina e Reabilitação Física do Sul do país, até Alportel que dá acesso ao maravilhoso sítio dos Juncais, desde a Barracha com a sua antiga azenha à Cabeça do Velho com os seus xistos, desde os moinhos de vento do Cerro da Mesquita ao Parque das Merendas de Parises, Carlos Manuel Cantas Lopes desoculta recantos verdejantes, riquezas artesanais, velhas fontes, fornos de cal antigos, chaminés tradicionais na linha dos minaretes das mesquitas mouras, terras férteis em água como no lugar de Desbarato ou de Fonte da Murta…
Todo um conjunto de características que tornam o concelho de S. Brás de Alportel um lugar de eleição, se não forem alterados os traçados antigos nem as tradições arquitectónicas e rurais modificadas. Modernizar às vezes significa destruir. É preciso conservar a herança que os nossos antepassados nos deixaram. Mesmo as ruínas podem ser restauradas e transformadas numa lição de História para o futuro. É preciso evitar a «política do deita a baixo para construir novo», pois assim «sai mais barato». É preciso não esquecer que o próprio turismo não vive dessa «política». Cantando a Minha Terra é um aviso de um sambrasense consciente das verdadeiras riquezas dos Sítios do Concelho de S. Brás de Alportel. Que a luta de Carlos Manuel Cantas Lopes seja um incentivo à contínua defesa do rico património da região algarvia!
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(1) Carlos Manuel Cantas Lopes, Cantando a Minha Terra - S.Brás de Alportel, Pelos Sítios do Concelho , Edição Notícias de S. Braz, S. Brás de Alportel, 2006, pág.7.
(2) «Prefácio» in Ob.Cit., pág. 4. |